Domingo, 6 de abril de 2025 - 12h49
Nos meus tempos de faculdade
presencial, nos idos das décadas de 1960/1970, tínhamos, durante o ano letivo,
praticamente 4 meses de férias – para nós, os sertanejos interioranos − era o
tempo do retorno ao rincão de origem, tempo de rever a família, arranjar
namorada, participar dos festejos juninos, de conviver com os amigos, mas nem
tudo era festa. Férias para mim e um restrito grupo de amigos, significavam
estudos extracurriculares, leituras compartilhadas, discussões filosóficas, etc.
O nosso bunker intelectual era a casa de um dos colegas, pertencente à família
Militão, éramos seis, destemidos pensadores, e por isso, sujeitos ao bullying
da sociedade, comprometida com o poder e o ter.
Vivíamos
ao sabor do existencialismo, época dos sovacos ilustrados, com as obras de
Sartre, Simone de Beauvoir e Marcel Proust – Em Busca do Tempo Perdido −
um dos melhores livros que li na juventude − cheio de frases de efeito,
sementes que germinaram durante a caminhada em busca de sentido, de propósito
para a existência: “Os
paraísos perdidos estão somente em nós mesmos.”
O sentido da vida, para nosso
pequeno grupo, era evoluir, melhorar e harmonizar. A nossa angústia existencial
acabava quando trocávamos textos e exercíamos a crítica sincera e honesta, ou
empreendíamos passeios pelas serras do município e preenchíamos o vazio
existencial, ouvindo o eco da própria voz, como resposta do dicionário de
ideias aos nossos questionamentos juvenis, oriundos da leitura constante, numa
época em que não existia celulares nem internet. Eu sou, sou, sou, ou,
ou, ou… Eu faço, aço, aço… Eu vou, ou, ou…
Aprendemos com a reflexão que
o livre arbítrio cristão libertava a divindade, do determinismo inerente – se
é todo poderoso, me criou, e sabe para onde vou. Para onde foi meu livre
arbítrio? Daí abandonamos o criacionismo e enveredamos pelos caminhos e
descaminhos do evolucionismo – no início da vida era apenas uma célula, daí ela
se partiu e deu continuidade a outras em progressão geométrica, até que
surgiram a flora e a fauna, inclusive o homem e sua Odisseia no Espaço,
acompanhando a evolução da linguagem, no seu magnífico cérebro, cheio de
alternativas libertárias.
O tempo da vida difere do
tempo da evolução, por isso muitas respostas foram apagadas pela esponja do
tempo. Hoje a gente tem quase certeza, que o sentido da vida é o sentido
biológico da célula, a multiplicação conforme o devir genético, até que a
finitude humana se dilua em chips do conhecimento e o propósito da existência
seja acondicionado na AI, sob o império da verdade absoluta e infinita do
cosmos. “O Niilismo não afirma que não existe nada, mas que tudo é desprovido
de sentido. Não há um grande propósito no universo. O universo é,
simplesmente. Não há sentido particular na decisão que você tomar hoje com
relação a como agir”. O ser humano se determina a si mesmo.
A busca pelo sentido da vida
já rendeu muitas laudas em inúmeras línguas ao longo do universo, já esmerilhou
milhares de neurônios de pensadores renomados, mas nenhuma palavra do vernáculo
humano foi tão desgastada como liberdade, quer seja em oposição à prisão, quer
seja em termos do comportamento genuinamente humano.
O ser humano tem a liberdade
de mudar a qualquer momento e o faz com respaldo nos guardados do passado, mas
tem consciência que a liberdade individual permanece
essencialmente imprevisível. Simone de Beauvoir dizia que o homem é
livre, mas encontra a lei na sua própria liberdade.
Ultimamente
muito se tem falado em liberdade de expressão, paradoxalmente protegida e
desrespeitada por membros do legislativo e do judiciário, chegando-se ao risco
de corromper a semântica, arbitrariamente, em proveito próprio, esquecendo-se da
íntima relação de liberdade com responsabilidade. Antoine de
Saint Exupéry dizia que Ser homem é
precisamente ser responsável.
O
neuropsiquiatra Viktor Emil Frankl, austríaco e fundador da terceira escola
vienense de psicoterapia, a Logoterapia e Análise Existencial, defendia a ideia
da construção de uma Estátua da Responsabilidade, na costa oeste americana,
como complementação à Estátua da Liberdade, localizado na Costa Leste. O
projeto está em andamento pela família do renomado e falecido escritor. Sem
sombra de dúvidas a liberdade é o
esteio para o reconhecimento da dignidade e da capacidade humana, mas é interativa,
logo, sem a responsabilidade, pode rapidamente enveredar pelo egoísmo e pela
prevaricação.
No Brasil, a simbologia da Estátua
da Responsabilidade, embutindo o Poder Moderador, caberia como uma
luva, no espaço físico/ideológico dos três poderes republicanos, evidentemente
que a responsabilidade nasce da consciência e alimenta-se da moral, o que
justifica uma ação moderadora, para com o bem comum, menos devastadora e mais
construtora, como se uma Espada de Dâmocles pairasse sobre os descaminhos de
qualquer um dos poderes listados na Constituição Federal.
Que tal a Estátua da
Responsabilidade, modernizando a doutrina de Montesquieu, na praça dos três poderes, que, no Brasil,
seriam quatro. Como sugestão, o referido Monumento Moderador poderia simbolizar
uma força maior e independente, escorada nos militares, uma espécie de
Politburo Ocidental, que estaria sempre lembrando aos membros dos outros
poderes: vocês são livres, mas andarão dentro dos meus limites, para não caírem
na tentação dos atos irresponsáveis, que florescem nos jardins da liberdade,
sem o controle da razão e da sensatez, ainda que com o respaldo de alguma lei. Alguns diriam, assim ficaria parecido com a
Coréia do Norte, a China, Putin. Outros afirmariam, isso é o arcabouço de uma
ditatura nazista de direita. Enfim, a Responsabilidade atemoriza
os dois lados do exercício do poder, contudo não pode ser esmagada pelo romantismo
nacionalista, muito menos pelo egocentrismo e vaidade humanos.
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