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Resenha crítica sobre o livro Abra-se para Poesia de Viriato Moura


Resenha crítica sobre o livro Abra-se para Poesia de Viriato Moura - Gente de Opinião

         Para quem acompanha a trajetória de lançamentos de livros com temas/formatos minimalistas, não se surpreende com essa nova investida do escritor Viriato Moura, ao mundo poético/formal das aldravias.

Frasista de escol, autor de livros de haicais, minicontos, micro- contos, pela qualidade dos textos, acreditamos que não foi difícil para o autor retirar mais um livro do emaranhado de palavras denotativas e conotativas que lhe percorrem a verve imaginativa, até chegar ao duplo hemisfério cerebral, onde a palavra recebe, em seu contexto final, um ornato especial das figuras de estilo, antes de chegar ao leitor. Viriato Moura é um mestre desse processo.

Minimalismo,  palavra da moda, começou em meados do século XX, mais precisamente no anos 1960, nos EUA, e se expandiu com a internet, reportando-se a um conjunto de movimentos artístico-culturais, especialmente nas artes visuais, no design e na música, por conta disso adquiriu várias vertentes, mas o fundamental é ter em mente que ser minimalista é simplificar a vida, eliminando os excessos e mantendo apenas o essencial. É o desejo de viver com pouco num mundo absurdamente consumista.

No entanto, o velho ditado em cada cabeça uma sentença se encarregou de variar a forma como o movimento se manifestou e como difere de uma pessoa para outra: as regras do movimento não são rígidas.

 Minimalismo acabou sendo uma ferramenta para todos que estiverem dispostos a se livrarem dos excessos, pela concentração no que é importante para se encontrar a felicidade, realização pessoal etc. A nós, nesta resenha, interessa o minimalismo enquanto preferência estética, visto que o livro em processo de análise literária foca uma das várias veredas do minimalismo.

Vale lembrar que a literatura minimalista é caracterizada pela economia de palavras, textos em que os autores preferem sugerir contextos a ditar significados, dando ao leitor participação ativa na criação, por exemplo, nos mini ou micro- contos, ou seja, o leitor complementa a fabulação.

No caso da poesia, a aldravia é a mais nova vedete do mundo minimalista. O nome deriva da aldrava, aquela peça de metal móvel, presa a outra parte, que, antes das campainhas elétricas, era parafusada nas portas de madeira e serviam para que o visitante se anunciasse.  Neste caso a aldravia é um convite aos poetas para que ingressem neste novo mundo da estética, em que se permite ao leitor ampla interpretação, daí o título do livro: Abra-se para a poesia.

Os criadores da moda sugerem que se enverede mais pelo campo da figura metonímica do que pela metafórica, mas a metáfora está tão arraigada à literatura que é muito difícil seguir à risca o conceito dado pelos criadores, na forma de se fazer aldravia. Metonímica ou metafórica o fato é que a aldravia, enquanto poema sintético identificado com o virtual, é constituída por seis palavras verso, em que a ordem é retirar o máximo de poesia num mínimo de palavras, usadas em forma vertical, sem utilização de maiúsculas e sem títulos.

Logo de entrada, no livro Abra-se para a Poesia, o poeta Viriato Moura orienta o leitor, dando detalhes, no texto, O Verso Mínimo, sobre como fazer e entender uma Aldravia, e a seguir ingressa, sem pedir licença, no seu cantinho dedicado ao prazer da poesia:

desnuda                                       de

   sem                                            tanto

adereços                                  pensar

aldravia                                 esqueceu

 emana                                          de

 poesia                                          ser

 

E continua mexendo na reflexão do leitor:

 

abismos                                   lavava

  não                                         saudade   

assustam                                  com

  quem                                         água

   sabe                                           dos

   voar                                          olhos

 

Observem que, além da economia de palavras, nunca se usa advérbios, e as aldravias são construídas com palavras simples, mas que se agigantam no contexto, como se fossem pedaços de vida. A incompletude é uma característica provocativa das aldravias.

 

mendigo                               chegou                     quando

 morto                                      ao                                me

  sua                                         mundo                        reli

 miséria                                    em                               não

  mais                                        lugar                            me

  viva                                        nenhum                     entendi

 

De fato, a arte da síntese se presta ao momento especial em que vivemos, neste mundo de tendências reducionistas, comandados pelo Facebook, twitter, whatsapp, instagram, etc. Pouco se lê e pouco se escreve, tudo se contrai, elimina-se os adereços para que a essência da palavra seja levada ao extremo. Há quem veja essas modernas modificações no universo das comunicações, como o início do domínio da inteligência artificial no mundo da linguagem: os robôs vão se comunicar com um mínimo de palavras possíveis.

 

Toda língua é dinâmica, todas as artes são dinâmicas; na verdade nós vivemos um processo de modificação, de evolução, conforme a tendência mundial, hoje reducionista, com extrema simplicidade de formas; ontem já viajamos por várias escolas literárias, do romantismo ao concretismo, entrementes cada poema é uma criação artística única, que expressa a subjetividade de seu autor. Conhecer os movimentos literários a que estão ligados os escritores amplia a compreensão sobre suas obras. Por isso achamos importante, como dissemos no início deste trabalho, conhecer a trajetória literária do escritor Viriato Moura, compreender como ele vem se desenvolvendo com desenvoltura, já há algum tempo, no meio dos versos minimalistas contemporâneos.

 

          Em se tratando de aldravias recomendamos a leitura do Abra-se para a Poesia, vivendo momentos de pura arte, com certeza você não será o mesmo, quando chegar à leitura da última página, a 143, assim como a gente, você vai ficar amassando o livro, tentando extrair dele outros ensinamentos, outras aldravias, como as que despertaram em nós o gosto pelo novo de bom gosto.

 

 silêncio                           fugiu                                introjeção

    da                                    de                                        de

 morte                              tudo                                     sóis

  pode                             chegou                               aquecem

    ser                                  ao                                       almas

ensurdecedor                 nada                                    vivas

           

 

* Presidente da Academia Rondoniense de Letras      

 

     

           

 

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