Segunda-feira, 4 de setembro de 2023 - 16h22
Na sessão plenária da Assembleia
Legislativa de Pernambuco de 15 de agosto de 2023, no mesmo dia do apagão que
atingiu todo Brasil, exceto o Estado de Roraima, o deputado coronel Alberto
Feitosa (PL) afirmou que os motivos que levaram ao apagão estavam associados às
fontes renováveis (energia solar e eólica), defendendo a imperativa necessidade
de se rediscutir a instalação de usinas nucleares no município de Itacuruba
(PE), no Sertão de Itaparica.
Será que o nobre
deputado tem contatos extraterrestres para poder antecipar, o que ainda não foi
oficialmente esclarecido pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)?
Afinal, as investigações para desvendar as reais causas do apagão, que trouxe
tantos infortúnios a mais de 30 milhões de brasileiros ainda estão em curso.
O deputado usou a
tribuna do poder legislativo para vociferar contra as fontes renováveis pelo
fato de serem fontes intermitentes (não geram energia elétrica continuamente),
características intrínsecas das fontes solar e eólica. Acusa a esquerda de ser
favorável a estas fontes abundantes e distribuídas no Nordeste brasileiro,
criticando esta mesma esquerda por ser contrária à fonte nuclear. Um
nucleopata, que não sabe o que diz, pois não conhece absolutamente nada sobre
energia, além de ideologizar um tema da maior importância neste momento de
enfrentamento da crise climática global. Apenas repete o que diz seu guru em
assuntos nucleares, o Engenheiro Carlos Mariz. (https://antigo.fundaj.gov.br/index.php/a-questao-energetica/11499-o-conto-do-mariz-ha-quem-acredite-artigo-de-heitor-scalambrini-costa).
O deputado é
conhecido dos pernambucanos como grande defensor das usinas nucleares, em
particular da instalação de um complexo nuclear na beira do Rio São Francisco.
Para ele, este empreendimento seria a salvação, a redenção social e econômica
de toda uma região, de todo o Estado de Pernambuco e do Nordeste (quiçá do
universo!). Age como um vendedor de ilusões, mas nesta falácia, a população não
cai mais não!
Também é importante
no contexto de um debate sério e consequente, levar em conta suas posições
política e partidária, como aliado do ex-presidente, de extrema direita, que
governou o País de 2019-2022. Um negacionista contumaz da ciência. Logo, cabe
bem o provérbio popular “diga-me com quem andas e eu te direi quem és”.
Na defesa
intransigente da tecnologia nuclear – que tem sido abandonada por diversos
países e enfrenta inúmeros problemas de aceitação no mundo – se
comete muitos equívocos, deliberados, ou pela ignorância sobre o tema. Mas há
também os que preferem divulgar notícias falsas, na tentativa de minimizar,
negligenciar os riscos nucleares, e, assim, confundir a opinião pública.
Segundo a Agência Internacional
de Energia Atômica (AIEA) e a Associação Nuclear Mundial (ANM), a participação
do setor nuclear na produção de energia elétrica está em queda desde 2001. Em 1996, chegou a sua maior contribuição na matriz
elétrica mundial, 17,4%. Em 2021, a participação das usinas nucleares reduziu
para 9,8%. O que mostra que esta tecnologia, com todos os
problemas associados, estagnou e está em declínio. Depois do desastre de
Fukushima, mais usinas nucleares foram desligadas do que inauguradas.
É bom lembrar ao
deputado que a participação da iniciativa privada está proibida pela
Constituição brasileira. O artigo 177, V, estipula o monopólio da União para
esse tipo de atividade, assim como o artigo 21, XXIII. Logo, segundo a atual
legislação, é vedado ao setor privado participar, por exemplo, da construção e
operação de usinas nucleares.
Sabemos que o País, o
Nordeste em particular, tem vantagens comparativas extraordinárias quanto ao
potencial da energia solar e eólica, em seu território. Sabemos que a
diversificação da matriz energética (sem nuclear), com fontes renováveis que se
complementam, sem dúvida alguma é o caminho da sustentabilidade energética.
Então qual seria a razão para apoiar a instalação de uma tecnologia perigosa,
suja e cara nas margens do São Francisco?
Sabemos também que o lobby
nuclear é muito poderoso. Seus interesses concentram-se na indústria bélica,
nos fabricantes de equipamentos, na construção civil, em políticos
interesseiros, em cientistas que aceitam migalhas para suas pesquisas, na
grande mídia que tem como clientes os negócios do ramo nuclear. Mas a
resistência a esta tecnologia tem crescido, e mesmo banido usinas nucleares de
territórios nacionais.
Então vamos resumir a réplica ao discurso do nobre deputado em uma única frase, “O Brasil, o Nordeste, Pernambuco e Itacuruba não precisam de usinas nucleares”. Xô Nuclear!
*Heitor Scalambrini Costa é Doutor em Energética, professor aposentado - Universidade Federal de Pernambuco
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