Sábado, 17 de maio de 2025 - 08h00
Reativar memórias, lembranças, tempos idos lá
longe, funciona muito bem como uma espécie de ventilador para o cérebro. Não é
fácil até porque junto a alguns dos restos escavados também podem vir uns
amargos, mas até esses ossos podem ser revistos e remontados de outros pontos
de vista.
Forçar lembrar é um exercício importante, creio, um
reaquecimento necessário para nossas mentes tão disparadas nesse presente que
nos faz esquecer até de quem somos, de quem já fomos, do que vivemos, como
sobrevivemos até aqui. Vivi isso essa semana voltando 45 anos atrás para
relembrar do trabalho em uma publicação que está sendo objeto de estudo para
uma tese de mestrado, e para o qual uma jovem pesquisadora pediu uma
entrevista.
Foi como abrir uma janela, uma janelinha no meio de tantas,
e muitas outras acabaram também sendo espanadas nesse movimento, já que sempre
alguma coisa leva à outra, as passagens são muitas, pequenas, grandes, todas
encadeadas. Interessante que para situar uma dessas passagens, mesmo pequena,
como foi esse caso, você se obriga a vasculhar outros períodos anteriores e os
que se seguiram. Depois de viver mais a gente percebe, ao fazer esse retorno
mental, como soterramos ou até mesmo como fantasiamos os fatos – especialmente
ajudados se houver alguém ao lado que nos apoie nessa rememorização, por também
ter testemunhado aqueles momentos; um acaba ativando o outro.
Interessante também como a partir de um esforço como esse,
depois, horas depois, outros tempos e lembranças continuam surgindo
seguidamente por um tempo, curiosamente, como se também ativados, e se
concatenando, mesmo que nada a ver com o tema inicial. No jornalismo vivemos
variados momentos e emoções, e que aparecem novamente e nem sabíamos até aqui,
antes de serem revistos, o quanto foram marcantes. Pontos de inflexão e
reflexão.
Felizmente, tenho memória visual, o que ajuda muito e
sempre a busco quando preciso fazer essa verdadeira e incrível viagem no túnel
do tempo que se transforma quando instada a recordar algo. O engraçado é que
ela vem como uma espécie de teletransporte e acaba trazendo junto sensações
espaciais, e a gente acaba lembrando de móveis, paredes, cheiros, movimentos,
inclusive sentimentos. Creio que funciona assim também em alguns de nossos
sonhos.
Anda mais comum ter de fazer algum esforço para lembrar,
por exemplo, de nomes, alguns recentes, ou aqueles que, puxa, não poderia
esquecer. Que irritação. Nomes bobos, como o de alguma atriz ou ator, cantor,
sei lá, que fogem quando você quer falar do assunto. Tenho, contudo, o hábito
de nunca desistir de tentar lembrar. Às vezes a lembrança chega dias depois, do
nada, e mesmo assim é um alívio. Tenho certeza de que temos de forçar ativar
nosso cérebro o tempo inteiro, mantê-lo aquecido, que isso é saudável, e
ajudará a nos mantermos espertos nesse inexorável caminho da vida. Em algum
lugar temos um arquivo que precisa ser espanado até ser descoberto.
A Ciência cada vez mais se aprofunda nesse incrível mundo
das sinapses essenciais para o processamento de informações do sistema nervoso,
o elo de comunicação entre o cérebro e o corpo. Os cientistas desenvolvem
medicamentos, estudam doenças degenerativas e formas de contê-las ou
retardá-las. Doenças que, creio, apavoram a todos com o envelhecer. Pelo menos
a mim apavoram, por conhecer casos terríveis, ver pessoas queridas se perdendo
nesse labirinto.
A vida moderna não está fácil para ninguém. Avanços na
tecnologia difíceis de serem acompanhados, mas se tornando necessários e até
obrigatórios, a sucessão de fatos que nos afundam em diários redemoinhos.
Cansaço absoluto. Tudo isso vai minando nossa memória, a sensação do tempo
correndo como em uma esteira incontrolável.
Nosso cérebro precisa se exercitar e podemos ser nós mesmos
a academia que ele frequente.
______________________________________________________
MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em
São Paulo. [email protected] / [email protected]
___________________________
Instagram: https://www.instagram.com/marligo/
Blog Marli Gonçalves: www.marligo.wordpress.com
No Facebook: https://www.facebook.com/marli.goncalves
No Twitter: https://twitter.com/MarliGo
No BlueSky: https://bsky.app/profile/marligo.bsky.social
No Threads: https://www.threads.net/@marligo
Fui educada, muito bem educada pelos meus pais, sempre respeitados, mas que desde menina também me orientaram a jamais levar desaforos para casa. As
Tão longe, tão perto, com crase ou sem crase. De longe, vemos o mundo e seus acontecimentos passarem à distância e nos angustiamos como se estivesse
Olha a fumacinha! A nossa, de raiva
Foi a semana que ficamos todos bem atentos à fumacinha saindo da chaminé no Vaticano e que anunciaria o novo Papa, se branca ou preta. Mas nós, bras
Transparências definitivamente estão na moda. E muito usadas na aparência meio oculta, uma sugestão do que se quer mostrar – mas não muito - como se