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Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DCCXXXII - Circunavegação da Lagoa Mangueira – Parte II


Terceira Margem – Parte DCCXXXII - Circunavegação da Lagoa Mangueira – Parte II - Gente de Opinião

Bagé, 24.04.2024

 

 

Bomba n° 20 – Taim – Bomba n° 20 (14.01.2016)

 

Antes de partir, combinamos de nos encontrar para o almoço em um Pontal, próximo à Reserva do Taim, no alinhamento do extremo Norte do bosque de pinus (32°49’35,4” S / 52°33’24,6” O), e parti enfren­tando vento de proa (NE) durante todo o trajeto. Descreve o Coronel Pastl:

 

Dia 14, acordamos às 05h45, com “patrulhas de capivaras” no entorno do acampamento. Tomamos café, combinamos de nos encontrar no Espigão Leste do Taim, na tangente da silvicultura [talhões da costa] de pinus e zarpamos. (PASTL)

 

Acompanhei a costa Ocidental, nos primeiros quinze quilômetros e, depois de avistar o ponto de encontro, aproei rumo NE, enfrentando ondas de proa, evitando a entrada d’água de Boreste, mantendo uma velocidade média de navegação de 4,8 km/h.

 

Aportei às 12h30, depois de navegar 31 km em 06h30 sem parar, a um quilômetro ao Norte (32°48’52,8” S /52°33’40,5” O) do local combinado para o almoço, numa tentativa desesperada de encontrar meus parceiros. Desembarquei, comi algumas Castanhas do Brasil (Castanha do Pará – Bertholletia excelsa), bebi meu “Frukito”, engoli três cápsulas de guaraná e fiquei observando a maravilhosa avifauna da Reserva do Taim.

 

O Taim faz parte das rotas migratórias de aves oriundas dos dois Hemisférios, concentrando, graças a isso, uma das maiores diversidades de aves aquáticas do País. O grande diferencial para mim, porém, foi constatar a grande quantidade de Cisnes-de-pescoço-preto (Cygnus melancoryphus) – o único e verdadeiro cisne sul-americano. Nas minhas andanças pelos Mares de Dentro, até então, eu encontrara apenas cinco espécimes e aqui na Mangueira encontrei bandos de dezenas de indivíduos voando ou nadando. Alguns deles, assustados com minha aproximação, grasnavam ruidosamente e levantavam voo com dificuldade, pedalando n’água como o fazem os biguás.

 

Aguardei, preocupado até as 13h06, e, como não avistasse o “Corais”, concluí que meus parceiros estavam detidos por algum problema técnico. Resolvi, então, retornar à “Bomba 20”. Relata o Coronel Pastl:

 

Vento Norte [contra] fraco, e bordo e bordo, chegamos seis vezes à costa Leste e voltávamos a Oeste, e após a última ponta verde [salsos salientando-se em prainhas de juncal] no Leste, entramos na última enseada e resolvemos investigá-la em busca do Hiram. Motoramos ([1]) e encalhamos em sargaços – mar de sargaços. Vimos no meio do juncal na margem o caíque “Dori” de algum pescador e uma indistinta placa na mata, branca [ilegível]. Outra na ponta Norte do talhão. Às 19h19, chegamos no ponto acordado e nada, apenas capivaras, muitas [já é o banhado do Taim]. Adentramos [pouco] ao banhado, até às 19h45, e nada do Hiram. Acampamos no local tratado, na prainha com salsos. Montamos barraca, fizemos fogo, jantamos arroz com bacon e tomamos café.

 

Enviei mensagens ao Hiram e à família. Avistava-se o tráfego na BR-471, a aproximadamente uns 8 Km a Oeste, nitidamente. Voltei a ler “Caravanas”, de James Albert Michener. Às 21h15, uma capivara enorme veio nos visitar, farejando tudo. Chegou duas vezes até a uns 10 metros distante da gente. Sinal de que por aqui não se caçam. Dormimos ao som da bicharada – assobios de capinchos, gritos de graxaim, etc – mas também de veículos, pois se escutavam os mais barulhentos da rodovia. (PASTL)

 

Costeei a Margem Oriental, por uns oito quilômetros, deduzindo que os velejadores, caso estivessem a caminho, poderiam estar buscando a proteção dos ventos proporcionada pelo mar de pinus ([2]) e fazendo uso do motor de popa.

 

Cheguei à Salguinha por volta das 14h30. Na vinda, tinha passado ao largo dela e agora tinha me embrenhado neste verdadeiro labirinto com um único acesso a NE. Perdi quase duas horas tentando achar, sem sucesso, uma saída pelo quadrante Oeste e Sul até decidir retornar exatamente por onde entrara. Eu perdera um tempo precioso e precisava picar a voga para chegar ao meu destino antes do anoitecer.

 

Os músculos começavam a enrijecer, a coluna, que já sofrera três cirurgias, doía muito e tive de aplicar um analgésico, que sempre carrego comigo para tais emergências. Embora navegasse pelo meio da Lagoa, observando cuidadosamente, durante todo o percurso, ambas as margens, não consegui avistar o “Corais”.

 

Aportei no Canal da “Bomba 20” exatamente às 20h00, meia hora antes do pôr-do-sol, depois de enfrentar uma remada matutina de 06h30, uma navegação vespertina de 06h24, com uma única parada de 36 minutos – totalizando 12h54 de remo, perfa­zendo uma jornada de 13h30, sob um Sol abrasador e concluindo um estafante percurso de 71 km.

 

Verifiquei, ao entrar no canal da “Bomba 20”, que minha equipe de apoio lá não estava. Uma vez que toda a minha tralha de acampamento ‒ roupas secas e celular estavam a bordo do “Corais” fui pedir socorro ao Sr. Gilson César dos Santos da Silva que havíamos conhecido no dia anterior. A esposa do Gilson preparou uma saborosa e bem-vinda refeição quente, e o Gilson conseguiu-me roupas secas que vesti após tomar um revigorante banho na Lagoa.

 

Como o Gilson não conseguisse contato via celular com a equipe de apoio, repassou ao Sr. Delmar, seu vizinho, notícias do meu paradeiro e quais eram minhas pretensões para o dia seguinte. Depois de um longo e agradável bate-papo, de posse de um bom pe­lego e cobertor, me acomodei no carro do novo amigo para pernoitar, pois era um local seguro e protegido dos enxames de mosquitos que assolam a região. [...]

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)E-mail: [email protected].



[1]   Motoramos: fizemos uso do motor.

[2]   Pinus: o reflorestamento criminoso com pinus provoca um sensível rebaixamento do lençol freático da Lagoa e inibe o desenvolvimento e crescimento de outros elementos da flora.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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