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Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DCCXXVI - O Imbróglio do “Prince of Wales” – Parte VII


Terceira Margem – Parte DCCXXVI - O Imbróglio do “Prince of Wales” – Parte VII - Gente de Opinião

Bagé, 10.04.2024

 

 

Naufrágio do “Prince of Wales” (5 a 08.06.1861)

 

Diário do Rio de Janeiro, n° 191

Rio de Janeiro, RJ – Domingo, 14.07.1861

Sinistros – Bem Desastrosa a Nossa Costa para a Navegação no Decurso do mês de Junho

 

O naufrágio se deu com o brigue brasileiro “Guahyba”, Capitão Francisco Paulino da Silva, em viagem do Rio de Janeiro para Porto Alegre, no dia 2 de junho, no lugar denominado Lagoa do peixe, cerca de 60 milhas longe da Barra, morrendo o cozinheiro e o passageiro Joaquim José dos Reis.

 

  O patacho inglês “Hound”, na madrugada do dia 6; tendo-lhe faltado os ferros com o grande temporal, veio à praia na Costa do Sul, 3 milhas longe da Barra; salvando-se a tripulação.

 

  Barca inglesa “Prince of Wales”, que se supõe ter naufragado no mesmo dia 6, perdendo-se na Costa do Albardão no lugar denominado – Romeiro – cerca de 50 milhas longe da Barra. Morreu toda a tripulação, e por um papel que se encontrou em um dos cadáveres [contrato de marinheiro] veio-se no conhecimento do navio, o qual seguia de Glasgow para Montevidéu, com carga de fazendas e louça.

 

  Ultimamente o vapor de guerra “Paraguassú” naufragou na Costa do Estado Oriental, no lugar denominado Olho d’Água. Julga-se ter apanhado o temporal de 23 para 24, que caiu nesses dias, e tendo aberto água, viu-se forçado a procurar a praia para salvar sua tripulação; todavia morreram 5 pessoas, escapando 90 e tantas.

 

Além disso, muitos navios que entraram neste porto sofreram grandes avarias, e outros por milagre de Deus escaparam da praia por terem sofrido fortíssimas travessias. (DRJ, Nº 191)

 

Fragata Britânica “HMS Fort” (17.06.1862)

 

Dicionário Histórico-Biográfico
da Primeira República (1889-1930)

Alzira Alves de Abreu

 

[...] na noite de 17.06.1862, três tripulantes da fragata inglesa “HMS Forte”, vestidos à paisana, jantaram num hotel localizado no Alto da Tijuca, bairro do Rio de Janeiro, e, ao término da refeição, já embriagados, caminharam em direção à cidade e molestaram diversas pessoas, entre elas a sentinela de um destacamento policial.

 

Houve combate corporal, e os estrangeiros foram detidos com a ajuda de outros soldados.

 

Um simples caso de arruaça se transformou em um incidente diplomático, à medida que foi levado ao conhecimento do embaixador inglês no Rio de Janeiro, William Dougal Christie, que solicitou explicações junto ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.

 

Em 05.12.1862, o embaixador Christie emitiu nota endereçada ao governo brasileiro, na qual requisitou que fossem punidos os soldados do destacamento policial responsáveis pela prisão dos tripulantes da fragata Forte, que fossem censurados o chefe de polícia e o oficial que receberam os ingleses na prisão e os detiveram sob custódia durante toda uma noite, bem como que fosse apresentado um pedido de desculpa oficial por parte do governo brasileiro.

 

O Marquês de Abrantes, na época Ministro das Relações Exteriores, recusou as exigências impostas pelo embaixador Christie, e a contenda finalmente foi arbitrada pelo rei da Bélgica, cujo laudo, favorável ao Brasil, foi entregue em importante audiência no castelo de Laeken, residência oficial dos soberanos belgas, em 21.06.1863, aos plenipotenciários de ambas as partes envolvidas na questão, sendo o plenipotenciário brasileiro Joaquim Tomás do Amaral. (ALVES DE ABREU)

 

Foreign Office
British and Foreign State Papers (1863-1864)

London, 1869

 

O reporte remitido por Abrantes incluía a versão dos feitos brindada pelos membros do destacamento da Tijuca:

 

1.   Que na tarde de 17 de julho, após cear e tomar duas garrafas de vinho de Bordéus e meia garrafa de conhaque no hotel de Robert Bennett na Tijuca, os três estrangeiros se dirigiram para a cidade;

 

2.   Que no caminho molestaram aos transeuntes e trataram de desmontar a um ginete violentamente ao tomar as rendas de seu cavalo;

 

3.   Que às 19h00 chegaram na estação do destacamento e o chamado Clemenger deu uns passos até o sentinela e o perguntou “O que estava fazendo aí?”. Quando o sentinela lhe deu a ordem de retirar-se, Clemenger começou a dar-lhe golpeadas pelo que o sentinela se defendeu com a coronha de sua arma sem usar sua baioneta para não feri-lo e chamou a guarda;

 

4.   Que a guarda fez uso moderado da força para deter os estrangeiros que opuseram viva resistência;

 

5.   Que uma vez detidos no posto o comandante requereu seus nomes e que, ao não compreender a língua, se utilizaram os serviços como tradutor do vizinho austríaco Rodolph Müller mas os estrangeiros “optaram por não responder as perguntas mostrando-se altivos e desdenhosos”;

 

6.   Apesar de tudo, “foram tratados pelo comandante do destacamento com a maior amabilidade e urbanidade, providenciando-os não só de papel para escrever e cartas para jogar, mas também colocando a sua disposição sua própria cama, a única na casa de guarda”;

 

7.   Que se bem estes três estrangeiros “não estavam completamente embriagados, não pareciam estar em plena possessão de suas faculdades mentais”;

 

8.   Que ao dia seguinte foram enviados ao Rio sem que o comandante soubesse ainda que eram oficiais navais britânicos. Em sua chegada "não foram postos na prisão de escravos, mas sim na de homens livres, onde também pode haver pessoas de cor já que, segundo nossa legislação não existe nenhuma diferença nas condições de encarceramento a causa desta condição". Tão logo como se conheceu sua condição de oficiais, foram enviados de imediato para outro centro penitenciário especial e logo para os quartéis dos corpos policiais. (FOREIGN OFFICE, 1869)

Bibliografia

 

ALVES DE ABREU, Alzira. Dicionário histórico-biográfico da Primeira República (1889-1930) – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Editora CPDOC - FGV, 2015.

 

DRJ, Nº 191. Sinistros – Bem Desastrosa a Nossa Costa para a Navegação no Decurso do mês de Junho – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Diário do Rio de Janeiro, n° 191, 14.07.1861.

 

FOREIGN OFFICE, 1864. HMS Fort – Inglaterra – Londres – Foreign Office – British and Foreign State Papers, Volume LIV, p.639/649, 1863/1864.


 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul.

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)E-mail: [email protected].

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