Terça-feira, 10 de junho de 2025 - 16h23
10 de Junho de 1580 – Luís de Camões parte, levando consigo o último
suspiro de um Portugal dourado.
De celebração em celebração, embrulhamos a alma da pátria em folhas de
jornal, como sardinhas de feira popular. Queimamos incenso sobre o corpo ainda
quente da nação, enquanto ela, entre golfadas de fumo e discursos vazios,
agoniza em festa.
Camões, o trovador do destino lusitano, cantou-nos quando éramos aurora.
Nas páginas d’Os Lusíadas, o sangue dos heróis ainda corre, mas secou nas veias
dos que nos têm governado. O sol da ideologia queimou as cores da nossa
bandeira, e as revoluções, como vagas traiçoeiras, arrastaram para o abismo o
que nos restava de identidade.
Dizem que, ao morrer o poeta, morreu Portugal. Talvez. Mas a terra não
sepultou a semente. A classe política, sim, é cadáver – um fantasma que vagueia
pelos corredores do poder, surdo ao ritmo do povo, cego à chama que ainda
bruxuleia nas cinzas. "Fraco torna fraca a forte gente..." E nós,
filhos de uma escrava e de revoluções alheias, deixámos que nos vendassem com
os trapos da Libertas, da Agar, de todas as quimeras que nos roubaram o rosto.
Mas Portugal não morre apesar de muitas loucuras ideológicas e nos
últimos tempos dos interesses do deus Mamon de Bruxelas que suborna os humanos
para obter suas almas. Não morre enquanto respirar fé e coragem, enquanto
lembrar que foi à sombra da cruz e da espada que conquistámos o mundo. Pátria e
fé eram uma só carne, um só destino. Hoje, porém, perdemos o povo no labirinto
das ideologias, e sem ele, a pátria é apenas um nome esvaziado, um barco à
deriva sob o voo circular dos abutres.
Agora, a missão é outra: não basta restaurar – é preciso redescobrir. Os
Homens-Bons de hoje não partirão em caravelas, mas em busca da própria alma.
Terão de navegar "mares nunca dantes navegados", não de água salgada,
mas de consciência. A Taprobana a vencer já não é a distância, mas o
materialismo que nos engoliu, o Estado que nos devora, a religião que se
esqueceu de rezar.
Teremos de ousar, como os "egrégios avós", mas sem infantes
que nos guiem. A bússola será a dor, o desespero de uma terra que já não nos
reconhece. E quando acordarmos, talvez descubramos que a verdadeira liberdade
não tem fronteiras – é como o mar, que não sabe onde começa nem onde termina.
Então, Portugal não será apenas um lugar no mapa, mas um verbo: criar.
Já não conquistaremos terras, mas relações; já não levantaremos impérios, mas
consciências. E quando o céu se rasgar por fim, não serão canhões que ecoarão,
mas as cores do arco-íris, derramando-se sobre nós como uma nova aliança.
Até lá, seguimos. Entre a névoa e o sonho, entre os Velhos do Restelo e
os loucos que ainda acreditam. Porque um povo que já foi mar não pode viver
eternamente de joelhos.
Viva um Portugal que se redescubra à luz do bem e da verdade e se
empenhe na construção de uma cultura da paz e abandone a cultura da guerra!
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do tempo: https://antonio-justo.eu/?p=10059