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Revista Momento

Mulheres abandonadas com filhos no presídio. A solidão que prende



Marcela Ximenes
Fotos: Roni Carvalho
Revista Momento


Um dos sentimentos que apavora o ser humano é a solidão. E é exatamente ele a companhia constante da maioria das mulheres que cumpre pena na Penitenciária Estadual Feminina de Porto Velho. Longe da família, dos amigos e do companheiro essas mulheres tentam criar uma armadura de indiferença com o desinteresse que vem de fora. Menos de 40 das 129 apenadas recebem visitas de namorados ou maridos. Alguns estão cumprindo pena, outros optaram por se distanciar e elas preferem desconhecer o motivo do repentino desamor. 

O diretor da unidade, José Bonifácio Galvão, conta que, geralmente, quando o homem não está na mesma situação que a mulher, ele visita “umas três ou quatro vezes e depois desaparece”. Isso é comum. Maira Martins, 22 anos, mãe de Antônio Cauê, de 2 meses, recebeu a visita do ex-namorado e pai do bebê apenas duas vezes em oito meses de prisão. Ela ainda tem pela frente um ano de cumprimento de pena por tráfico de drogas. 

Júlia (nome fictício) está há um ano no presídio e logo que foi presa o marido, que estava envolvido com tráfico de drogas, fugiu possivelmente para outro estado. Ela ficou só e se encarcerou na tristeza. “Nunca esperei isso dele. Fiquei presa como uma criminosa e sem ele que eu gostava tanto. Hoje tenho muita raiva e espero que um dia ele sinta o que é ficar só”, disse, tentando conter as lágrimas. 


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Final da 2ª edição da Miss Penitenciária


Grades opostas

A creche é um retrato da realidade da detenção feminina em Porto Velho. A maioria das mulheres (90%) que ocupa o espaço transformado em um grande alojamento cumpre pena por tráfico de drogas e o namorado ou marido, incentivador principal à atividade ilícita, encontra-se em outra unidade prisional. Jovens como Maria Terezinha, 21, perderam a liberdade por se associar ao companheiro. 

Quando foi presa no distrito de Extrema, armada e com entorpecentes Terezinha estava grávida de Marcos Vinícius, hoje com dois meses. O marido tão jovem quanto ela aguarda julgamento no Presídio Urso Branco. Ela conta que rapaz de 19 anos foi preso dias após ter completado a maioridade. “Eu estava sem emprego e grávida. Comprei a arma porque estava muito barata e fui vender drogas porque tinha que me sustentar e não conseguia emprego”, argumenta. Há três meses ela não vê o marido. A ida das apenadas aos presídios masculinos está suspensa por questões de segurança. A única visita de Terezinha é a sogra, que se reserva entre a nora e o filho. “É ela por nós dois”. 

Seis meses

Na creche da penitenciária há 14 mulheres, sendo que quatro estão grávidas, e 10 bebês. De acordo com a determinação do Juizado da Infância, as crianças só podem permanecer no presídio até os seis meses de idade. “É para não ferir o direito à liberdade dos menores”, afirma Cristiane Garcia, diretora administrativa da unidade. O momento da separação é um outro tormento para as mães detentas. “A cada mês que ele faz aniversário aumenta minha ansiedade. É um mês a menos com ele”. Terezinha tem ainda quatro meses de convívio com o filho. 

 
Histórias que se repetem
 
Mulheres abandonadas com filhos no presídio. A solidão que prende - Gente de OpiniãoAliandra Bezerra da Silva, 21, é casada há três anos e há cinco meses aguarda o resultado da audiência. A filha Kethelei, 2 meses, é o seu alento nesses dias de muita ansiedade e dúvida. “Acredito que vou ser inocentada, mas à vezes penso que não”, pensa alto. Ela tem um outro filho, Kauan de três anos, que a visita quando a avó o leva. “Acho melhor ele não vir”. Aliandra, que está cursando a 5ª série no presídio, quer o filho bem longe do mundo que a envolveu. 

E ela tem motivos para isso. O marido, de 24 anos, está preso há sete meses. Dos seis irmãos, um faz companhia ao cunhado no Urso Branco e outro, menor de idade, cumpre medida sócio-educativa. Todos pelo mesmo motivo de Aliandra, tráfico de drogas. Como visita certa ela tem a mãe, que se divide entre os presídios e a unidade de internação. “Entendo porque os outros não me visitam. É muita vergonha. Só mesmo a mãe para agüentar”, justifica. “Queria pelo menos ver meu marido, tem quatro meses que a gente não se vê, não se fala”, lamenta. 

À espera do casamento 

Mulheres abandonadas com filhos no presídio. A solidão que prende - Gente de OpiniãoA porto-velhense Cíntia Lopes Brito, 21, tem ainda quatro anos de pena, mas já faz planos de uma nova vida. Um “antigo admirador” envia presentes e a visita com freqüência. “Estou na expectativa de casar quando sair daqui”, conta. A filha Maria Eduarda, 4 meses, recebeu a visita do pai antes da prisão dele, também por tráfico de drogas. “Por causa dele olha onde eu vim parar. Fui abandonada com filha e tudo”, desabafa, referindo-se ao ex-companheiro. 

Ela não gosta muito de falar sobre o passado, prefere relatar as mudanças que vêm passando desde sua prisão. “Hoje tenho mais respeito pelas pessoas, antes só pensava em mim. Também estou gostando de estudar, antigamente queria distância da escola”, analisa. Essas transformações devem-se ao candidato a futuro marido? “É bom ter atenção de alguém ainda mais estando aqui. Só que eu estou procurando mudar para sair daqui outra pessoa. Essa vida não é para ninguém”. 

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