Quinta-feira, 14 de dezembro de 2023 - 13h01
Como falarei de uma “física do poder”, não
adentrarei à biopolítica ou “poderes moleculares”. Nem tratarei,
especificamente, de uma metafísica do poder, mas sim da suposição de que haja
uma física nos moinhos de vento – para ser mais específico.
Os moinhos de vento são os que
fazem girar os metafísicos do poder. São aqueles que, também como “birutas de
aeroporto” (sem produzir nenhuma reles corrente de energia eólica), dispõem-se
a seguir a corrente de ar todas as vezes em que o país discute alo relevante.
Muitas vezes, os metafísicos
do poder seguem apenas as correntes da poluição – o que lhes turva a vista e a
consciência (quando ela é sobrevivente): um exemplo disso é um nobre senador,
conhecido por todos que seguem os bons ares, como desprovido de conexão
cérebro-língua. Ou seja, suas frases tem o mesmo sentido de um grasnado, incompreensível
e insuportável para as pessoas portadoras de inteligência social.
Os
metafísicos do poder ainda promulgam de uma sentença originária do Renascimento
– este sim, um momento, movimento histórico, em que o poder conheceu sua forma
física ainda presente. Chamou-se lá atrás de Razão de Estado: a suposição de
que haveria uma metafísica para o poder – uma “justificativa moral” para a
incidência do Poder Político (Estado) – logo se revelou como força descomunal,
impositiva, sem sequer haver necessidade de superlativos. O Estado não era
poderosíssimo, simplesmente porque naquela época não havia desafio à altura.
Hoje já vários desafios, ataques, acintes, tal qual propõem e executam
diariamente os metafísicos do poder.
A
forma-Estado, a partir do sacramento da sua razão de existir, da Razão de
Estado, em seguida, faria sim uma varredura contra os incultos e desviantes
metafísicos do Poder Político. Os idealistas (os alucinados, idem) seriam
ingeridos e movidos pela física da Razão de Estado mais tarde. Porém, esta é
outra história.
É
bom fazer a ressalva de que, na sua forma mais cruenta de metafísica –
lembrando que todos/as nós somos metafísicos de algum modo (princípio da
transcendência x imanência) –, os abilolados chegam a venerar pneus, subir em
para-brisa de caminhão em movimento, são antivacina, adotam a metafísica
negacionista de “autovacinados” (quer dizer, o indivíduo se vacina por
engenharia reversa de Deux), e, é óbvio, propagam todas as formas inimagináveis
de Fake News.
O
que os metafísicos cruentos desconhecem, em sua proximidade com o devaneio e o
desvario, é que “ser ou não ser” não é uma sentença metafísica. Eles se portam
como não-ser social, aludindo que seria de sua livre escolha, defendem a
negação de limites jurídicos à Internet, fazendo alusão à liberdade de se
requerer ou incitar o cometimento de crimes.
Então, como se julgam livres
intérpretes da maior sentença do Renascimento (“ser ou não ser”), julgam-se no
direito de inventar outras desviantes de metafísica do poder. Até o dia em que
a real física do poder lhes bate à porta ou na cabeça – se alguém agir em
legítima defesa. Não importa, um dia acabam por descobrir a física por trás do
poder – seja o poder jurídico, seja o nocaute.
Quando
Shakespeare escreveu “ser ou não ser, eis a questão” (Hamlet) referia-se a esta
física que retratei, sendo também um aviso aos loucos (de todo gênero),
incautos, abusivos ou simplesmente delinquentes. Um dia, pensava Shakespeare –
se não escreveu isso, ao menos pensou –, o poder baterá na porta ou na cara,
como dissemos.
A realidade da física do poder não perdoa –
veja-se os recolhidos do 8 de janeiro –, não cabe à física do poder julgar a
metafísica que possa haver atrás, escondida, na aloprada suposta metafísica,
mas sim se dedicar aos atos políticos, de poder, com efeitos e
consequências concretas.
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