Por Vasco Vasconcelos, escritor, jurista, jornalista, administrador, compositor e abolicionista contemporâneo Brasília-DF
Com grande orgulho, saúdo a Academia Brasileira de Letras – ABL, que no próximo dia 20 de julho celebrará seus 128 anos de fundação, sendo um verdadeiro motivo de orgulho para toda a população brasileira. Na sessão inaugural, realizada em 1897, estiveram presentes dezesseis acadêmicos, ocasião em que o renomado e saudoso escritor Machado de Assis foi eleito, por aclamação, o primeiro presidente da instituição.
Excelências, a Academia Brasileira de Letras (ABL com sede na cidade do Rio de Janeiro, então Capital da República, tendo como objetivo o cultivo da língua portuguesa e da literatura nacionais, inspirando-se no modelo da Academia Francesa.
Seus primeiros membros fundadores compostos com trinta escritores, sendo que mais tarde foi aumentado para quarenta, em sintonia com o modelo da Academie Française, que foi instituída no ano de 1635, pelo cardeal Richelieu, então principal ministro do rei Luis XIII da França.
Entre seus primeiros "imortais", segundo os historiadores, destaco com orgulho:
Machado de Assis, presidente fundador, autor de obras clássicas como Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Helena, O Alienista, Espelho, A Cartomante, Quincas Borba, Várias Histórias e Esaú e Jacó. (...)
Joaquim Nabuco, secretário-geral da Academia, destacou-se por suas obras Escravos, Abolicionismo, O Erro do Imperador, Por que continuo a ser, Balmaceda, O dever dos monarquistas, Um Estadista do Império, Minha Formação e Pensées détachées et souvenirs (1906), esta última escrita em francês, reunindo reflexões e memórias. (...)
Olavo Bilac, outro membro eminente, é autor de Via Láctea, Sarças de Fogo, Crônicas e Novelas, O Caçador de Esmeraldas, As Viagens, Alma Inquieta, Poesias Infantis, Crítica e Fantasia e Conferências Literárias. (...)
Rui Barbosa, meu saudoso conterrâneo, importante jurista e escritor, deixou obras como: O Papa e o Concílio, Oração aos Moços, O Dever do Advogado, Oswaldo Cruz, Os Atos Inconstitucionais do Congresso e do Executivo ante a Justiça Federal, O Código Civil Brasileiro, Castro Alves: Elogio do Poeta pelos Escravos e O Brasil e as Nações Latino-Americanas na Haia. (...)
Graça Aranha destacou-se com obras como Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco, Espírito Moderno, Canaã, Malazarte, Manifesto de Marinetti e Seus Companheiros e O Manifesto dos Mundos Sociais. (...)
José Veríssimo contribuiu com A Amazônia, História da Literatura Brasileira, Cenas da Vida Amazônica, A Educação Nacional, A Pesca na Amazônia, A Instrução Pública e a Imprensa e Homens e Coisas Estrangeiras.(...)
Artur Azevedo é autor de O Retrato a Óleo, Amor por Anexins, Carapuças, A Almanjarra, A Capital Federal (1897), A Filha de Maria Angu, O Mambembe, O Dote e A Joia. (...)
A seguir, apresento os vinte primeiros presidentes da Academia Brasileira de Letras, extraídos da internet: Machado de Assis (1897–1908) – presidente perpétuo da Academia Ruy Barbosa (1908–1919), Domício da Gama (1919), Carlos de Laet (1919–1922, Afrânio Peixoto (1922–1923, primeira vez), Medeiros e Albuquerque (1923), Afrânio Peixoto (1923–1924, segunda vez), Afonso Celso (1925, primeira vez) Coelho Neto (1926), Rodrigo Otávio (1927), Augusto de Lima (1928), Fernando Magalhães (1929, primeira vez)Aloísio de Castro (1930, primeira vez) Fernando Magalhães (1931–1932, segunda vez) Gustavo Barroso (1932–1933, primeira vez) Ramiz Galvão (1933–1934), Afonso Celso (1935, segunda vez), Laudelino Freire (1936) Ataulfo de Paiva (1937), Cláudio de Sousa (1938, primeira vez).
Observem, Senhores, o elevado nível dos nossos “imortais” de outrora em comparação, “Data-Venia”, com os atuais membros da Academia Brasileira de Letras (ABL). Excelências, a ABL é uma instituição centenária de fundamental importância para a sociedade, a história e a cultura brasileiras, e merece ser tratada com o devido respeito.
Ela constitui um ponto de convergência para escritores e intelectuais brasileiros, dedicando-se à regulamentação, proteção e análise da língua portuguesa por meio de discussões linguísticas que favorecem a padronização do nosso idioma. Além disso, a Academia Brasileira de Letras incentiva a criação literária por meio de premiações, publicações e eventos culturais, proporcionando amplo suporte aos autores. Dessa maneira, a instituição consolida a literatura brasileira como um patrimônio cultural de grande importância para o nosso país.
Assegura o Artigo 2º do Estatuto da Academia Brasileira de Letras (ABL), que dispõe sobre os critérios para ser "imortal" e se inscrever como membro da Academia Brasileira de Letras, explicita que: Só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário. A eleição dos membros é feita por escrutínio secreto, e a Academia é composta por 40 membros efetivos e perpétuos. Além disso, o processo para se candidatar ocorre quando uma cadeira fica vaga após o falecimento de um acadêmico, sendo aberto um prazo de 15 dias para inscrição dos interessados, que devem enviar carta ao Presidente da ABL. A eleição ocorre 30 dias após a declaração da vaga.
Nas últimas décadas, temos observado uma diminuição gradual nas investiduras de novos membros na Academia Brasileira de Letras (ABL). Embora o respeito e a admiração que todos nós, brasileiros, nutrimos pela ABL permaneçam inabaláveis, é inegável que a instituição tem enfrentado desafios relacionados à frequência e ao prestígio dessas cerimônias. Tal fenômeno reflete, em parte, as transformações culturais e as mudanças no cenário literário contemporâneo, que têm influenciado as dinâmicas tradicionais da nossa literatura.
Senhores, não estamos diante de uma mera placa luminosa, mas sim de uma instituição que simboliza o legado e o respeito aos grandes mentores intelectuais da Academia Brasileira de Letras.
A instituição em tela, que já foi o principal centro de referência da literatura brasileira, tem visto menor repercussão pública e desafios para atrair jovens escritores e intelectuais, o que impacta sua renovação e relevância social.
O objetivo desta Opinião é destacar a importância histórica e cultural da Academia Brasileira de Letras, fundada há mais de um século, e reforça a necessidade imperiosa de valorização e renovação para que continue sendo um baluarte da literatura e da língua portuguesa no Brasil.
Diante da repercussão negativa das recentes investiduras e eleições dos “imortais” na Academia Brasileira de Letras (ABL), observa-se que o conhecido “jeitinho brasileiro” e o suposto “QI” passaram a ser critérios predominantes, subvertendo a lógica tradicional e abrindo espaço para figuras pouco expressivas.
Essa situação tem relegado essa respeitável instituição a uma posição de terceira categoria. Contudo, ainda há tempo para reverter esse quadro e restaurar a dignidade da ABL, em benefício da felicidade e do orgulho da nação.
Repito: fundada em 1897 por grandes nomes como Machado de Assis, Joaquim Nabuco e Olavo Bilac, sempre teve como missão o cultivo da língua portuguesa e a valorização da literatura nacional, consolidando-se como um farol cultural que atravessa séculos
Sua trajetória é marcada por esforços notáveis, como a participação decisiva nos acordos ortográficos que unificaram o português e pela publicação de obras literárias de grande valor histórico.
No entanto, a recente perda de prestígio dessa colenda instituição, causada pela priorização de critérios alheios à excelência literária, ameaça sua relevância e o respeito que sempre mereceu.
E assim, para que a ABL volte a ser o que sempre foi, um bastião da cultura e da literatura nacional torna-se imprescindível resgatar os valores que a fundaram: o compromisso com a qualidade literária, o rigor intelectual e a independência ética.
Acredito que a Academia ainda pode recuperar sua dignidade e cumprir seu papel de guardiã da língua e da literatura brasileiras, renovando seus quadros com imortais que verdadeiramente honrem o legado dos fundadores e inspirem as futuras gerações.
Destarte, a ABL continuará sendo, como sempre foi, uma instituição secular, venerável e útil, capaz de promover a decência e a ética na literatura, para o bem do Brasil e de sua cultura.
Que este momento de crise sirva de alerta e estímulo para um renovado compromisso com a excelência literária e cultural, garantindo que a Academia Brasileira de Letras permaneça, por muitos e muitos anos, no caminho da imortalidade. Eis a Questão
Vasco Vasconcelos, escritor, jurista, jornalista, administrador, compositor e abolicionista contemporâneo - Brasília-DF