Sábado, 10 de abril de 2010 - 09h40
Prof. Diogo Tobias Filho*
Pensei por sucessivos momentos em abandonar definitivamente a carreira de educador. Mas esta decisão sempre começar a ruir quando adentro a sala de aula. Ver aqueles rostos carregados de ingenuidade durante quatro horas, diariamente expressando as mais variadas emoções, trava-me quaisquer posturas radicais neste sentido. Ademais, divirto-me no pleno exercício da docência, zombando das contextualidades sócio-políticas inferindo referências entre o conteúdo ensinado e a vida real.
Deduzo como ficariam aqueles educandos que me olham com o olhar de lince, os que ainda estão em formação do senso crítico, os mais próximos, os mais distanciados, sem a presença de um professor com ponderações críticas. Aprendi a lidar até com os que não demonstram muito afeto pela aprendizagem. O segredo é filosofar associando as contradições da pobre educação pública às boas doses de humor dentro da escola. Só rindo pra espantar todos os males do cotidiano cansativo da escola.
Neste caldeirão de diversidade passo 365 dias mediando e construindo conhecimentos. Daí, mesmo sabendo que a ninharia do final de mês não me possibilita usufruir o melhor da vida material, afinal de contas, o salário mal dar pra pagar água, luz e comer o feijão-com-arroz de cada dia, as razões do coração que minha mente desconhece me traem e acabo por adiar eternamente a decisão de esconder o diploma no fundo do baú e ir vender espetinho com mandioca numa esquina qualquer.
Tenho que admitir: ser professor é ser um agregado de várias famílias simultaneamente. Gente que precisa de você, que se envolve diretamente na sua alma, que convive bem mais conosco do que com seus consanguíneos e alguns dos mais corajosos educandos, arriscar-se-iam a tomar balas de borrachas e jatos de gás de pimenta pelo puro sentimento de defender seu professor em protesto por condições mais dignas de vida, sobretudo porque quem é humanista não turva a própria existência sendo omisso com a exclusão, a intolerância e a intransigência.
Talvez por isso, o meu dilema entre desistir da carreira e esperar por dias faustosos seja pendente à esperança! Sei que é difícil suportar governantes cínicos, subprodutos da mediocridade que a humanidade produz aos montes no Brasil, com escolas arcaicas, sem ferramentas tecnológicas, sem bibliotecas atualizadas, sem professores especialistas para todas as disciplinas, sem alegrias, sem reconhecimento profissional das múltiplas esferas de poder. Entretanto, quando pego firme o palito de giz, rabisco o conteúdo do dia naquele velho quadro empoeirado e começo a divagar no conhecimento, o respaldo daquela platéia de educandos que sonha um dia em ter uma profissão que lhes dê o sustento e a independência de vida, convenço-me que não estou ali à toa.
Sei que posso regar aquelas pequenas árvores e construir no futuro um jardim de sonhos, um porto seguro, um modesto altar de esperança onde cada pai e cada mãe de cada arvorezinha sentada numa carteira remendada, com a simplicidade do lápis, borracha, do caderninho dos mais baratos, lendo o livro doado pelo governo, tem a certeza de ser aquele momento, a herança mais valiosa deixada aos filhos. A banca para venda de espetinho com mandioca vai esperar por mim um pouco mais!
*O autor é professor de filosofia em Jí-Paraná – (E-mail: [email protected] – BLOG: http://digtobfilho.blogspot.com)
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