Segunda-feira, 7 de novembro de 2016 - 14h02
Montagem fotográfica de imagens de Heráclito Rodrigues/Por Marcos Santilli
Não apenas um rosto anônimo, invisível...
Heráclito era culto, elegante, poeta, politizado.
Hoje, é bom que se diga, ninguém sabe que existiram homens dessa casta aqui em Porto Velho.
Homens valorosos, em determinados momentos de nossa história, antes no Território Federal do Guaporé, depois no Território e Estado de Rondônia.
Poderia ser preservada essa memória, a história de um patrimônio humano nosso... Mas quem faria isso?
Luiz Leite de Oliveira (*)
A cena de Heráclito Rodrigues filmada por Mayra é curta. Ele percorre e redescobre, a pé com alguns amigos, o caminho do trem, desaparecido na floresta. Na época, com seus quase 90 anos, exibia garra comovente. Ainda se tinha esperança.
Em determinado momento, naquela caminhada de idealistas, quando aquele grupo de homens passa à frente de locomotivas abandonadas, Heráclito não se contém. Suas lágrimas molham e brilham no seu rosto vermelho na manhã escaldante de inverno, no início dos anos de 1990.
Entre o suor causado pelo mormaço amazônico, ele grita quase desesperado: “Ela pede por j u s t i ç a !”. Comovente.
É preciso dizer quem foi Heráclito Rodrigues, não apenas um rosto bonito, marcante a ser explorado por uma excelente montagem fotográfica, na forma artística.
Ele foi um herói anônimo, oculto, a exemplo de outros: Geraldo Siqueira (Cabeça de alumínio), Joventino Ferreira Filho, Antônio Leite de Oliveira, Waldemar de Almeida, Chico Preto, Jorge Queiroz, Raimunda Leite, Auxiliadora Lobo e muitos outros.
Era uma geração de homens, todos foram ferroviários da Madeira-Mamoré. Extremamente cultos, honrados, politizados, brasileiros, não permitiram ou não se submetiam ao tacão militar, quando da intervenção a partir de 1964.
Em determinado momento eles se destacaram na resistência, postularam a volta da democracia e não aceitaram a paralisação da Madeira-Mamoré. Mobilizavam-se pela volta do trem.
Poucos exigiram isso.
De outro lado, uma pequena parte, da tradição “aluizista”, fazia o papel de massa de manobra acovardada, receptiva, boazinha. Muitos ficaram silenciosos, outros em cima do muro, até receptivos aos novos “chegantes” após os militares – uma massa de sertanejos, alguns dos quais de olho na política partidária.
Aos poucos foi se estabelecendo a cultura do descrédito dos que viviam e moravam aqui. Impunha-se um novo sotaque.
Claro, ninguém se obrigou a saber da existência desses homens ferroviários, passagem difícil na época do militarismo. Desses que se ombrearam com Heráclito e a outros porto-velhenses, na luta por ideais.
Ninguém soube da importância de que foram eles, anônimos, perseguidos, descriminados, corajosos, por não aderirem à militarização da ferrovia. Poucos amigos ferroviários lutaram pela volta da democracia, pela reativação do trem. Portanto, foram grandes brasileiros, ferroviários, simples, humanos, poetas também.
Lembramo-nos desses homens no cinema documentário premiado, “O Delírio – Drams and tracks”, a ser apresentado dia 28 de novembro, no Cine USP, no 11º Seminário Internacional NUTAU, 2016.
O filme retrata um pouco da história do amor pela ferrovia e a violenta destruição do meio ambiente e da EFMM. Mostra a guerra direcionada principalmente contra os ribeirinhos, caboclos e amigos da ferrovia. Direcionada e apontada só para quem discordasse das instalações destruidoras das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau. Os tempos eram outros.
Enquanto raposas políticas que chegaram antes, de “pau de arara”, instalavam-se em Rondônia, eles executaram um plano. Sim, espertamente viabilizaram uma política de descrédito ao povo rondoniense, nos amordaçaram. Deu no que deu...
A safadeza dos políticos de Rondônia é citada n’O Delírio” para silenciar, coagir e viabilizar esses empreendimentos doido, do rio Madeira represado.
No início dos anos 1990, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré ainda estava inteira, com chance de ser reconstruída.
Diferentemente de hoje, quando a bandidagem política e de governantes desonestos de Rondônia amordaçou o porto-velhense, inviabilizando a mais famosa ferrovia do mundo construída no começo do século 20.
Nunca mais o trem voltou, mas eles viabilizaram as hidrelétricas no Alto Madeira como se fossem a redenção de nossa região. E a história foi maltratada.
A resistência e a coragem daquele homem permanecem vivas na memória daqueles que com ele conviveram e admiraram o seu caráter e obstinação.
Heráclito, um herói!
(*) O autor é arquiteto e urbanista, presidente da AMMA, diretor de “O delírio – Drams and tracks” – Trilhos e Sonhos".
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