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ARTIGO: NEM TUDO É FESTA


 
                                                                      
Por: Ariel Argobe (*)
 
Lideranças do segmento LGBT e ONGs que militam na defesa da cidadania de homossexuais, mobilizam-se nos bastidores do poder, peregrinado pelos corredores das instituições públicas do município e do estado, em gabinetes de parlamentares e empresários, em busca de apoio para levar às ruas da cidade uma manifestação resultante de um grandioso fenômeno social que tomou forma no mundo inteiro: a Parada do Orgulho Gay. Em um primeiro momento, as paradas gays cumpriram um relevante e inegável papel: dar visibilidade a um segmento social marginalizado e alienado de sua cidadania ao longo dos séculos. Nas duas úlitmas décadas o movimento gay destruiu com o gueto, retirando das trevas e colocando nas ruas, com ampla visibilidade, um segmento que historicamente habitou as sobras. 
 
Hoje, as paradas realizadas em todo Brasil - e ao redor do mundo - trazem, quase sempre, o comum perfil da irreverência e da festa frivolamente carnavalizada. Com este perfil, as paradas cumprem apenas uma única e perigosa missão: varrer e esconder para debaixo do tapete social a realidade dolorida de milhares de brasileiros e brasileiras, vítimas de uma violência que vai muito além da agressão física. Cidadãos que se tornam contumazes reféns da impetuosa violência moral, inclusive vitimando crianças e adolescentes com tendências homossexuais, que freqüentam espaços públicos e privados, especialmente escolas, abrigos ou centros de ressocialização de menores em conflitos com a lei.
 
Quais as razões que levam homens e mulheres, jovens e adultos, brancos e negros, heterossexuais e homossexuais à marcha? Certamente há razões concretas para este levante. A história dos embates dos gêneros, das raças e das classes sociais, dentre tantos outros, que há muito lutam por justiça, sinaliza na direção de um único caminho, que leva ao pleno exercício da cidadania e da justiça social para todos e - sendo redundante - todas.
 
Um dia, legítimos motivos levaram - e ainda levam - mulheres, negros, trabalhadores e sem terras, brasileiros de todos os matizes, oprimidos, a marcharem pelas ruas e praças das cidades, ora avançando por sobre o discurso sexista da sociedade machista; ora promovendo o encurtamento do fosso social que separa negros de brancos; em outros momentos, combatendo a inescrupulosa doutrina do capital desumano, que distância patrão de empregado; e em batalhas campesinas, reorganizando a propriedade, com mais justiça agrária, entre latifundiários e sem terras. Movimentos sociais que há décadas e séculos vislumbram e consolidam, paulatinamente, uma sociedade mais fraterna e igualitária.
 
Materializar a Parada do Orgulho Gay apenas através da realização de uma espetacular e grande festa ― no viés exclusivo do evento ― não é mais possível. A prática festiva não está excluída na proposta da Marcha Municipal pela Diversidade Sexual “Professor Roberto Farias”. Ao contrário, deve ser mantida e é complementar à prática imprescindível da inserção de todos os cidadãos, seja heterossexual ou homossexual, nas discussões e proposições de diretrizes balizadoras para futuras atitudes da instituição pública, com o propósito da transformação concreta da realidade social do segmento LGBT. A Marcha que agora se defende, vai muito além da festa frívola e carnavalizante. Propõe-se avançar, com gestos fraternos e conciliadores, por sobre o conservador, preconceituoso e irracional discurso messiânico-capitalista, que se capilariza perigosamente nas entranhas do Estado laico. A Marcha pretende espraiar a luz da justiça sobre a população homossexual, marginalizada ao romper dos séculos. Busca garantir justiça para este segmento sacrificado em todas as eras e covardemente perseguido e agredido, moral e fisicamente, por posturas e discursos violentamente homofóbicos, reinante em todos os tempos. Luta para combater e erradicar hábitos injustos e covardes impostos ao segmento LGBT. Práticas preconceituosas que teimam enraizar-se na sociedade, ocupando espaços, inclusive, em todos os poderes e níveis de governo.
 
AMarcha reveste-se hoje de significativa, imprescindívele necessária importância política e organizacional, com o propósito legítimo e verdadeiro de alavancar o movimento LGBT na cidade de Porto Velho, e fazer reverberar em todo Estado de Rondônia, os ventos das possíveis mudanças, a serem aplicados no campo da cidadania, da tolerância, da reparação e do respeito aos indivíduos homossexuais.
 
A necessidade de se compreender a afirmação de uma estratégia política do segmento e a conclamação para o comprometimento de todos os portovelhenses, no sentido da superação da violência explicita ou velada - abrigada nos fortes e covardes braços da homofobia -, se define como tática com real possibilidade transformadora e efetiva da cidadania da população LGBT. Uma estratégia revestida de unidade política, caráter amplo, contemplando os vários pensamentos, correntes e movimentos envolvidos no processo. Só assim o segmento avançará na conquista da institucionalização de ações públicas continuadas para este segmento, alcançando, por conseguinte, espaço e respeito no meio social.
 
Homens e mulheres, crianças, jovens e idosos; negros e brancos; ricos e pobres; centro e periferia; ateus e praticantes dos mais variados credos que participarem da II Marcha Municipal pela Diversidade Sexual “Professor Roberto Farias”, no dia 27 de setembro, ou da 7ª Parada do Orgulho Gay de Rondônia, no dia 11 de outubro, certamente encontrará milhares de pessoas, aparentemente felizes, confraternizando-se num clima inconfundível de carnaval. Podemos, então, indagar: Ao logo destes sete anos de realização da Para Gay em Porto Velho, quais os reais avanços no âmbito das políticas públicas instituídas pela administração municipal e estadual, que contemplem tratamento de respeito e cidadão para o segmento? Nas escolas, na rede de saúde, no trabalho, nas ruas e praças, nos espaços público e privado, o que mudou, com o fito de promover reparação e dignidade para população LGBT?
 
A conferência dos avanços e retrocessos no plano das conquistas sociais alcançadas ou não por gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis; a reflexão das atitudes empreendidas pelo segmento e a reorganização estratégica e política do movimento, deverão ser uma prática constante, com o propósito de se promover um enfrentamento vitorioso para conquista dos direitos mínimos do cidadão homossexual, erradicando-se, ainda, das relações sociais, o preconceito e a homofobia.
 
(*) Artista Plástico , Funcionário Público da Universidade Federal de Rondônia e colaborador do Setorial GLBT-PT e do Coletivo TUCUXI.

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