Porto Velho (RO) sexta-feira, 11 de julho de 2025
opsfasdfas
×
Gente de Opinião

Opinião

“Ainda Estou Aqui” e o debate que a política insiste em ignorar


Ivan Lara - Gente de Opinião
Ivan Lara

Fui assistir ao filme Ainda Estou Aqui no cinema em Porto Velho. Uma produção bem executada, com uma narrativa envolvente, que retrata o lado da família de uma vítima do regime militar. Não se trata de um filme que deva ser ignorado. A história que ele conta é interessante, mas apresenta apenas um lado. E essa não é uma crítica ao filme, mas sim uma reflexão sobre o problema do debate político no Brasil. Ele se fecha em narrativas prontas, sem espaço para ampliar a discussão e trazer à tona questões que são tão ou mais urgentes do que as do passado.

Já vimos isso antes no caso do Pix. A discussão deveria ser sobre rastreabilidade financeira e formalização econômica, mas o debate foi sequestrado por discursos polarizados. Um lado distorcia os fatos para atacar; o outro evitava esclarecer para não se desgastar politicamente. O mesmo está acontecendo agora com Ainda Estou Aqui. De um lado, a esquerda exalta o filme como um grande acerto. Do outro, a direita finge que ele nem existe. E, mais uma vez, perde-se a oportunidade de um debate real sobre o que está acontecendo hoje.

A questão central deveria ser outra. Segundo a Comissão da Verdade, durante os 21 anos do regime militar, foram registradas 434 mortes e desaparecimentos políticos. Um número trágico, sem dúvida. Mas agora, em 2024, segundo o Grupo de Investigação Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Giel/Unirio), o Brasil teve 76 assassinatos políticos, além de centenas de agressões, ameaças e atentados. Hoje, a política mata mais do que na ditadura. E quem está discutindo isso?

O silêncio estratégico domina a política brasileira. Para um lado, interessa manter o foco no passado, porque é uma narrativa consolidada e emocionalmente mobilizadora. Para o outro, interessa ignorar completamente a discussão para não desgastar sua base. Ninguém quer trazer o debate para o presente, porque isso exigiria reconhecer que a violência política hoje não é uma abstração, mas um problema concreto que afeta a democracia.

E aqui está a oportunidade desperdiçada. Em um cenário polarizado, aqueles que conseguirem romper essa lógica binária e trazer o debate para onde ele realmente importa podem se destacar. Em vez de seguir a cartilha previsível dos extremos, é possível construir um posicionamento sólido ao apontar fatos, questionar o que está sendo ignorado e propor soluções. Quem souber transformar esse silêncio em uma pauta relevante pode não apenas capturar um espaço inexplorado no debate público, mas também construir uma imagem de liderança e compromisso real com a sociedade.

A pergunta não gira em torno de Ainda Estou Aqui, mas sim: onde está o debate político real? Enquanto os extremos continuam presos às mesmas narrativas, quem tiver coragem de sair desse roteiro previsível terá uma oportunidade única de se destacar.

Ivan Lara – Estrategista, consultor de marketing político e especialista em comunicação governamental

Gente de OpiniãoSexta-feira, 11 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A Onda Guerreira Ameaça Dominar os Diferentes Sectores da Sociedade: Um Apelo à Consciência

A Onda Guerreira Ameaça Dominar os Diferentes Sectores da Sociedade: Um Apelo à Consciência

Kassel: do passado destruído ao presente Belicista Durante a Segunda Guerra Mundial, dois terços da cidade de Kassel, na Alemanha, foram reduzidos

Começou a “guerra dos ricos contra os pobres”

Começou a “guerra dos ricos contra os pobres”

Aproxima-se a eleição presidencial. Motivado pela derrota acachapante que o Congresso impôs ao seu governo durante a votação do IOF, o presidente Lu

O Brasil pertence aos ricos

O Brasil pertence aos ricos

Há mais de meio século que o Brasil figura entre as dez maiores economias do mundo. O seu PIB é equivalente hoje ao de países como Itália, Rússia, C

Jesus nos acuda!

Jesus nos acuda!

O Brasil vive uma barafunda generalizada, onde quase todos reclamam do governo Lula, mas poucos são aqueles que estão dispostos a dar sua cota de sa

Gente de Opinião Sexta-feira, 11 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)