Terça-feira, 20 de maio de 2014 - 07h01
Felipe Azzi
Contam-se “causos” de pessoas simples ancoradas a vida toda onde nasceram que, ao conhecerem por primeira vez cidades grandes, chamadas metrópoles, e surpreendidas pelo progresso nunca visto, figuram no anedotário popular. É o caso da transação envolvendo um Bonde na cidade do Rio de Janeiro, mais ou menos assim comentado:
Estando um cidadão simplório a apreciar o transitar dos Bondes, admirando o charme desses antigos veículos, chega um histórico “malandro” carioca, e pergunta:
– O amigo gostou do Bonde?
– Gostei!... – Disse, com interesse provinciano, o matuto.
– Posso vendê-lo... Tenho muitos!... – Ofereceu o malandro.
Foi assim que um bonde da Light – pioneira Companhia carril do Rio de Janeiro – foi “vendido” para um imaginário e desconhecido comprador interiorano, por quinhentos mil réis, na década de trinta do século passado.
Mas o nosso caso é bem outro:
Chegando o Coronel Saldanha na sua fazenda em Ilha das Flores, em visita de rotina, aprovou todos os melhoramentos e o trato do gado sob a responsabilidade de seu sobrinho, João Saldanha, jovem espirituoso e de resposta rápida. Não gostou, porém, do semblante de Firmino Alcaluz Morgado, campeiro boliviano, bom de montaria e de laçada fácil, já abrasileirado pelos muitos anos aqui vividos, e estipulou:
– Esse homem está “maleitoso”... Está “empambado” e mais amarelo do que o losango da bandeira nacional!...
O jovem João Saldanha, de língua solta, justificou:
– Só de ver a figura do Coronel, de surpresa, o sangue sumiu para a parte mais escondida de seu corpo. Coitado!
– Deixe de galhofa, que o caso é sério. Na descida do “Costa Marques”, vou levá-lo comigo e mandá-lo ao Rio de Janeiro, que é o lugar especial para debelar essas mazelas. – Deliberou o Coronel.
Firmino despediu-se de sua Ramona e baixou à Guajará, para embarcar num “Condor” rumo ao Rio de Janeiro onde, em palacete avarandado na Rua São Clemente do Bairro de Botafogo, receberia tratamento de príncipe, do Guaporé, é verdade, mas não menos “real”. Levou carta recomendativa que estipulava:
“Quero para Firmino tratamento fidalgo... Que tenha de ‘um tudo’ no que precisar!” Determinava o Coronel.
Enquanto tratava do miasma, Firmino, na companhia de Ponciano Azevedo Badenes, vasculhou as belezas da Cidade Maravilhosa. Mas teve as suas dificuldades. Não conseguiu subir pela escada rolante de um pioneiro Centro Comercial de Copacabana. Ao deparar-se com o engenhoso aparato em movimento, arrepiou espanto:
– Vôte!... Que diabo é isso, seu compadre?
– É Escada Rolante, Firmino... A gente sobe por ela sem fazer esforço... Veja como é fácil!
E Ponciano, demonstrador escolado, subiu pela escada rolante encorajando Firmino:
– Venha, “Bicho Velho”... Coloque o pé no primeiro degrau e deixa o resto por conta da escada... Venha!... – Insistiu.
– Mas, homem de Deus, bem que eu quero... Mas o diacho não para!... Quando vou colocar o pé, o degrau já vai longe. – Reclamou Firmino.
Por fim, empurrado por usuários apressados, Firmino, de quatro, chegou ao topo da escada, afagando o próprio traseiro e, com a verruma do olhar, condenando a escada rolante.
De outra feita, enquanto Ponciano fora entregar correspondência enviada pelo Coronel Saldanha para o Ministério da Guerra, Firmino, em passeio relaxante no Campo de Santana, ficou impressionado com a tarefa que um sujeito fazia, se escondendo debaixo de um pano preto, atrás de uma caixa de madeira com esquisito olho redondo, lavando e enxugando um treco de metal, de onde recolhia um papel desenhado. Interessado, perguntou:
– Esse aparelho desenha tudo o que vê pela frente?
– Não desenha – disse o fotógrafo – apenas copia a imagem exposta, o que resulta na foto – mostrando para Firmino algumas fotografias.
Firmino, com a cabeça ocupada pela lembrança fagueira de sua Ramona, mostrou desejo:
– Quero, neste justo momento, tirar um retrato!
– A máquina está pronta... Faça a pose para eu disparar o diafragma. – Disse o “lambe-lambe”.
– Não quero aula de tiro... Porque nisso já sou “bamba” lá nas terras de Ilha das Flores... Quero apenas o retrato! – Disse Firmino, alojando-se atrás de uma árvore de tronco largo.
– Já posso bater... Apareça na frente da câmera! – Disse o já impaciente fotógrafo.
– Bata logo, homem de Deus!... Já estou pronto. – Confirmou Firmino.
– Mas, se eu bater desse jeito, só vai aparecer na foto a árvore... Venha para frente da câmera! – Insistiu o fotógrafo.
– Eu quero assim mesmo – disse Firmino com a pureza dos inocentes – pois pretendo mandar a foto para Ramona... E rir de sua cara, quando ela disser: “Firmino deve estar maluco... disse que estava mandando a sua foto no Rio de Janeiro e eu só vejo aqui uma árvore”. Então, eu saio detrás da árvore e meto-lhe um susto dos capetas, gritando: “HUUUU! ESTOU AQUI”.
A bem dizer, Firmino nem precisou mandar a tal foto, posto que, curado da maleita, retornou de pronto à Ilha das Flores. E, em conversa cheia de novidades com a sua Ramona, mostrou queixume com destinatários a bordo:
– Ramona, o Rio de Janeiro é maravilhoso, mas o inconveniente é o apressadinho do povo nas ruas e uma tal de Escada Volante que não deixa o infeliz de pé.
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