Porto Velho (RO) sexta-feira, 19 de abril de 2024
opsfasdfas
×
Gente de Opinião

Viriato Moura

SABOR DO AMANHECER


SABOR DO AMANHECER - Gente de Opinião

Desde a véspera já me sentia feliz. Só em pensar, dava água na boca. Era criança, entre sete e  dez anos de idade, quando cultivava o  hábito de acompanhar meu avô Moura ao mercado. Não ia para ajudá-lo a trazer as compras. Minha intenção era bem outra, egoísta como convém às crianças. Mesmo porque aquela saída, por volta das cinco da madrugada, exigia um despertar muito antes do horário habitual —levantar cedo, só contra a vontade para tomar remédio para vermes. Por isto, recomendava ao vovô que me despertasse.

Ir ao Mercado Municipal era um hábito cotidiano da maioria dos pais de família que moravam em Porto Velho há algumas décadas, certamente como acontecia em outras cidades brasileiras antes do advento dos supermercados. Havia mulheres que iam, mas era tarefa tipicamente masculina.

Somente os ditos miúdos,  as vísceras bovinas,  eram compradas na véspera, por volta das cinco da tarde, quando uma fila se postava à porta do mercado,  pelo lado da rua José da Alencar. Portando cestas de cipó titica ou ambé traçados, pessoas de todas as idades esperavam a vez para comprar fígado, miolo,  bucho, tripa etc.

As carnes chegavam em caminhões abertos, sem proteção higiênica. Durante muitos anos, o produto vinha da Bolívia. Somente no dia seguinte, os diversos tipos de carne eram postos à venda. Em tempos de escassez, comprar esse produto de melhor qualidade exigia certo prestígio com os açougueiros. Pagar melhor era um bom aditivo para gozar do tal “prestígio”.

A minha gula infantil, de olhos maiores que a barriga, era atraída apenas por um detalhe do velho mercado de nosso passado. Carnes, verduras, farinha, especiarias e demais alimentos eram da conta de meu avô, que seguia a lista preparada na véspera pela vovó. Nem tanto à risca, já que suprimia sempre algum item  — “por economia”, dizia.

Enquanto ele ia fazendo as compras, preparava-me para o momento ansiosamente esperado: a parada na banca da dona Chiquinha, negra esbelta, com suas mãos de fada para preparar saborosos mingaus de milho, banana e tapioca. Eu preferia o de milho, o munguzá. Misturado com  o de tapioca ou o de banana também ficava uma delícia. E as tapioquinhas, que podiam ser servidas úmidas, ao leite de coco, com cobertura da fruta ralada, ou quentinhas com manteiga. Tudo com sabor de hoje de manhã...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 19 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Sem solidariedade e compaixão, ainda que saiba medicina, o médico não fará uma boa medicina

Sem solidariedade e compaixão, ainda que saiba medicina, o médico não fará uma boa medicina

As crianças ouvem tanto “não faça isso”, “isso não pode”, “isso faz mal” e tantas outras reprimendas que podem conclui que viver faz mal à saúde. O

A previsibilidade, num confronto, abre caminho para a derrota

A previsibilidade, num confronto, abre caminho para a derrota

A fé no imponderável, no divino, dá vida mais longa à esperança.O silêncio é duvidoso.A insegurança convence mais que a segurança.Quem nunca diz o q

A carência de nobreza rasteja entre a vaidade e a hipocrisia

A carência de nobreza rasteja entre a vaidade e a hipocrisia

Entre o que somos e o que gostaríamos de ser, caminham nossas frustrações.A conduta expectante precisa de conhecimento, experiência e sensatez para

Gente de Opinião Sexta-feira, 19 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)