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Viriato Moura

20 ANOS SEM NOSSO DOUTOR ADELINO


Lembro-me como se fosse hoje, ainda tomado de emoção, do trágico início de noite do domingo que Adelino partiu. Eu estava na casa de nossa mãe, quando, por volta das 19 horas, o telefone tocou. Do outro lado da linha, o José Roberto, filho dele, em convulsivo pranto, informou-me, sem preparação, que Adelino havia morrido. Impactado pela notícia, mas não podendo expressá-la face a proximidade em que se encontravaGente de Opinião nossa mãe, só tive tempo de saber onde estava o corpo e o que tinha acontecido. Zé Roberto disse que estava no João Paulo e fora atropelamento. Chamei minha mulher, e disse-lhe que precisava sair, e pedi-lhe que fosse comigo (não dei explicações para mamãe que, claro, ficou apreensiva, preocupada). Dei a notícia para Ana Christina já dentro do carro.

No caminho, negava-me a acreditar que o nosso Adelino tinha partido assim sem mais nem menos. Ao chegar ao pronto-socorro, a notícia já corria. No corredor da unidade de saúde, deparei-me com uma cena que gostaria de apagar da minha memória: numa maca, o corpo de Adelino, com diversas fraturas expostas, afundamento de crânio e de tórax – devido à violência do trauma provocado por um carro sem freio, a morte ocorreu no local do acidente.

Havia acabado, há poucos minutos, uma vida vibrante, dedicada à muitas causas nobres, humanitárias. Adelino foi o pediatra mais conhecido de sua época. Dado ao seu temperamento efusivo, fazia amigos com facilidade. Gostava de ajudar as pessoas. Amava esta terra de verdade – quando um certo governador quis mudar a capital para Mirante da Serra, uma cidadezinha do interior, Adelino largou seus afazeres, e foi para a Assembleia Legislativa para contestar com todas as forças de seus pulmões, aos gritos, a aprovação do descabido projeto. Fez muito barulho, e comandou vaias aos deputados que pretendiam votar a favor, o que impossibilitou a realização da sessão. O projeto jamais voltou à pauta.

Adelino
era intenso. Por outro lado, o que nele parecia agressivo, não passava de “da boca pra fora”. Muitas vezes, nós, da família, deixávamos de falar com “desafetos” dele, enquanto ele, pouco tempo depois, demonstrava amizade ao tal “desafeto” como se nada tivesse acontecido. Perdoar era uma marca em seu jeito de ser.

A morte precoce de Adelino, aos 55 anos, entristeceu nossa Porto Velho de então. Conhecido e reconhecido pelos seus feitos, por pessoas de todas as classes sociais, seu velório, na Câmara Municipal, atestou a gratidão do povo que ele tanto amou. Uma multidão compareceu àquela derradeira despedida.

Ao lembrar os 20 anos de sua ausência o faço com a mesma emoção do dia em que escrevi seu necrológio. Ao longo dessas duas décadas, os momentos mais efusivos que vivi me fizeram lembrar Adelino, cuja presença significava, antes de tudo, alegria. Quem o conheceu mais de perto há de concordar que, nos ambientes amigos que ele tanto gostava de conviver, ele fazia a diferença. A melhor diferença. Porque, para ele, a vida tinha de ser uma festa.

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