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Serpa do Amaral

Os homens do poder sempre passarão; o bom humor, passarim!


 Os homens do poder sempre passarão; o bom humor, passarim! - Gente de Opinião

Apesar do vazio cultural, da perda irreparável para o humanismo e para a criatividade brasileira e do profundo incômodo emocional provocado pela partida do Pai do Menino Maluquinho, confesso que amei a homenagem que o nosso ilustre presidente da Academia, professor Diego Vasconcelos, prestou ao grande artista brasileiro, Ziraldo! 

Corriam os anos de meados de 70, não sabia que não sabia, quando tive os primeiros contatos com os personagens concebidos pela inteligência florescente e efervescente do brilhante cartunista, através das publicações que ele fazia no Pasquim, semanário criado no final de 1968, articulado pelo também cartunista Jaguar e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral.

O nome Pasquim, que significa jornaleco difamador, folhetim burlesco, foi escolhido propositalmente pelo Jaguar, que, se antecipando às críticas e gritas maldosas que poderiam advir com a publicação, especialmente dos setores políticos, sociais e intelectuais que apoiavam a Ditadura Militar, sugeriu esse nome para o periódico - e pegou!  

Ziraldo era mineiro de Caratinga, conterrâneo, portanto, na mineiriçe, do poeta Carlos Drummond de Andrade e dos cronistas Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino, mas o seu humor e sua pegada graciosa e inventiva advinha, sem dúvida, do espírito carioca, adquirido por longos anos de moradia na Cidade Maravilhosa. 

Por sua profícua militância no Partido Democrático do Bom Humor e publicações de suas charges e cartuns políticos, o que na época soava como prática subversiva aos olhos dos homens do poder e do status quo daquela quadra histórica, ele pagou três vezes com a suspensão impositiva do exercício do direito à liberdade de ir e vir, sendo preso a mando do regime militar; ele e quase toda a turma do Pasquim. Porém, isso não o intimidou! Liberto, o irrequieto cartunista voltou à produção dos seus personagens, oxigenando com a picardia os ares sombrios que envolviam toda a nação brasileira no chamado “anos de chumbo” por alguns articulistas.  

Os traços e textos do mestre do cartum tinham realmente um conteúdo político, mas não político no sentido menor, de politiquice, politiqueiro, politicalho, ação política perversa ou algo que o valha, mas Político no sentido maior, latu sensu, aristotélico, de homo politicus, isto é, de homem destinado a viver na polis, no exercício pleno das suas capacidades de reflexão moral, de formador de opinião, de deliberação cidadânica e participação social com vistas a colaborar, por amor ao próximo e à democracia, com os bons desígnios da vida comunitária. 

A criação da Turma do Pererê, que narrava as aventuras do Saci Pererê e seus amigos da Mata do Fundão, um índio, uma onça, um macaco, um tatu e um jabuti, inundou de fantasias maravilhosas o mundo encantado da criançada brasileira. Logo em seguida Ziraldo se superaria e apresentaria ao país seu personagem mais famoso e surpreendente: O Menino Maluquinho! Acertei no milhar!!, teria dito ele no dia em que sua fantástica imaginação deu vida a esse moleque levado da breca! A criatividade brasileira nunca mais foi a mesma, desde então.

Vai-se o homem, ficam a obra e os valores humanísticos que ela nos trouxe! 

Meninos Maluquinhos e Meninas Maluquinhas de todo mundo, uni-vos em saudação de despedida ao vosso pai! 

Se Deus é brasileiro, Ziraldo é a sublime encarnação do bom humor outorgado em dádiva metafísica pelo Criador do Universo! 

Em apertada síntese, fica a lição: Os homens do poder sempre passarão! O bom humor, passarim! 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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