Porto Velho (RO) quinta-feira, 5 de junho de 2025
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Gente de Opinião

Sandra Castiel

O SENHOR MORTO E A SEMANA SANTA


Nas últimas décadas a Semana Santa vem sendo marcada, sobretudo, pelo simbolismo da Páscoa, ou seja, congratulações, desejos de feliz páscoa e principalmente pela profusão de ovos de chocolate espalhados pelo comércio de todas as cidades brasileiras. Porém, nem sempre foi assim, pelo menos para mim, cabocla nascida e crescida no longínquo Território Federal do Guaporé, hoje Rondônia, cuja capital é Porto Velho.

Apesar de não pertencer a uma família católica, nós, as crianças da minha família, participávamos de toda a solenidade, de toda a compenetração  e de todo o ritual que envolvia a igreja católica e os cristãos da época: era deveras impressionante!

Sexta-feira santa era dia de luto. Entrava-se na catedral de Porto Velho e deparava-se com uma cena impactante, pois as imagens dos santos eram todas cobertas com tecido roxo-escuro; as centenas de pessoas que procuravam a Igreja nesse dia pisavam levemente, para não perturbar o velório que acontecia ali: em uma grande urna envidraçada, jazia,  ensanguentado e com a coroa de espinhos na cabeça,  o corpo do Senhor morto. À sua volta, as beatas da Igreja, com suas vestes escuras e terços nas mãos, oravam fervorosamente. Esta imagem jamais me saiu da cabeça sempre que se aproxima a Semana Santa.

O luto era intenso nas residências cristãs ao longo de todo esse dia; falava-se baixinho, não se varria a casa e os espelhos eram cobertos; na época, eu não entendia esse simbolismo, porém, hoje, acredito que cobrir os espelhos em sinal de luto significa evitar respeitosamente de olhar para a própria imagem, pois é momento de reverenciar o morto.

A sexta-feira era movimentada de transeuntes que se dirigiam à Igreja para velar o corpo do Senhor. Em nossa pequena cidade, na verdade um povoado, não se comia carne ao longo da semana;  aquela sexta-feira do ano era verdadeiramente santa, e isso era inquestionável.

No domingo, celebráva-se  a Páscoa com o espírito alegre, mesmo sem os tais ovos de páscoa ou brincadeiras envolvendo  coelhinhos de chocolate.

Velhos tempos ...

Que a Semana Santa possa trazer a todos nós a dimensão de seu significado. Feliz Páscoa a todos!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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