Sábado, 27 de novembro de 2010 - 10h49
RONDÔNIA DE ONTEM
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
“O ouro deu uma boa arrancada durante a semana, chegando a 98 mil cruzeiros o grama. Só que não apareceu para o comércio local”, publicava O Garimpeiro no alto do lado direito de sua primeira página, na semana de sete a 13 de outubro de 1985.
Faltavam pepitas nas balanças das lojas, sobrava fumaça na sede do Sindicato dos Garimpeiros de Rondônia (Singro), que então expulsava do seu quadro de sócios a irrequieta Mirasselva Carneiro dos Santos, a maior liderança feminina da classe.
Inadimplente, a mulher não pagara uma só mensalidade naquele ano. Suas sucessivas críticas à organização dos garimpos “balançavam” a diretoria presidida por Antonio Nunes Cardoso, o Canhoto. “Ela violou os estatutos e ainda mentiu”, ele acusava. O Singro nascera da extinta Aprotaga (Associação Profissional dos Trabalhadores em Garimpos de Rondônia), da qual herdara frutos bons e frutos podres.
Mirasselva incluía a falta de assistência médica nas suas queixas, no entanto, ela própria se beneficiava com o pagamento de 40% das despesas de uma cirurgia de um milhão de cruzeiros, à qual fora submetida na clínica conveniada com o Singro. Além disso, recebera auxílio financeiro para o tratamento de um filho.
Algumas pessoas da diretoria chamavam a garimpeira de “linguaruda”. Desentendimentos entre sócios e diretoria desnudavam a multifacetada representação dos garimpeiros, sujeita ao clima de exploração e perseguição ditado por grandes empresas construtoras e minerais. Guarnecidas por jagunços e pela polícia, essas empresas disputavam cada quilômetro de rio. Quase sempre, isso resultava em violência, como ocorreu na chacina dos Periquitos.
A expulsão de Mirasselva sangrava as feridas do Singro diante de seus milhares de associados e da sociedade rondoniense, cada vez mais perplexa diante da realidade até então imutável dos altos negócios e do perigoso contrabando explícito de ouro – um verdadeiro desafio às autoridades estaduais.
No triênio 1984-1986, a desenfreada corrida aos garimpos sofrera a intervenção da Secretaria da Fazenda, cujos funcionários passaram a emitir autorizações para novos garimpeiros. A operação se justificava por causa da “invasão” do Tamborete, que recebera milhares de homens procedentes do garimpo de Serraria.
Ao lado de sua mais forte aliada, a Companhia de Mineração de Rondônia, o Singro atenuava o clima tenso, pedindo “a compreensão dos dragueiros”, esses poderosos senhores também maculados pelas críticas de Mirasselva. Dragueiros e balseiros tinham suas culpas no cartório. Afinal, os garimpos não eram formados por santos.
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