Segunda-feira, 18 de julho de 2011 - 12h49
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
No início de outubro de 1983 o juiz de Direito de Jaru, Marco Antônio de Faria tirou por algumas horas a tranqüilidade dos garimpeiros de Serra Sem Calças, ao conceder uma liminar contra eles, em benefício de proprietários rurais cujas terras têm ocorrência de ouro.
Um dia depois a autoridade reconsiderava a questão, atendendo à justificativa de um oficial da Polícia Militar que acompanhou o representante da Justiça encarregado de executar a sentença.
A autoridade percebeu que a medida causaria um problema social e oficiou ao governo no sentido de solucionar, sem prejuízos para ambos os lados, o problema dos garimpeiros que ocupam lotes de agricultores. Para esses, no momento, os garimpeiros vêm recolhendo dízimo do Imposto Único Sobre Minerais (IUM).
Não há policiamento na área do garimpo, cabendo aos donos da Boate Fuscão Preto – a única do lugar – zelar pela segurança das mulheres que ali chegam às dezenas. Durante o dia elas recepcionam as mais novas, vindas de Porto Velho e do Estado do Acre; jogam baralho nas mesas de bar e, à noite, disputam os mais afortunados fazendo programas a preços que variam de 30 mil cruzeiros a 100 mil.
“Isto aqui, à noite, parece festa junina: você ouve tiros pra todo lado. Mas é a alegria do garimpeiro: no meio de uma mata dessas, disparar revólver é apenas um desabafo”, revela o bem sucedido empresário Nei Campos Goes. Ex-secretário municipal em Ji-Paraná, inspetor geral da Eucatur, ele entrou cedo em Serra Sem Calças para “conseguir um lucrinho nesse ano de crise.”
No alto da serra o bolicho mais sortido é o seu Bafo de Onça, onde são vendidos desde o sabão em pó a querosene, refrigerantes, cachaça e gêneros alimentícios.
Lenda e realidade misturam-se nesse canto de Rondônia. O garimpeiro conhecido por Ceguinho não esperou muito para subir de status. Ao bamburrar pela segunda vez vendeu logo o ouro e comprou um automóvel Escort do ano, desfilando pelas ruas de Jaru em companhia de várias mulheres.
Outro garimpeiro quis imitá-lo: entrou numa boate às 21h, mandou fechar as portas, gastou todo o dinheiro e de manhã bateu o carro no poste.
Assim eram os “sortudos” de Serra Sem Calças – e da Amazônia. Aventureiros da cabeça aos pés.
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