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Montezuma Cruz

Povo Karitiana sepultará na aldeia o corpo do cacique Antonio Garcia (E)


 
Líder desse povo indígena de Rondônia ele morreu aos 69 anos e deixa o exemplo de coragem e resignação. 


MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia 

BRASÍLIA – O corpo do cacique Antonio Garcia Karitiana, 69 anos, será sepultado neste sábado, às 15h, na aldeia do Povo Indígena Karitiana, a 95 quilômetros de Porto Velho. Internado há três dias, ele morreu de parada cardíaca no Hospital de Base, possivelmente em conseqüência de câncer. Segundo a Fundação Nacional de Saúde, a biópsia revelará a causa mortis até a próxima semana. Antonio deixou viúva Maria Rosa Karitiana. Teve dez filhos do primeiro e do segundo casamento. 

“Ele e Cizinho Morais Karitiana guardam a nossa história. Os dois transmitiram aos mais jovens o sentimento de guerreiros que enfrentaram preconceitos e humilhações desde o contato com os brancos, nos anos 60”, disse, por telefone, antes de embarcar o corpo na manhã desta sexta-feira, o sobrinho do cacique, Elivar Karitiana, 26. “O cacique Antonio Karitiana sempre nos incentivou a correr atrás das coisas e sempre lembrar da nossa cultura”. Cizinho também tem 69 anos. A área de 89,6 mil hectares onde moram cerca de duzentos indígenas foi regularizada em 1987. 

Com o companheiro Cizinho, ele fundou a Associação do Povo Indígena Karitiana, entidade surgida pouco antes da elevação de Rondônia de território federal a Estado, em 1982. Ali na sede o seu corpo foi velado até a manhã desta sexta-feira, na presença de homens, mulheres e crianças. 

Povo Karitiana sepultará na aldeia o corpo do cacique Antonio Garcia (E) - Gente de Opinião
Menino Karitiana se diverte com o telefone celular /LÚ BRAGA

A pé, em busca de alimentos 

Há pouco mais de três décadas, quando a rodovia BR-364 ainda não era asfaltada, Antonio e um grupo de indígenas ia a pé até a capital, Porto Velho, para comprar mantimentos e buscar remédios. Na época, com a intercessão dos funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Porto Velho, sob a presidência do general Ismarth Araújo Oliveira, em Brasília, a aldeia obtinha os mínimos recursos para a sobrevivência tribal. 

Padres salesianos fizeram o primeiro contato dos Karitianas, ainda no período do extinto Serviço de Proteção ao Índio, órgão que antecedeu à Funai. Eles ainda dependem da caça, da pesca e das roças de subsistência. 

Renato, o filho, lembrou que “os olhos brilharam e a alegria tomou conta do seu coração”, ao participar este ano da instalação do Projeto de Inclusão Digital dos Índios Karitiana, concebido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia. “Mas ele se despediu de nós antes da formatura da primeira turma”, lamentou. Os primeiros 12 indígenas capacitados pelo TJ, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, vão se formar este mês. O TJ está criando um laboratório de informática dentro da aldeia, levando computadores, material didático e impressora. 

Cerco às aldeias 

No início dos anos 1980, com o funcionamento do Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste Brasileiro (Polonoroeste), as terras indígenas, ricas em madeira, essências nativas e lavouras de subsistência, especialmente mandioca, começaram a ser cobiçadas por investidores vindos do sul, centro-oeste e sudeste do País. Garimpeiros também foram para a região, durante a exploração do ouro de aluvião no Rio Madeira, nos anos 80. 

Corajosamente, mas com resignação, Antonio Garcia juntava a força dos chefes de família e rumava para a sede da 8ª Delegacia da Funai, onde reivindicava os direitos de sua gente. 

Povo Karitiana sepultará na aldeia o corpo do cacique Antonio Garcia (E) - Gente de Opinião

Crianças na Terra Indígena Karitiana têm escola e poderão aprender informática / LÚ BRAGA

Redescoberta 

Os Karitiana foram muito assediados, a exemplo de outros povos indígenas ao longo da rodovia federal ou mesmo afastados. Atualmente, suas casas de madeira e a escola de alvenaria contrastam com as antigas malocas feitas com folhas de palmeiras. 

Até o ano passado, o Ibama e a Secretaria estadual de meio Ambiente registravam mais de sete mil metros cúbicos de madeira roubados de suas terras, conforme documento elaborado pelo regional do Conselho Indigenista em Guajará-Mirim, a 362 quilômetros de Porto Velho. 

Só agora estudados pela antropologia, os Karitiana começam a ser redescobertos nos aspectos social e cultural. Além do Ensino Fundamental levado pelo governo, eles procuram reforçar o ensino da sua língua – a única remanescente da família lingüística Arikém –, e a valorização dos seus costumes e histórias, conforme afirmou Elivar Karitiana à Agência Amazônia. 

A última foto do cacique, feita pela jornalista Lú Braga, foi tirada recentemente, por ocasião da visita feita à aldeia pela presidente do Tribunal de Justiça de Rondônia, desembargadora Zelite Andrade Carneiro.
Índios Karitiana vão acessar a internet 


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Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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