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Montezuma Cruz

Pelo direito de ver a luz das estrelas


 

Longe se vai o tempo em que a maioria dos casais de namorados miravam o céu e se contemplavam nas estrelas. Não vê-las significa, hoje, perder um pedaço da vida. 

O céu é patrimônio da humanidade. No meio de tantas mediocridades sociais, culturais e políticas, li na semana passada uma notícia fantástica: astrônomos reunidos no Rio de Janeiro, na 27ª Assembléia-Geral da União Astronômica Internacional, lançaram uma resolução “em defesa do céu noturno e pelo direito à luz das estrelas”. Ou seja: “um céu noturno não poluído, que permita a contemplação do firmamento, deve ser considerado um direito sociocultural e ambiental fundamental” (perdão pelo eco). 

Depois desse congresso, os astrônomos brasileiros criaram a Maratona da Via Láctea, cuja primeira atividade será em setembro deste 2009. Eles querem promover encontros para o público medir e conhecer o impacto do excesso de luz em algumas cidades. 

Bem, este é o Ano Internacional da Astronomia e o desabafo justifica-se em sua plenitude. As pessoas precisam se conscientizar de que faz bem ver o céu estrelado. E aos empresários, hoteleiros e agentes de viagem: cidade que tem céu limpo, “vende” seus pontos turísticos. 

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Augusto Damneli: 30% da iluminação elétrica é jogada para o céu, desperdiçada



A maratona implica uma série de conquistas. Talvez, a maior dela seja racionalizar ou pôr fim às iluminações por energia elétrica, excessivas e na maioria das vezes dispensáveis. Segundo o cientista Augusto Damineli, o representante brasileiro nessa assembléia, 30% da iluminação elétrica é jogada para o céu, ou seja, desperdiçada”. Para ele, essa poluição é a mais fácil de combater: “Em vez de empregar dinheiro, você economiza”, ele diz. 

O Terceiro Milênio nos proporcionará o astroturismo. Dizem que a constelação de Escorpião fica no meio da Via Láctea e pode ser apreciada de todo o Brasil. Mas ainda é desconhecida de muita gente. Na pressa e na fobia em que o povo anda e com o céu muitas vezes invisível por causa da poluição, quem tem chance de ver a Via Láctea? Dois bilhões de pessoas no mundo não a enxergam mais. 

Lembro-me do professor de desenho geométrico, Ângelo Malacrida, lá no Pontal do Paranapanema, ensinando-nos, na terceira série ginasial, a colocar corretamente, na Bandeira Nacional, as estrelas correspondentes a cada unidade federativa. Um perfeccionista. 

Essa assembléia da União Astronômica Internacional também chamou a atenção para o Rio de Janeiro, onde seria possível ver a olho nu até cinco mil estrelas. No entanto, a poluição luminosa permite que se aprecie apenas 150. Pouquíssimo. 

A jovem Helen Pinheiro, de Cachoeirinha (RS), escreve no seu blog: “Eu não sei se sou a única, ou se sou louca mesmo, mas, gosto muito da noite, de parar só pra olhar o céu e as estrelas, que parecem brilhar ainda mais quando olhamos para elas. Posso parar no tempo, e até talvez, sentar no chão na grama do pátio só para ficar olhando a lua, ou o céu escuro mesmo sem lua por perto – a lua e as estrelas me encantam. Me encanta ficar observando-as. 

“Penso de tudo um pouco, e sinto que pra mim, o tempo poderia parar ali naquela, noite. Aí, posso imaginar tudo o que eu queria ter vivenciado e não vivenciei, e imaginar que certas coisas não estão acontecendo e que certas coisas que para mim são consideradas ruins não iram acontecer, só para não ficar triste com aquilo. E esquecer um pouco”. 

Oi, Helen: o céu estrelado em cidades do interior da Amazônia ainda é algo digno de ser visto por pessoas sensíveis iguais a você. 

A propósito: 

1) Um ano-luz, a distância percorrida pela luz em um ano, equivale a 9,46 trilhões de quilômetros. 

2) Os reis magos se guiaram pela Estrela do Oriente para chegar até o lugar aonde nasceu Jesus. 

3) Ora (diríeis) ouvir estrelas! 
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Eterno Olavo Bilac: "Eu vos direi: amai para entendê-las!"



"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

MONTEZUMA CRUZ, 56, ainda aprecia ver estrelas.
[email protected]  

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