Porto Velho (RO) sexta-feira, 13 de junho de 2025
opsfasdfas
×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

Pelejas de sertanistas sufocados pela Funai (1)


Gente de Opinião

MONTEZUMA CRUZ

Editor de Amazônias

 

Porto Velho –Oito homens, seis mulheres e 14 crianças da tribo Uru-eu-au-au passaram o dia inteiro de terça-feira na frente de atração que a 8ª Delegacia da Funai montou numa área do interior do município de Ariquemes. No Posto Comandante Ari Daltoé, os índios trocaram flechas, pulseiras e arcos por redes, espelhos e panelas. (Meu lead no Jornal do Brasil de 29/7/1982).

Desde a instalação desse posto, em fevereiro de 1980 o problema mais grave na área foi quando o sertanista João Maia Brito recebeu flechadas nas costas e teve que ser hospitalizado.

Em 1979, antes do contato desse povo calculado em trezentos indivíduos, um grupo de 15 dias atacou o seringueiro Francisco Prestes Rosa às margens de um rio na divisa com o Projeto Burareiro. Dois filhos de Francisco foram flechados – um morreu no local, outro mais tarde em Manaus – e outro filho, o menino Gente de OpiniãoFábio Prestes Rosa, que tinha sete anos na época, foi sequestrado pelos índios e até hoje não apareceu.

Foi difícil para o sertanista Apoena Meireles aproximar-se dos índios Uru-eu-au-au, pois lhe faltavam aliados fortes: em 1984 o sertanista Aimoré Cunha da Silva chefiava a Ajudância da Funai em Vilhena; o sertanista José do Carmo Santana, Zé Bel, havia morrido; o sertanista Benamour Brandão Fontes trabalhava na Ajudância do Acre; e o sertanista João Maia morrera em 1982. Auxiliares da frente de atração abandonavam o trabalho, como foi o caso de Getulio Makurap, cuja filha de quatro anos morrera de malária.

Em março daquele ano Meireles assumia a 8ª Delegacia da Funai, com jurisdição para o Acre e Rondônia. Sua luta por demarcação de terras indígenas ampliava-se ao mesmo tempo para a região do Purus (sudoeste do Amazonas), onde viviam os Paumaris, Jamamadis, Apurinãs e remanescentes dos Jumas (vítimas de massacre na década de 1970).

“Faz dois anos que eles reclamam a demarcação”, dizia-me, referindo-se aos Apurinãs.

Também não havia remédios nas aldeias, e naquela época, quem abastecia as farmacinhas dos indígenas era a Central de Medicamentos (Ceme), extinta mais tarde pelo presidente Fernando Collor de Melo. Quando assumiu o cargo de delegado, Apoena também enviou relatórios narrando a invasão das terras do Posto Indígena do Igarapé Lourdes, em Ji-Paraná, habitado por Araras e Gaviões.Gente de Opinião
 
Colonos sulistas, e não foram poucos, acamparam por lá, dando trabalho para a Funai e para o Incra. Negada a manutenção de posse, os índios armaram-se e o conflito instalou-se também naquela área, tal qual a situação dos Suruís, que enfrentavam os colonos capixabas nas linhas limítrofes a Espigão do Oeste e Cacoal.
 
Em junho de 1984, o vereador João Dias (PMDB) acusava empresários do grupo Triangulina, de Ji-Paraná, de invadirem a reserva dos Arara e Gavião, estimulando choque entre jagunços e índios. Contavam-se pelo menos quinhentos invasores.

A febre das hidrelétricas, pequenas, médias ou grandes, ainda não havia chegado a Rondônia naquele período, entretanto, Apoena teve que enfrentar uma dura situação entre os índios Cinta-larga, próximo à Cachoeira de Dardanelos, no Roosevelt, aonde a Centrais Elétricas de Mato Grosso (Cemat) construiria uma usina tempos depois. Além da usina, o garimpo Ouro Preto, na mesma região, atormentava os indígenas.

De um lado, a exploração do ouro mostrava aos Cinta-larga o outro lado de uma vida até então desconhecida; de outro, os técnicos da Cemat davam-lhes presentes. Nessa ocasião, uma índia de nove anos fora violentada.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 13 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

De Periquitos ao Cine Embaúba, Nilsinho exibiu Bruce Lee e Zé do Caixão para alegria dos garimpeiros

De Periquitos ao Cine Embaúba, Nilsinho exibiu Bruce Lee e Zé do Caixão para alegria dos garimpeiros

Em Periquitos, o primeiro garimpo onde trabalhou, Nilsinho viu muito ouro em movimento. Falo de Eunilson Ribeiro, um dos personagens do meu livro "Ter

Do resgate de línguas indígenas, tupi faz aniversário de 20 anos em Rondônia

Do resgate de línguas indígenas, tupi faz aniversário de 20 anos em Rondônia

Faz 20 anos que o linguista Nilson Gabas Júnior, do Museu Paraense Emílio Goeldi, iniciava em Rondônia seu projeto de resgate da língua tupi. Ele visi

Tem morcego no curral? Chame o Governo

Tem morcego no curral? Chame o Governo

Quero hoje falar de morcegos. O governo estadual tem profissionais competentes que tratam do assunto. Em minha fase de repórter na comunicação social,

 Fest CineAmazônia faz falta em tempos de violência e do fim dos pajés na região amazônica ocidental

Fest CineAmazônia faz falta em tempos de violência e do fim dos pajés na região amazônica ocidental

Como faz falta o Fest CineAmazônia! No atual período de envenenamento agropecuário e ataques latifundiários madeireiros a acampamentos camponeses na r

Gente de Opinião Sexta-feira, 13 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)