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Montezuma Cruz

O vexame da viseira que faz Rondônia dizer não ao censo do IBGE


O vexame da viseira que faz Rondônia  dizer não ao censo do IBGE - Gente de Opinião

Difícil digerir a má vontade da população rondoniense em receber agentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), concedendo-lhe dez minutos de seu precioso dia para dizer quem é. Menos de 900 mil pessoas se disseram vivas e em cores no atual censo demográfico. E já somos mais de 1,9 milhão de pessoas, a maioria, infelizmente ainda “fantasma” na estatística oficial mais antiga do País.

 

Aqui e no País, o fenômeno burro adiou as respostas da população, de 31 de outubro para o início de dezembro*.

Onde está o governador, onde estão seus secretários e assessores que trabalham diretamente com pessoas, em programas sociais? Nenhuma palavra de apoio aos esforçados agentes do IBGE e aos moradores deste estado. Custa muito dirigir-lhes umas palavrinhas pelo rádio, pela TV, pelo Waths App?

Nenhuma voz entre os deputados estaduais foi ouvida a favor da peleja do IBGE ao não ser recebida em lares ricos e pobres de Rondônia. Campeões na propaganda de seus feitos, os parlamentares emudeceram.

Ao censo falta o bom senso das autoridades. Por que razão se ocultam, impedindo ao País saber quantos somos, nossas cores de pele, nossas moradias e nossas rendas nesta parte da Amazônia Ocidental Brasileira?

Estão em campanha, e este norte brasileiro não é o que eles veem ao carregarem em outubro de 2022 a viseira que esconde o âmago do ser humano habitante desta desastrada “Terra de Rondon.” Só lhes interessa agora o voto obrigatório – isto fica bem claro.

Um estado com valor básico da produção agropecuária superior ao nacional; primeiro produtor de minério de estanho do País; maior fornecedor de energia elétrica para estados da região sudeste; exportador de látex para indústrias gaúchas, da França e até do Irã...

Rondônia é um estado plural. Desde o recorde de migrantes procedentes de Iporã (PR) nos anos 1980, àqueles que se fixaram em Machadinho d’Oeste quando inteiramos o primeiro milhão de habitantes, cada família protagonizou sua própria história.

Abri hoje velhas cartolinas e encontrei minha matéria no jornal O Globo em 1976, revelando que o presidente da Aliança Renovadora Nacional (Arena), deputado Francelino Pereira, estranhava o posicionamento do próprio ministro do Interior, Maurício Rangel Reis, cuja cartilha estabelecia a interrupção da corrente migratória.

O vexame da viseira que faz Rondônia  dizer não ao censo do IBGE - Gente de Opinião

Para quem não sabe, Francelino foi aquele piauiense inteligente sensato e solidário que proclamou a Arena “o maior partido do Ocidente” – algo agora buscado pelos próceres do partido político União Brasil –, mais tarde foi senador da República e depois, governador de Minas Gerais.

Com ele viajei mais de 8 mil quilômetros entre o Distrito Federal e alguns estados amazônicos, tendo a oportunidade de conhecê-lo melhor, notadamente o seu sentimento pátrio.

A visão de Francelino lhe permitia enxergar a fome, os efeitos dos fenômenos climáticos, e o bom exercício da diplomacia que fez dele e de outro ilustre piauiense, o ex-senador e ministro da Justiça Petrônio Portela, o apanágio do bem-querer. Eles foram dois dignos próceres do Brasil profundo.

Volto à minha matéria n’O Globo, que dizia:

Porto Velho – Será muito difícil o Governo Federal e particularmente o Governo do Território de Rondônia conseguirem conter o fluxo migratório, pois a região Norte oferece grandes perspectivas para investidores de outros estados e do Brasil.

A opinião é do presidente nacional da Arena, deputado Francelino Pereira, discordando do ministro Rangel Reis – que pretende desencorajar a próxima corrente de famílias que estiver disposta a rumar para Rondônia por estrada de rodagem.

Francelino disse no sábado em Porto Velho:

– Sabemos perfeitamente que se trata de um momento difícil para Rondônia, mas a medida me parece até certo ponto impossível de ser praticada. Não se pode estimular, por outro lado, a migração desordenada que é, acredito, a que se verifica hoje no Território.

Francelino acha que o Governo deve prosseguir, com urgência, na sua política de criar estrutura capaz de responder definitivamente aos grupos humanos que se deslocam para o Território e desejam ali construir a grandeza local, enriquecendo também.

– Rondônia se transforma rapidamente – disse Francelino – num polo de desenvolvimento, constituindo-se em mais um desafio para ação governamental. Há necessidade de uma concentração “mais acentuada de recursos no Território, o que poderá ser feito sempre de acordo com as disponibilidades financeiras do Governo.

Depois da lembrança dessa sofrida, porém gloriosa migração, a viseira seria atirada no lixo e o governo estadual apoiaria o IBGE na composição do necessário “retrato nacional” que se faz a cada dez anos?

___ 

* A Agência Brasil, órgão oficial de notícias do Governo do Brasil, informa: segundo o diretor de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, apenas cerca de metade da população estimada do Brasil foi recenseada de 1º de agosto até agora, por isso decidiu-se prorrogar o prazo dos trabalhos. E o IBGE informa: desde o início da operação, em 1º de agosto, até 2 de outubro, foram recenseadas 104.445.750 pessoas, em 36.567.808 domicílios no país. Destas, 42,0% estavam na Região Sudeste; 27,0% no Nordeste; 14,3% no Sul; 8,9% no Norte e 7,8% no Centro-Oeste. Até o momento, 48% da população recenseada eram homens e 52% eram mulheres.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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