Domingo, 19 de janeiro de 2020 - 10h51
Amanheci em São Paulo no primeiro dia de janeiro de 1969. Estava garoando no belo (na época) aeroporto de Congonhas, sem o movimento de hoje nem os enormes aviões. Havia quase só aviões de motor convencional. Constellation, Avro, Convair, DC-6. Escassos jatos, ainda apegados à estética dos planadores.
No hall principal, uma muito fornida loja da livraria Laselva, com jornais e revistas estrangeiros, o cheiro de papel recentemente impresso, recendendo a tinta, numa cápsula de cultura, que o tempo arrastou pelo ar da memória.
Terminei o dia em cama de beliche, melancólico e triste, ainda sob o impacto da decisão de deixar Belém depois que o golpe do AI-5, no dia 13 de dezembro de 1968, não deixou dúvida: o jornalismo na cidade ia bater em retirada ou marcar passo, submetido às ordens telefônicas da censura. O fim antecipado do ano que não terminaria indicava qual era o destino natural.
O olho do furacão estava mesmo em São Paulo, onde os mais ricos iam financiar a Operação Bandeirantes para liquidar com a esquerda e sufocar a liberdade.
Numa pequena eletrola coloquei o disquinho com F Comme Femme, de Salvatore Adamo, para mim o hino daqueles dias tão difíceis. Ouvi até a saturação, sem esgotar o desejo de ouvir mais, me dissociar da realidade e seguir por aquele canto de sereia para dentro de mim, pelo F gris de Femme, a mulher que nos originou e que procuramos num ponto brilhante e mínimo no céu nublado,a estrela idílica da nossa razão de ser.
O meio século de 1968 está terminando e o lembro neste dias chuvoso de natal de uma cidade que não foi favorecida pela volta à democracia, desleixada, submissa, vítima de seus próprios desatinos, o mais grave dos quais é não saber escolher quem a guia - ou não ter escolhas na mediocridade que se apresenta.
E no entanto, prosseguimos. O ano não terminou em 1968, mas quem quis conseguiu sobreviver com dignidade à sombria e enorme mancha de negrume que se seguiu. Eu cheguei aos 70 e Salvatore Adamo, um descendente de italianos que a França precisou aceitar e consagrar, já passou da marca. E continuamos. Cada um na sua, cabelos brancos à parte.
De Periquitos ao Cine Embaúba, Nilsinho exibiu Bruce Lee e Zé do Caixão para alegria dos garimpeiros
Em Periquitos, o primeiro garimpo onde trabalhou, Nilsinho viu muito ouro em movimento. Falo de Eunilson Ribeiro, um dos personagens do meu livro "Ter
Do resgate de línguas indígenas, tupi faz aniversário de 20 anos em Rondônia
Faz 20 anos que o linguista Nilson Gabas Júnior, do Museu Paraense Emílio Goeldi, iniciava em Rondônia seu projeto de resgate da língua tupi. Ele visi
Tem morcego no curral? Chame o Governo
Quero hoje falar de morcegos. O governo estadual tem profissionais competentes que tratam do assunto. Em minha fase de repórter na comunicação social,
Fest CineAmazônia faz falta em tempos de violência e do fim dos pajés na região amazônica ocidental
Como faz falta o Fest CineAmazônia! No atual período de envenenamento agropecuário e ataques latifundiários madeireiros a acampamentos camponeses na r