Porto Velho (RO) sexta-feira, 13 de junho de 2025
opsfasdfas
×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

Jaru já foi o ‘campeão’ da malária na Amazônia


 Gente de Opinião

 MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias

 Até o final dos anos 1970, a fama pertencia a Ariquemes, pejorativamente conhecida por Aritremis, mas em 1984 Jaru passava à frente nas lamentáveis estatísticas da malária. Publiquei na edição de 6/2/1984 no Jornal do Brasil a informação do médico Olivar Emmanoel Coutinho da Fonseca, então diretor da Unidade Mista de Saúde daquele município da BR-364, a 280 quilômetros de Porto Velho: de cada quinhentos internamentos, pelo menos trezentos eram motivados por essa doença, campeã das endemias no mundo.


“É impossível acabar com ela”, desabafava o médico Emannoel Fonseca. Em trabalho conjunto com a Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), ele destacava 15 agentes de saúde para conscientizar a população rural – especialmente nos projetos de colonização – sobre os efeitos de drogas à base de quinino e as maneiras de evitar a malária.

Gente de Opinião

A doença atacava os jaruenses, deixando sua marca no mato e na cidade, exigindo a atenção do Banco Mundial, que financiava a colonização de Rondônia desde o início dos anos 1980 /SEMCEL JARU
 

 
 Ah! Projeto Padre Adolfo Rhol! Não levava a culpa sozinho, eis que, 15% dos casos ocorridos em Jaru haviam sido detectados na zona urbana, principalmente entre homens. A situação piorava com a chegada de garimpeiros à Serra Sem Calças, constatava o então secretário de saúde, José Adelino da Silva.
 

A angústia dos colonos crescia, na medida em que visitavam a cidade, onde já preocupava a ocorrência de tifo, leishmaniose e hanseníase. A 30 quilômetros dali, a malária matava quatro pessoas em Ouro Preto do Oeste. Atacados pelo mosquito anofelino (transmissor da doença) no Distrito de Abunã, um geólogo, um administrador, um motorista e 20 trabalhadores braçais tiveram que paralisar a pesquisa de ouro e cassiterita. Os maiores focos nessa região alastravam-se nos garimpos de Mutumparaná e Paredão.
 

A partir de Jaru, a doença era reconhecida não apenas nos relatórios da Saúde Pública, mas despertava o Banco Mundial. Oscar Echeverría, economista dessa instituição, informava a respeito do interesse do banco em apoiar o combate aos focos da doença. Prometia aumentar para 55% a parcela de recursos ao setor de saúde em Rondônia. Explica-se: o banco financiava o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polonoroeste), que custeava a ferro e a fogo a colonização rondoniense, investindo só em 1984 o montante de 80 bilhões de cruzeiros no mais novo estado brasileiro.
 

Para controlar a malária, o banco buscava o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da extinta (e ressuscitada em 2010) Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco). Mas  a doença seguia matando não apenas em Jaru, mas por todo canto de Rondônia.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 13 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

De Periquitos ao Cine Embaúba, Nilsinho exibiu Bruce Lee e Zé do Caixão para alegria dos garimpeiros

De Periquitos ao Cine Embaúba, Nilsinho exibiu Bruce Lee e Zé do Caixão para alegria dos garimpeiros

Em Periquitos, o primeiro garimpo onde trabalhou, Nilsinho viu muito ouro em movimento. Falo de Eunilson Ribeiro, um dos personagens do meu livro "Ter

Do resgate de línguas indígenas, tupi faz aniversário de 20 anos em Rondônia

Do resgate de línguas indígenas, tupi faz aniversário de 20 anos em Rondônia

Faz 20 anos que o linguista Nilson Gabas Júnior, do Museu Paraense Emílio Goeldi, iniciava em Rondônia seu projeto de resgate da língua tupi. Ele visi

Tem morcego no curral? Chame o Governo

Tem morcego no curral? Chame o Governo

Quero hoje falar de morcegos. O governo estadual tem profissionais competentes que tratam do assunto. Em minha fase de repórter na comunicação social,

 Fest CineAmazônia faz falta em tempos de violência e do fim dos pajés na região amazônica ocidental

Fest CineAmazônia faz falta em tempos de violência e do fim dos pajés na região amazônica ocidental

Como faz falta o Fest CineAmazônia! No atual período de envenenamento agropecuário e ataques latifundiários madeireiros a acampamentos camponeses na r

Gente de Opinião Sexta-feira, 13 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)