Porto Velho (RO) segunda-feira, 9 de junho de 2025
opsfasdfas
×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

E Bolsonaro perde o bonde chinês


E Bolsonaro perde o bonde chinês - Gente de Opinião

O presidente Jair Bolsonaro cancelou o encontro que teria com o presidente da China, depois de esperá-lo por 20 minutos. Aparentemente, Xi Jinping se atrasou porque ainda estava conversando com o presidente da França, Emanuelle Macron. 


Aparentemente, Bolsonaro teve que desistir da reunião para não perder a hora de decolar de Osaka, no Japão, de volta ao Brasil. Tudo aparência.

A China desbancou os Estados Unidos da sua tradicional posição de maior parceiro do Brasil exatamente 10 anos atrás. Na relação comercial com o gigante asiático, dono da segunda maior economia do planeta, abaixo apenas dos EUA, o Brasil tem superávit: recebe mais do que paga. O que mais vende, porém, são matérias primas, commodities. O valor relativo dos produtos brasileiros é muito inferior ao das mercadorias que os chineses nos vendem, por conterem mais tecnologia.

Nos últimos anos, os chineses não mais se satisfizeram em receber em seus portos os produtos vindos do outro lado do mundo, principalmente minério de ferro e soja, de baixo valor agregado para muito volume físico. Decidiriam assumir o pleno controle da cadeia produtiva e de transporte das mercadorias. Passaram a comprar lotes e mais lotes de empresas brasileiras. Daí uma das suas frases de campanha e Bolsonaro: a China está comprando o Brasil.

Provavelmente informado sobre o significado mais profundo da afirmativa por gente capacitada a ir além de frases de efeito, de rasa compreensão dos fatos, como o astrólogo Olavo de Carvalho, Bolsonaro admitiu ter provocado um mal-entendido com quem mais fornece dólares ao Brasil.

O encontro de ontem seria para pôr fim a essa fonte potencial de atritos para que o presidente chegue à China, para onde pretende viajar em outubro, com direito a tapete vermelho (se é que a cor tem algum diferencial de tratamento num país que ainda é comunista politicamente).

A impressão que se tem é de que o cancelamento do encontro se deveu menos ao atraso de 20 minutos, perfeitamente compreensível e absorvível, e mais aos impulsos de grandeza, bufonaria e de bravata de Bolsonaro. Ele parece ter ficado ressentido com a atenção mínima que XI Jinping lhe deu, na mesa de banquete dos líderes do G20, enquanto tagarelava com Donald Trump.

O desequilíbrio na partilha da atenção é perfeitamente natural, tratando-se dos chefes de governo das duas mais poderosas nações do mundo. Mas se Bolsonaro ao menos dominasse um tatibitate em inglês, poderia ter conquistado mais do que os 10% que o vizinho lhe reservou.

O Itamaraty deveria convencer todo candidato monoglota eleito para presidir o Brasil, um país que, enfim, se globaliza, a um curso rápido do idioma mundial entre a eleição e a posse. Evitaria o constrangimento de se ver cenas de Bolsonaro como cego em tiroteio diante do interlocutor que tonitrua na língua de Shakespeare (agora também de Bush e Trump, para castigo do bardo de Stratford-upon-Avon por sua genialidade numa Terra medíocre).

A questão chinesa é tão importante e grave na agenda brasileira que Jair Messias Bolsonaro deveria engolir sua verborragia, tão vazia quanto a do seu guru, esquecer o orgulho, segurar o relógio e se impor aprendizado suficiente para torná-lo capaz de cortar o nó Górdio do desafio a que nosso maior parceiro comercial nos submete: como não se deixar levar apenas pelo superávit comercial, transformar matérias primas em produtos acabados e associação empresarial em ponte para um progresso bilateral, não por ordem de um novo colonialismo.

Como se diz em inglês: that’s the point, Mr. Bolsonaro

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSegunda-feira, 9 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

De Periquitos ao Cine Embaúba, Nilsinho exibiu Bruce Lee e Zé do Caixão para alegria dos garimpeiros

De Periquitos ao Cine Embaúba, Nilsinho exibiu Bruce Lee e Zé do Caixão para alegria dos garimpeiros

Em Periquitos, o primeiro garimpo onde trabalhou, Nilsinho viu muito ouro em movimento. Falo de Eunilson Ribeiro, um dos personagens do meu livro "Ter

Do resgate de línguas indígenas, tupi faz aniversário de 20 anos em Rondônia

Do resgate de línguas indígenas, tupi faz aniversário de 20 anos em Rondônia

Faz 20 anos que o linguista Nilson Gabas Júnior, do Museu Paraense Emílio Goeldi, iniciava em Rondônia seu projeto de resgate da língua tupi. Ele visi

Tem morcego no curral? Chame o Governo

Tem morcego no curral? Chame o Governo

Quero hoje falar de morcegos. O governo estadual tem profissionais competentes que tratam do assunto. Em minha fase de repórter na comunicação social,

 Fest CineAmazônia faz falta em tempos de violência e do fim dos pajés na região amazônica ocidental

Fest CineAmazônia faz falta em tempos de violência e do fim dos pajés na região amazônica ocidental

Como faz falta o Fest CineAmazônia! No atual período de envenenamento agropecuário e ataques latifundiários madeireiros a acampamentos camponeses na r

Gente de Opinião Segunda-feira, 9 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)