Domingo, 3 de abril de 2011 - 07h42
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
Naqueles tempos da garimpagem manual de cassiterita, entre 1968 e 1972, bateiava-se (*) nas catas e faiscava-se (**) nos igarapés. As cargas pesadas eram transportadas no lombo do burro ou nas costas do garimpeiro até os pequenos armazéns dos compradores. Da pista de chão batido, os compradores embarcavam o minério de estanho em pequenos aviões (os antigos teco-tecos) para Porto Velho.
A capital já vivia uma fase de prosperidade no início dos anos 1960. Os garimpos descobertos no final dos anos 1950 em alguns lugares de sua floresta seriam o ponto de partida para o Território Federal atrair capitais dos grupos Best, Brascan, Brumadinho, Patino e Paranapanema.
Conforme registro do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), no primeiro ano Rondônia já produzia 49 toneladas do minério de estanho, avançando rapidamente. Em 1962 a “safra” alcançava 678 toneladas, e dez anos depois, 2.794 t, proporcionando ao País a exportação de laminados de estanho.
Esse minério causou muita discórdia numa terra cobiçada ao mesmo tempo por endinheirados paulistas, estrangeiros, e por milhares de desempregados vindos dos próprios estados amazônicos e ainda, de Mato Grosso, Goiás, Piauí e Ceará.
Essa fase de prosperidade ficou comprometida com a medida radical do governo, ao proibir o garimpo manual, por meio da Portaria nº 195/70, assinada pelo ministro das Minas e Energia Antônio Dias Leite Júnior. No prazo de um ano, o governo queria o fim de todas as atividades manuais e semimecanizadas.
Os efeitos drásticos logo sentidos refletiram sobre o governador do Território João Carlos Marques Henrique. No rastro dos pioneiros, livro de Amizael Gomes da Silva, registra: a população alcançava na época cem mil habitantes e alguns garimpeiros haviam chegado “nos últimos momentos da década de 1970”. “Outros, porém, moravam em Rondônia desde que haviam descoberto os garimpos de diamante nos anos 1950, nos rios Comemoração de Floriano, Ji-Paraná, Pimenta Bueno e Roosevelt. Nessa mesma década em que os garimpeiros descobriram a cassiterita nas terras do seringalista Joaquim Pereira da Rocha – responsável pela análise do material e, conseqüentemente, pelo início da extração do minério”.
Cálculos feitos na época e reproduzidos por Amizael Silva indicavam a presença de uns dez mil homens “no ventre da floresta, vitimados pela febre e explorados pelos marreteiros, atravessadores da cachaça, de balas 22, 32 e 38”. Isso, conforme ele descreveu, causava “uma inquieta mobilidade em busca do enriquecimento – lícito ou não – que explodia no comércio das cidades até há pouco tempo simples biroscas”.
(*) Referente ao uso da bateia, um utensílio usado na mineração em pequena escala, geralmente em depósitos de sedimentos em cursos de água, para a obtenção de concentrados de minérios metálicos. Colocando uma pequena quantidade de sedimento na bateia e adicionando alguma água, procede-se à agitação da mistura assim constituída através de um movimento aproximadamente circular. Essa agitação, conjugada com a diferença de densidade entre os minérios metálicos e os restantes sedimentos permite a separação daqueles. A bateia era uma espécie de prato grande, em forma de chapéu chinês (Wikipedia)
(**) Faiscação é o termo usado na procura de ouro nos cursos d'água ou nas areias que faiscam à luz do sol, nos bicames (calhas) de madeira, que trazem na água as areias auríferas para os decantadores. Os instrumentos usados são: batéias, pás, bicames, peneiras, canoas pequenas, agitadores, etc.
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