Quarta-feira, 19 de agosto de 2020 - 15h06
Lideradas pela Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental (LCP), ao amanhecer de domingo (16) diversas famílias tomaram a Fazenda Nossa Senhora, no município de Chupinguaia, na região sul do estado, a 675 quilômetros de Porto Velho.
Nesse local ocorreu, 25 anos atrás, o Massacre de Corumbiara, que teve 11 mortos, entre os quais, dois policiais militares.
Reconhecida pelo próprio Incra como latifúndio, a fazenda situada na linha MC-01 mede a terça parte da antiga fazenda que resultou no conflito de 1995. São aproximadamente 6 mil hectares de terras griladas para a formação de pasto e criação de gado bovino.
A chegada de famílias às terras vem ocorrendo em clima pacífico e de entusiasmo, diante da possibilidade de produzir. Com a retomada das terras antes exploradas para o benefício de alguns poucos, famílias camponesas se comprometem agora a colher suas safras para vendê-las e criar emprego no campo, beneficiando diretamente os municípios de Corumbiara, Chupinguaia e Cerejeiras.
A LCP constatou o título de propriedade e o Contrato de Alienação de Terras Públicas foram falsificados, o que causou ainda mais problemas judiciais para seus donos.
“Enquanto latifundiários falsificam documentos, enriquecem os países imperialistas, destroem nossas florestas, exploram os peões, assassinam camponeses e indígenas, milhares de camponeses pequenos e médios são responsáveis por mais de 70% da produção de alimentos que abastece a mesa dos brasileiros, segundo último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”, mencionou hoje (19) a Liga.
O corte dos lotes obedece ao mesmo modelo adotado dez anos atrás. Pouco antes do final de 2013, o governo federal anunciava 92 decretos de desapropriação de 193,5 mil hectares de terras para a reforma agrária no País. O Ministério do Desenvolvimento Agrário revogava naquela ocasião portaria interna que tratava da “nova sistemática de obtenção de terras destinada a esse fim”. O governo acenava pouco depois com a 'qualificação dos novos assentamentos', que sofreu críticas de parlamentares “porque permitiriam o favelamento rural”.
Gente de Opinião publicava esta matéria naquela ocasião: Mais violência e menos reforma agrária.
Segundo avaliou a LCP, a mobilização das famílias em seus lotes levou ânimo a outros acampados vizinhos. “Ao mesmo tempo,animou pequenos e médios comerciantes da região,os quais doam alimentos para as famílias”.
Uma semana antes, na manhã de 9 de agosto passado, a LCP mobilizou camponeses na praça de Corumbiara, lembrando a chacina da madrugada daquele dia, em 1995, e exigindo justiça ”para os crimes do latifúndio”.
SAÍDA PARA A CRISE
“A profunda crise geral do capitalismo burocrático agravada pela pandemia e a consequente piora das condições de vida do povo com a diminuição dos já parcos empregos nas cidades rondonienses têm lançado milhares de trabalhadores ao desemprego”, acusa a nota da LCP.
A situação, conforme, o movimento, possibilita que mais famílias “vejam a tomada das terras do latifúndio como saída para a crise".
A nova tomada de terras tem atraído camponeses de várias regiões vizinhas. Famílias que conseguiram seus lotes estão chamando outras, e até parentes, “para conquistarem seu pedaço de terra e o direito de trabalhar”.
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