Sexta-feira, 17 de junho de 2011 - 19h26
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
Em três dias de serviço, Antônio Marcolino, 37 anos, paraibano, conseguiu recuperar os 250 mil cruzeiros que pagou por um burro de três anos de idade em Serra Sem Calças, o primeiro garimpo de mina em Rondônia. “Esse bichinho carrega de tudo lá para cima, até botijões de gás. Só que a gente não põe mais de cem quilos no lombo dele, senão prejudica o coitado”, diz.
Um ou outro excesso de carga e mais o terreno acidentado podem provocar tropeços. Esses animais são alugados a oito mil cruzeiros para uma viagem de três quilômetros entre a vila e o garimpo. Os donos dos 20 burros que servem à área do garimpo atravessam mato e caminhos estreitos, cheios de buraco, para transportar gêneros alimentícios e combustíveis.
Outubro de 1983: da manhã à noite o vaivém dos únicos “veículos” de Serra Sem Calças contrasta com a barulheira dos motores que acionam bombas d’água, dos quais os garimpeiros se valem para a lavagem do cascalho. Cada grupo de três ou mais tem um motor a gasolina.
Por mil e 300 cruzeiros qualquer pessoa pode apanhar o ônibus da Eucatur na cidade de Jaru e chegar à corrutela onde já se aglomeram cerca de trezentas pessoas. Ao todo, o novo garimpo reúne uns três mil homens, segundo a Companhia de Mineração de Rondônia e os mata-mosquitos da Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam).
Grande parte dos garimpeiros faz o rancho em Jaru. Ali os preços são bem inferiores aos dosbolichos da área. Em alguns deles o arroz é vendido a 700 cruzeiros o quilo; pinga a dois mil a garrafa; pão a 500 cruzeiros a unidade; feijão a mil o quilo; pacote de dois quilos de açúcar a mil cruzeiros; sal a 400 o quilo; óleo de salada, 1.500 a lata; farinha d’água a mil o quilo; bolacha de água e sal a 600 o pacote; carne a três mil e 500 cruzeiros o quilo.
A cada dia aparece mais gente nesse formigueiro humano. Há também os desistentes, capazes de ver que a atividade não passa de uma ilusão. Se ganha hoje, perde-se amanhã.
Licurgo Azevedo Coutinho, 23, paranaense, casado, dois filhos, reclama da malária que já o apanhou noutro garimpo, o Embaúba, às margens do Rio Madeira: “Desse jeito não dá pra agüentar até o inverno (período chuvoso na Amazônia).” Seu companheiro Astreu Soares Maia, 25, cearense, conta que contraiu a doença duas vezes em menos de um ano, quando trabalhava na região de Abunã, fronteiriça à Bolívia. Gastou 30 mil cruzeiros em medicamentos.
À falta do posto de saúde o goiano Edgar Araújo, 45, dos quais 22 percorrendo garimpos brasileiros é o responsável por uma das poucas farmácias existentes na floresta que circunda Serra Sem Calças. Ele cobra 15 mil cruzeiros por um coquetel de antimaláricos à base de quinino e antiartríticos. “Só recomendo antitóxicos e analgésicos quando realmente necessários”, afirma categórico. Não muito longe dele, um dentista prático estipula em três mil cruzeiros a extração de um dente.
Vê-se, o garimpo estava inflacionado até o pescoço.
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