Sábado, 10 de novembro de 2007 - 07h47
MONTEZUMA CRUZ - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, nosso poderoso e multinacional BNDES, financiará 80% da construção da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho (RO). Será o maior sócio do rentável negócio. Alguém surpreso aí? Por quê? O Brasil já financiou peças para a Usina de Três Gargantas, na China, aquela que tem uma potência instalada de Itaipu mais cinco vezes.
Faz algum tempo – e quem acompanha o noticiário, lê resumos de relatórios ou súmulas na internet sabe disso – esse banco distribui farto dinheiro lá fora. Com as melhores intenções e possivelmente pressionado por iminentes indícios de um apagão energético – de hidrelétricas, convém frisar – cá estão as cabeças do BNDES demonstrando um sentimento de brasilidade com largos pendores amazônicos.
Salvo essas boas intenções, o modelo energético brasileiro entrou na sua melhor fase de discussão a partir da confirmação oficial da construção das usinas do Madeira, depois de uma série de controvérsias em relação ao volume de água do futuro lago, do tipo de turbinas a serem instaladas, e das espécies de peixes a preservar. Menos que tudo isso, à situação dos ribeirinhos que ali vivem muito antes do marechal Rondon pisar o solo do extinto Território Federal, no início do século passado.
O primeiro financiamento do BNDES destinou-se à Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1952. Depois de 55 anos, o banco avança cada vez mais além-fronteiras. Alinhemos, de uns tempos para cá, alguns exemplos de onde o BNDES estendeu os seus tentáculos: liberou em 2005 US$ 200 milhões as exportações de bens e serviços brasileiros no projeto de expansão do gasoduto operado pela argentina Transportadora de Gás Del Sur (TGS). Aprovou também naquele ano financiamento de US$ 25 milhões para a Alstom Brasil Ltda. exportar 43 carros metroviários para o Chile. O grupo Alstom é um dos maiores do mundo, nos mercados de infra-estrutura de energia e transporte. Presente em 70 países, tem cerca de 69 mil funcionários, dos quais 2,9 mil no Brasil.
Lembram-se? Um contrato de US$ 202 milhões com o The State Development Bank of China (SDB), assinado em setembro de 1997, financiou a exportação, por empresas brasileiras, de equipamentos para a usina hidrelétrica de Três Gargantas. Este repórter trabalhava em Foz do Iguaçu e viu quando a comitiva chinesa liderada pelo primeiro-ministro Li Peng percorrer, interna e externamente, a Hidrelétrica de Itaipu. Um por um, com exímios tradutores, todos eles fizeram perguntas para saber depois do que precisariam, o que comprariam e como comprariam da indústria brasileira.
Lembram-se? A participação do BNDES foi fundamental para que a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) ganhasse a concorrência para fornecer jatos ERJ-145 à American Eagle, no valor total de US$ 1,1 bilhão. A Embraer concorreu com a canadense Bombardier, que tinha o apoio do EDC (Export Development Corporation do Canadá). Poupemos o leitor de comentar aqui a memorável disputa por esse cobiçado mercado.
Há pouco aprovou R$ 94,9 milhões para o Grupo Ferrari, em Pirassununga (SP). Desse total, R$ 69,3 milhões serão liberados para a Ferrari Termoelétrica S/A e R$ 25,6 milhões para a Ferrari Agroindústria S/A. No mês passado, anunciou R$ 120,4 milhões para a empresa Goiás Sul Geração de Energia, que usará os recursos na construção de duas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no Rio Veríssimo, no sudeste de Goiás.
Agora, a diretoria do banco se compromete a financiar bens intangíveis, a partir de 2008. Entre eles estão investimentos em pesquisa e desenvolvimento, marca e patentes, governança corporativa, design, processos internos, liderança, transparência, etc. Ou seja, bens imateriais, que exigem metodologias específicas para serem avaliados e dimensionados adequadamente.
A grande parceira é a Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Examinando o tanto de dinheiro aplicado aqui e lá fora, vê-se que o poder financeiro neste País não pode ser visto apenas no prédio negro do Banco Central, no alvo do Palácio do Planalto, no amarelo desbotado do Ministério da Fazenda – todos envolvidos com o pleno funcionamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
"Tecnologia suicida"
Há, no entanto, críticas ao BNDES. O engenheiro Thomas Renatus Fendel, da Fendel Tecnologia (Rio Negro-PR), por exemplo, acusa o banco de financiar "tecnologia suicida e ultrapassada em termoelétricas fósseis". Thomas se queixa de que o BNDES financia equipamentos importados "em detrimento da fantástica indústria nacional de energia renovável". Do tipo: hidroeletricidade e bioenergia, como desceve em seu artigo Financiamento porco e ultrapassado. Espaço para o desabafo do engenheiro paranaense:
"A questão energética nacional necessita de cabeludas CPIs imediatas, e faz tempo; sem pizza. Com a ainda camuflada crise de porcotróleo que se aproxima a galope, resta à humanidade apenas e unicamente a maravilhosa bioenergia, visto que o resto é pura papagaiada insustentável esotérica sonhadora. E nada como a tecnologia elementar e rudimentar do óleo vegetal, do biogás, do álcool, da combustão eficiente das biomassas, da briquetagem de resíduos orgânicos e do carvoejamento vegetal com recuperação dos gases pirolenhosos".
"E tudo isso, pode e deve ser atrelado à cogeração, com injeção de energia elétrica nas redes e uso concomitante do calor residual. Que maravilha! ...a Enerede, tão simples".
Fonte: [email protected] - Agenciaamazonia é parceira do Gentedeopinião
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