Sábado, 12 de setembro de 2009 - 19h57
Pesquisa revela que quase 10% dos recém-nascidos em Cruzeiro do Sul (AC) não passam de 2,5 kg. Mães são solteiras ou com união estável.
MONTEZUMA CRUZ(*)
Agência Amazônia
CRUZEIRO DO SUL, AC – Numa porcentagem de 9,13% e filhos de mães solteiras, bebês de Cruzeiro do Sul estão nascendo com peso inferior a 2,5 quilos. É o que constata uma pesquisa feira pela enfermeira e professora da Universidade Federal do Acre (UFAC), Raquel Rocha Paiva Maia nesta cidade de 74 mil habitantes, a 710 quilômetros de Rio Branco, na fronteira brasileira com o Peru.
A proporção de crianças com baixo peso ao nascer é considerada alta, quando comparada à de países desenvolvidos (4% a 6%). Segundo o estudo, as mães também fazem poucas consultas no pré-natal, o que também influi nesse resultado. Cruzeiro do Sul é a segunda maior cidade do Estado do Acre. Tem hospital regional, exporta móveis e fabrica a melhor farinha do País.
O quadro foi constatado por uma análise dos dados de 3.220 declarações de nascidos vivos referentes aos partos de mães residentes neste município nos anos de 2006 e 2007. Segundo a professora Raquel Maia, são estes os fatores associados ao baixo peso ao nascer: a prematuridade; o fato de ser uma criança não-branca, nascer no próprio domicílio; ser um bebê do sexo feminino; ser mãe adolescente, ser mãe solteira, não trabalhar; e um baixo número de consultas no pré-natal.
Primeiro levantamento
Orientada pelo professor do Departamento de Epidemiologia da Universidade de São Paulo (USP), José Maria Pacheco Souza, Raquel é autora da pesquisa de mestrado “Fatores associados ao baixo peso ao nascer no Município de Cruzeiro do Sul”, Acre apresentada em 30 de julho na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. É o primeiro trabalho do “Programa Minter-Dinter, um convênio entre a Universidade Federal do Acre (UFAC) e a FSP, com financiamento do Ministério da Saúde.
A pesquisadora apontou algumas das ações necessárias para que haja uma mudança no quadro encontrado na cidade: a ampliação da assistência pré-natal, com seis consultas, no mínimo, durante a gestação; ações de educação em saúde, entre as quais, a orientação sexual; o planejamento familiar, com orientações sobre métodos contraceptivos; e o aumento do número de unidades básicas de saúde (UBS) que prestam assistência às mulheres na zona rural.
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Em Cruzeiro do Sul (74 mil habitantes), maioria das mães pesquisadas são solteiras ou com união estável /MONTEZUMA CRUZ |
“Cruzeiro do Sul tem no total 19 UBS, das quais, quatro se localizam em áreas rurais. Há necessidade de ampliar esse número”, apela Raquel. De acordo com a pesquisadora, não se podendo prevenir o baixo peso ao nascer, a criança deveria ter acesso a um acompanhamento mais intenso.
“Vários estudos já comprovaram que a mortalidade infantil é maior em crianças que nascem com baixo peso ao nascer. Na idade pré-escolar, elas são mais suscetíveis a problemas de déficit de atenção, desnutrição etc. E na vida adulta, há maiores riscos de adoecer e morrer prematuramente de doença cardiovascular, hipertensão e diabetes”, afirma.
O estudo de Raquel também demonstrou que são altas as despesas decorrentes do tratamento das complicações do baixo peso ao nascer, tanto para a família como para o governo. A declaração de nascido vivo é um documento implementado pelo Ministério da Saúde que deve ser preenchido no momento do nascimento da criança por pessoas presentes na sala de parto ou, em caso de parto domiciliar, quem preenche é uma pessoa treinada para tal, no cartório, durante o registro da criança. Após o preenchimento, ele é enviado para órgãos municipais e estaduais para a tabulação e inserção dos dados no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) do ministério.
Em busca do retrato da realidade
CRUZEIRO DO SUL – A pesquisadora utilizou alguns dados de interesse constantes na declaração, referentes à mãe (idade, estado civil, escolaridade, ocupação, se mora na zona urbana ou rural, número de partos anteriores); à gestação (duração, número de consultas do pré-natal), ao parto (vaginal ou cesárea) e ao recém-nascido (sexo, raça e peso ao nascer).
Em 1995, o município apresentou uma porcentagem de 6,9% de bebês com peso inferior, subindo para 8,5%, em 2005. No entanto, conforme Raquel Maia, esses dados precisam ser avaliados com cuidado, considerando que o nível de preenchimento e captação de dados do Sinasc no município pode ter mudado no decorrer desse período.
Entre os fatores associados ao baixo peso, do total de mães, a pesquisadora constatou que 85,53% eram solteiras. “Entretanto vale lembrar que muitos casais que moram juntos acabam selecionando a opção “mãe solteira” na declaração de nascido vivo, pois não existe no formulário a opção “união estável” ou algo do gênero”.
Iniciado em 2007, o Programa Minter-Dinter (mestrado e doutorado interinstitucional) tem o objetivo de formar mestres e doutores sem que eles permaneçam afastados da UFAC, fixando pesquisadores no próprio estado, o que reverte para pesquisas que possam contribuir com a realidade local. Atualmente possui 24 alunos (16 mestrandos e oito doutorandos, dois formados) e tem previsão de término para 2011.
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Maternidade mineira embala bebês em redes para recuperar peso /DIVULGAÇÃO |
O Programa é coordenado pelos professores da FSP Néia Schor, do Departamento de Saúde Materno-Infantil; Delsio Natal, do Departamento de Epidemiologia; e Pascoal Torres Muniz, vice-reitor da UFAC.
Embalo na rede ajuda na recuperação
BELO HORIZONTE, MG – A Unidade Neonatal da Maternidade Odete Valadares, em Belo Horizonte (MG), desenvolveu um projeto que pode ajudar a reduzir a mortalidade de recém-nascidos prematuros ou abaixo do peso ideal na rede pública. O Embalo na Rede, que segue modelo do Nordeste do País, é um sistema que simula o espaço intra-uterino da mãe.
"Os bebês que nascem prematuros ou abaixo do peso ideal ficam acomodados em uma estufa em uma rede de tecido feito de algodão, e monitorados o tempo todo", explica a terapeuta ocupacional Flávia Benício Braga, coordenadora do projeto.
(*) Com informações da Agência USP de Notícias.
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