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Montezuma Cruz

Alimentos da Amazônia ajudariam no combate à fome, defende rondoniense a Lula e Marina


Alimentos da Amazônia ajudariam no combate à fome, defende rondoniense a Lula e Marina - Gente de Opinião

A Amazônia como celeiro do mundo, graças à sua riqueza natural e à industrialização de alimentos. Muitos opinam e criticam, mas poucos acenam com soluções estruturais. Foi esse o mote da carta encaminhada esta semana pelo ex-suplente de deputado federal de Rondônia Samuel Sales Saraiva ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e à ministra indicada para o meio ambiente, Marina Silva.

"Para alcançarmos esse desenvolvimento sustentável, não será preciso derrubar uma só árvore para implementar esse plano", ele garantiu.

Há quase três décadas na Capital dos Estados Unidos, Saraiva já havia feito semelhante sugestão ao governo brasileiro em 2008, com Lula presidente. [Leia fotos no final do texto].

"Tenho consciência do dever de minha contribuição cidadã, e mesmo morando em Washington, D.C., nunca abri mão de me preocupar todos os anos, dedicando gratuitamente o meu tempo a serviço dela", justifica.

A população mundial ultrapassou os 8 bilhões segundo a ONU, que projeta um pico de 10,4 bilhões na década de 2080. "É passada a hora de os países liderados pela ONU agirem em um amplo programa de cooperação contra uma guerra mundial inevitável e urgente: a guerra contra a fome", alerta Saraiva.

Em 2020, o senador Álvaro Dias (Podemos) fez chegar ao então ministro do meio ambiente Ricardo Salles outra sugestão de Saraiva: a alteração da Lei nº 6.938, de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, como pré-requisito para o acesso a linhas de financiamentos e empréstimos das instituições oficiais

Isso permitiria a tomadores de empréstimos a participação em cursos a respeito da preservação ambiental. Salles não respondeu a Saraiva.

"O que trava o desenvolvimento sustentável e a elaboração de políticas públicas estratégicas é a mentalidade imediatista e perdulária herdada da cultura dos colonizadores e da servidão", adverte Saraiva.

Ele diz a Lula: "Se esta proposta for realmente examinada com sensibilidade e vontade política, estou seguro que seu governo terá amplo apoio interno e externo. V. Exa. estará salvando a Amazônia e de passo fortalecendo a economia nacional através de um projeto de grande alcance social e político que poderá reverter a absurda, cruel e irresponsável destruição do maior patrimônio biológico do planeta, do qual dependerá em grande parte a nossa sobrevivência na Terra."

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Copaíba rende um dos mais famosos óleos do mundo; no Brasil ela é comum na Amazônia e no Centro-Oeste

Inspirado na promessa reiterada durante a campanha eleitoral pelo presidente eleito, no sentido de eliminar o problema da fome no País, Saraiva confiou  o encaminhamento da carta aos senadores Randolfe (Rede Sustentabilidade-AP) e Álvaro Dias (Podemos-PR).

Saraiva sugere a criação de de uma comissão científico-governamental, multidisciplinar, com a participação do estado e da sociedade, incluindo representantes de segmentos sociais e povos nativos, além de dois representantes indicados por cada país membro do Fundo Amazônico.

"Ela visaria à elaboração de estudos estratégicos necessários à implementação das quatro vertentes desta proposta: 1) ampliação da produção sustentável de alimentos nativos da Amazônia; 2) ampliação do extrativismo sustentável de matérias-primas amazônicas para a indústria de cosméticos; 3) revitalização dos seringais; e 4) recuperação de áreas degradadas com o assentamento de trabalhadores sem-terra e a implementação de agroflorestas.

"Na prática, significa ampliar o aproveitamento racional dos alimentos e outros produtos vegetais naturais da Amazônia, utilizando métodos com certificação socioambiental, que permitam parcerias com comunidades ribeirinhas, indígenas, quilombolas e núcleos de agricultura familiar", lembra Saraiva.

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Pupunha do Sítio Planalto, em Monte Negro, no Vale do Jamari, é item essencial para a industrialização de alimentos

Segundo ele, a rastreabilidade das matérias-primas já é possível há anos, "com respeito às métricas de impacto e mantendo a transparência da cadeia produtiva". O ponto alto seria a construção de um polo industrial para transformação em pequena escala, dentro do território brasileiro, de 20 espécies vegetais, entre elas, açaí, andiroba, babalu, buriti, castanha, copaíba, cupuaçu, guaraná, murumuru, pracaxi, buriti, óleos, manteigas e essências.

O empresário Francisco Aguiar, da Amazon Green, considera o óleo de açaí, ainda não explorado comercialmente, 440% mais rentável do que a manteiga de karité, proveniente da África.

A pesquisa de Aguiar revelou também a força da pupunha que atualmente chega aos Estados Unidos na forma de conserva exportada pela Colômbia a US$ 10 o frasco contendo dez frutos.

INCONCEBÍVEL DESCASO

Citou a tabela de composição de alimentos amazônicos (1996), do especialista em nutrição e ciência dos alimentos, Jaime Aguiar, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) para lembrar que além de dezenas de frutos comestíveis, também existem algumas hortaliças e raízes "vítimas de inconcebível" o descaso.

"Se respeitarmos e aproveitarmos essa que é a real vocação econômica da Amazônia, podemos deixar de ser o "potencial celeiro do mundo" para nos transformarmos, de fato, no maior exportador de alimentos para o mercado internacional", assinalou.

De acordo com o rondoniense, esse aspecto contribui para o combate à fome no Brasil e no mundo, na medida em que ampliaria bancos de alimentos desidratados, imprescindíveis à segurança alimentar e ao atendimento emergencial de regiões do planeta afetadas por catástrofes naturais, conflitos militares, e instabilidade social e econômica.

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Na Resex Rio Cautário, seringueiras nativas voltam a sangrar. Estima-se que Rondônia obtenha 200 t/ano


LÁTEX DE SERINGUEIRAS NATIVAS

Samuel "linkou" em sua carta a Lula texto deste repórter em 2020 mostrando a extração do látex na região do Guaporé. A reportagem informa que antigos extrativistas em sete comunidades do interior de reservas extrativistas em Costa Marques e Guajará-Mirim alcançaram 20 toneladas na "safra da borracha" antes da pandemia do coronavírus, com preço justo.

"Ela é fonte extraordinária para revitalização da economia regional e nacional, visando atender à demanda mundial hoje suprida pela pequena Malásia; o leite das seringueiras é o ouro branco da Amazônia, e hoje sangra para o desperdício, enquanto perdemos tempo e oportunidades preciosos", analisou.

"Numa estimativa conservadora, apenas o Estado de Rondônia tem capacidade para produzir duzentas toneladas de borracha por ano, que equivaleriam a um total de R$ 2,52 milhões, conforme matéria", acrescentou.

"CAUSA DOS SEM-TERRA"

Para Saraiva, a proposta da industrialização de alimentos, plantas e óleos naturais abundantes em Rondônia integra-se à  causa dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra no que diz respeito ao êxito da agrofloresta defendida pelo educador e consultor Namastê Messerschmidt, cuja técnica alia a produção de alimentos ao reflorestamento.

Nessa área também trabalha o agroecologista suíço Ernst Gotsch, que tem largo trabalho em áreas da Bahia e no Centro-Oeste brasileiro.

Se fossem assentados em áreas degradadas na Amazônia, os sem-terra poderiam recuperará-las. "Não apresento uma invenção da roda, mas sei que a realidade  desafia atualmente nossa competência e vontade política para garantia da nossa redenção como nação e melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro tão necessitado de políticas públicas estruturais que permitam a recuperação da combalida economia."

SALVANDO A AMAZÔNIA

O chamado Fundo da Amazônia poderia ser ampliado com a atração de outros países, conscientes de que o destino de cada um está interligado ao destino dos demais. Um exemplo é mencionado pelo senador Randolfe Rodrigues: a recente inclusão da Inglaterra, intermediada e fomentada com êxito.

Parte da produção dos inúmeros alimentos nutritivos amazônicos poderia ser desidratada e empacotada a vácuo utilizando tecnologia disponível em países desenvolvidos, a fim de evitar o deterioramento e aumentar o prazo de duração dos estoques em bancos alimentares. Entre outros países, os EUA já utilizam há décadas esse tipo de produto para alimentar suas tropas em diferentes regiões de conflitos.

"Temos a obrigação moral e a inteligência necessária para vencer o inimigo comum: a fome que castiga indiscriminadamente seres humanos, sobretudo os excluídos e os mais vulneráveis, como idosos, mulheres e crianças", assinala Saraiva.

Catorze anos após a sua primeira proposta, ele vê a oportunidade de Lula "confirmar sua sinceridade de propósito e projetar visão e postura de estadista": "V. Exa. poderá consolidar sua liderança internacional pelo caminho da paz, da economia sustentável, da geração de empregos, e da solução ao problema agrário, armando o povo brasileiro com tecnologia de ponta para desenvolver a Amazônia de forma sustentável, respeitando sua verdadeira vocação socioeconômica. 

A carta sem resposta do ex-ministro Ricardo Salles e outros documentos com propostas anteriores feitas por Saraiva:

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