Sábado, 25 de outubro de 2008 - 14h41
MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia
Examino algumas situações fora das bolsas de valores, limitando-me à prateleira de alimentos e à barriga, certo? Na quinta-feira, 23 de outubro, antes da confirmação de cortes em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, admitiu que o governo socorrerá os endividados usineiros – pobrezinhos!, sem crédito para obter o refinanciamento de suas dívidas bancárias.
Primeira pergunta: alguma vez já ouviram, na história deste País, mandioqueiros de verdade – não confundir com industriais – "quebrarem" e esperarem a dinheirama oficial aparecer em suas contas correntes de pessoas físicas?
De 1º a 5 de novembro, especialistas debaterão em Porto Alegre (RS) a alimentação de crianças. O 35º Congresso Brasileiro de Alergia e Imunopatologia colocará em pauta, por exemplo, o fato de a intolerância ao glúten crescer, junto com outros tipos de alimento.
Aumenta o número de portadores da doença celíaca, aqueles que se sentem obrigados a substituir o trigo por outros tipos de farinha, entre as quais, a de mandioca, a de milho e o fubá.
Segunda pergunta: o que tem a ver o congresso porto-alegrense com o veto presidencial à adição de fécula à farinha do trigo?
Mandioca colhida no Setor Cachoeirinha, em Sena Madureira, no Vale do Purus, Acre
O artigo A crise do dinheiro no mundo da mandioca (O Estado de S.Paulo, 24/10/2008, pág.2), assinado pelo jornalista Washington Novaes, encerra o assunto. Ou, pelo menos, me conduz à terceira pergunta: e se a mandioca fosse americana?
"Diante das incertezas na área dos alimentos e da necessidade de importar trigo, parece estranho o presidente da República vetar projeto, aprovado pelo Congresso Nacional, que exigia a adição de amido de mandioca à farinha de trigo comprada pelo poder público, sob a alegação de que seria difícil comprovar as porcentagens (quando em outras épocas no País toda a farinha de trigo recebeu a mistura).
"Estranho, em primeiro lugar, porque limita caminhos a um dos principais produtos da agricultura familiar, que responde por 70% do abastecimento interno de alimentos (82% da mandioca, 59% dos suínos, 58,9% do feijão, 55,4% do leite, 47,9% das aves, 43,1% do milho, 41,3% do arroz, 28,4% da soja) e pela quase totalidade dos postos de trabalho na zona rural, onde ainda vivem uns 20% dos brasileiros. Segundo, porque a mandioca é a mais adequada de todas as culturas aos solos brasileiros - não precisa de "corretivos" nem de outros insumos químicos.
"Quando não vale isso, quando o valor das commodities de exportação caiu 30% em média (Estadão,17/10) este ano, enquanto o preço internacional dos fertilizantes fosfatados subiu de US$ 250 para US$1.230 a tonelada, como lembra o professor Abramovay; o de adubos à base de potássio subiu de US$ 172 para US$ 500; o de nitrogenados, de US$ 277 para US$ 450?
"Há quase 20 anos, o cientista Paulo Tarso Alvim sentenciava: "Se a mandioca fosse norte-americana, o mundo todo estaria comendo tapioca flakes e mandioca puffs." Não terá chegado a hora de rever estratégias, adequar a economia a realidades maiores, antecipar-se a efeitos da crise global, que poderão ser ainda mais danosos – em lugar de dizer, como nos mais altos níveis da República, que 'a crise na oferta de alimentos é passageira, não é coisa perigosa' (Estadão, 26/4)?".
Uma boa semana a todos.
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