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Hiram Reis e Silva

Contrarrevolução de 64 – Parte XIV - As Desapropriações Podem ser Feitas Sem a Supra


Contrarrevolução de 64 – Parte XIV - As Desapropriações Podem ser Feitas Sem a Supra - Gente de Opinião

Bagé, 12.06.2024

 

 

A Reforma Agrária não está, pois, sendo colocada em função de seus verdadeiros objetivos. Está, sim, interes­sando apenas agitar e sublevar para aumentar o poder do estado, como mero instrumento de domínio político a serviço da usurpação do poder. Quem quer a Reforma Agrária para valer somos nós, que a queremos em termos econômicos e também – porque não? – patrimoniais, na medida que, como diria Karl Marx, o modo de produção altera as relações de produção. Assim sendo, os marxistas que acaso apoiem a Reforma Agrária da SUPRA são, no fundo, apenas oportunistas políticos e, no seu oportunismo, não se detêm nem diante da deformação do marxismo... Se alterarmos as relações entre o proprietário da terra e o colono ou meeiro, com isto se altera todo um sistema de produção agrícola. Fora daí, o que há é impostura.

 

Quem menos acredita nessa Reforma Agrária do governo é o Sr. Luís Carlos Prestes. A melhor prova é que ele, diante do decreto da SUPRA, pede para a desapropriação só alcançar as propriedades acima de 500 hectares! Na Rússia, depois de matar milhões de kulaes, o estado deixa na mão de proprietários 3% das propriedades agrícolas e tanto basta para fornecer 50% da produção agrícola, segundo os dados fornecidos pelo próprio Kruchev. Na Suécia, ao fazer-se a Reforma Agrária, o Governo tratou logo de diminuir a população agrícola de 850 mil para 650 mil pessoas.

 

Um dos objetivos da Reforma Agrária é sempre essa diminuição. O que há aqui, entre nós, é muita fantasia, como essa história de cinturão verde. Há gente de boa-fé, há até discípulos de Jean-Jacques Rousseau, pregando a volta à natureza... E há muito pernosticismo, muito subdesenvolvimento cultural. Por isso mesmo se coloca a Reforma Agrária em termos puramente dema­gógicos, como é o caso desse decreto da SUPRA. As desapropriações podem ser feitas sem esse decreto. O que o decreto fez [ou não fez] foi limitar as desapro­priações a determinadas faixas de terra, mais nada. Di­minuiu, restringiu os poderes do Executivo.

 

O Partido Comunista tem Razões
Para não Querer Reformas

 

O principal serro do desenvolvimento econômico “marca Juscelino”, baseado somente na emissão de dinheiro, é que desprezou a poupança nacional. Em consequência, a poupança nacional, que já é considerável, fugiu para setores especulativos, tentando montar todo um mecanismo de defesa contra os efeitos da inflação. O “desenvolvimentismo” desacreditou o crédito público. Os investimentos que poderiam ter sido cobertos em grande parte pela poupança privada tiveram de ser cobertos exclusivamente, ou quase exclusivamente, por recursos do próprio estado, em parcela muito inferior à receita dos impostos.

 

Em matéria de capital, prefiro estar com aquela velha máxima de Marx, que o capital não tem Pátria. O que importa é usá-lo, esteja onde estiver, em benefício de nossa Pátria. Não me interessa saber se o capital é alemão, se é isto ou aquilo. O que me interessa é obrigá-lo a produzir em favor do Brasil.

 

Não há dúvida de que devemos adotar um estatuto para o capital estrangeiro. Não há inconveniente, antes pelo contrário, em regular o fluxo de juros para fora. O capital estrangeiro só entra nos Países de onde sabe que pode sair. Você bota dinheiro num banco sabendo que, depois, você não pode retirá-lo? Mas se o banco tem liquidez, então você bota cada vez mais dinheiro nele. A ideia de considerar o capital como tendo Pátria é profundamente reacionária, tipo nacionalismo fascista, tipo “Action Française”. O que desejo é buscar o dinheiro onde ele estiver, trazer para cá, para aplicação naquilo que for do interesse nacional, acomodando a volta dele ou de seus juros de acordo com as nossas conveniências. Só rende juros o capital que aqui produz riqueza.

 

Quem é que se lembra hoje como se chamavam a Estrada de Ferro Sorocabana, a Paulista, a Mogiana? No entanto, foram estrangeiras, concessões, e ninguém mais se lembra, são brasileiras. Quem é que se lembra daquele Lorde inglês que teve uma concessão de terras no Noroeste do Paraná? Fez um mau negócio, por sinal, dividiu a terra e um grupo brasileiro é que concluiu o trabalho, desbravando toda aquela região. O que há, portanto, é que o governo Goulart não quer reformas. O Partido Comunista tem uma boa razão para não desejar reformas. Ele acredita que pode promover o bem da nação e da humanidade quando estiver no poder, quando estiver com o controle total do poder. Então implantará a ditadura do partido único, para assim chegar à felicidade geral. Ora, as reformas viriam retar­dar e até impedir o advento desse domínio comunista, com o controle total do poder. Logo, se o PC apoia as reformas que o governo está propondo é porque elas abrem caminho aos comunistas, na medida em que não são feitas, ou que são malfeitas.

 

Há quem diga que é preciso combater a miséria para combater o comunismo. De acordo. Mas há aí uma impostura, um contrassenso. A verdade é que o Partido Comunista tem de ser combatido como um dos meios de combater a miséria, uma vez que ele, enquanto não estiver no poder totalmente, é interessado na miséria, é sócio dela. Ele faz tudo a seu alcance para agravar a miséria, para torná-la irremediável. Os comunistas capitalizam com a miséria. No Brasil, temos um governo que repele o diálogo com os democratas e estabelece o diálogo com os comunistas. Na verdade, não quer o diálogo, porque começa por dialogar com quem faz de monólogo o seu principal instrumento de ação. O que propus aos demais candidatos foi uma forma de diálogo. Um entendimento para a defesa das instituições e das eleições. Não menosprezo a força do Governo Federal, a força do Dr. João Goulart, porque sei que o governo no Brasil é forte. Até o meu governo estadual é forte. (Continua...)

 

 

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)

E-mail: [email protected].

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