Sexta-feira, 1 de novembro de 2024 - 11h24
Agricultores familiares
de Rondônia estão se unindo para regularização ambiental de suas propriedades e
ao mesmo tempo proteger suas fontes de água por meio da recomposição da
vegetação. Laércio Roque de Souza Almeida, agricultor de Santa Luzia D’Oeste,
faz parte do grupo de mais de 200 beneficiários que já receberam materiais de
isolamento para cercar e proteger as áreas de recuperação. Segundo Laércio, a
recomposição da vegetação ao redor dos rios ajudará a combater os impactos da
seca, agravada a cada ano. “A água é tudo, né? Se você tem criação de gado,
precisa da água para ela. Se não tiver água, não tem nada”, explica. Motivado
pela urgência de preservar as fontes hídricas, ele se uniu a outros
agricultores no compromisso de recompor áreas sensíveis, principalmente ao
redor de nascentes e córregos.
Somente entre setembro e outubro de 2024, foram distribuídos aos agricultores
até então cadastrados no projeto cerca de 2 mil mourões, 22 mil palanques, 630
rolos de arame e quase 4 mil catracas. A partir de novembro, 200 mil mudas e
mais de 8 toneladas de sementes serão plantados nas áreas isoladas,
impulsionando a recomposição vegetal e a proteção das margens dos cursos
d’água.
Marcos Antônio Souza, gerente de produção da Ecoporé, explica que o isolamento
dos fatores de degradação é crucial para prevenir a degradação causada pelo
pisoteio de animais e para estimular a regeneração natural com espécies
pioneiras. Além disso, as cercas e aceiros ajudam a reduzir o risco de
incêndios, protegendo e estimulando o crescimento da vegetação nativa nestes
locais.
A necessidade de proteger essas áreas é urgente, mas muitos agricultores sem
apoio de projetos como este, enfrentam dificuldades financeiras para adquirir
os materiais de isolamento. Roberto Lopes, também de Santa Luzia, havia isolado
partes de seu sítio antes do projeto, mas a madeira, de qualidade inferior, já
mostra sinais de deterioração. “Isolar tudo fica caro, e a madeira que eu
coloquei já está apodrecendo em alguns pontos. A gente fica preocupado, né?”,
desabafa Roberto. Apesar dos obstáculos, ele destaca a importância do esforço
coletivo. “A água é a maior riqueza. Eu torço para que outros agricultores
cuidem das nascentes e rios como eu faço. O nosso mundo seria outro se cada um
reflorestasse um pouco”.
Para esses agricultores, o apoio do projeto, que fornece materiais essenciais
sem custos, tem sido vital. A contrapartida exigida é a colaboração viável e o
engajamento de famílias no trabalho conjunto de restauração.
As circunstâncias financeiras, entretanto, não impedem Roberto Lopes de se
preocupar com as condições da floresta e do clima. Ele observa que os rios e
córregos estão mais fracos e, sem desanimar, incentiva que outros sejam parte
de uma corrente de transformação, pois a água “é uma maravilha, é a maior
riqueza”. Segundo Roberto, “o que eu tenho vontade é que muitos companheiros
que têm as suas nascentes, os seus rios, os seus correguinhos, tirassem uns 30,
40, 50 metros [para reflorestar]. O nosso mundo futuramente seria outro. Então
eu torço para que todos eles fizessem isso”.
ASL - Paisagens Sustentáveis da Amazônia
O Projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia, que tem parte de suas ações executadas em Rondônia pela Ecoporé, contratada pela Conservação Internacional do Brasil (CI-Brasil) a partir da demanda da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental (SEDAM), e em parceria Emater-RO, fornece insumos, materiais e assistência técnica para recompor até quatro hectares de áreas de preservação permanente (APP) e reservas legais (RL) em propriedades com até 4 módulos fiscais (240 hectares em Rondônia). Com recursos do Fundo Verde para o Clima e do Banco Mundial, a iniciativa apoia diretamente esses agricultores e contribui para regularidade ambiental e mitigação da crescente escassez de água. Até 2025 o projeto visa restaurar 500 hectares de áreas degradadas em propriedades de agricultura familiar cadastradas no sistema SICAR-RO, abrangendo treze municípios na região da BR-429 e Zona da Mata, incluindo Alta Floresta D’Oeste, Cacoal, Santa Luzia D’Oeste e São Miguel do Guaporé."
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