Porto Velho (RO) sábado, 5 de julho de 2025
opsfasdfas
×
Gente de Opinião

Opinião

OPINIÃO DO CIDADÃO: O RUGIDO DA QUARTA FROTA


 
Bruno Peron

Nenhum país, por mais fechado que seja, é capaz dentro da sensatez de ignorar a inserção internacional e os processos globais de articulação dos povos e das economias. A China e o Japão, respeitando os matizes, exemplificam sistemas que se abriram ao mundo e tornaram-se países poderosos. Os excessos de inspiração telúrica, porém, induzem à deformação da harmonia internacional em proveito de poucos países, que não escondem a ganância e a volúpia de tomar para si.

A Pangérica dispõe de mais de oitocentas bases militares em todo o mundo e demonstra que é capaz de mentir e invadir para estender seu domínio. O caso mais recente é a incriminação do Irã pela mera intenção de se defender. Pangérica, França e Israel, todos portadores de armas nucleares, têm criado a imagem de que o Irã vai enriquecer urânio a tantos por cento e seguir objetivos bélicos.

A manipulação toma tais proporções que, em parceria com a ignorância, passou-se a medir o nível de ameaça do Irã em função da percentagem de enriquecimento de urânio. Vi numa reportagem que o alerta aumentou porque o Irã decidiu enriquecer urânio a 80% em vez de 20%.

Deixando a questão iraniana para outra ocasião, uma das polêmicas mais recentes parte da reativação da Quarta Frota da Marinha de Guerra da Pangérica em julho de 2008. É um complexo de armamentos avançados e navios capazes de servir de base para o lançamento de armas nucleares que foi criado em 1943 no auge da Segunda Guerra e operou nas águas do Atlântico ao longo de América Latina e Caribe até 1950. A Pangérica come do fruto proibido, mas continua no paraíso.

Enquanto o militarismo é o recurso da Pangérica para exercer domínio mundial, os cafetões das grandes agências de notícias condenam a tentativa de o Irã se defender na mesma medida em que prepararam o terreno de enforcamento de Saddam Hussein, ex-presidente iraquiano. O exercício de reconhecer que não existe objetividade na imprensa é singelo.

A Pangérica, sedenta desde Washington e com sede mundial, divide o mundo em grandes regiões a fim de controlá-lo e vigiá-lo.

Para quem duvidava da existência de um governo global, até polícia telúrica já se criou nas fiscalizações de armas de destruição em massa no Iraque e Irã, invasão do Afeganistão com o pretexto de combate ao terrorismo, apoio à deposição do governo legítimo de Manuel Zelaya em Honduras, e envio de tropas ao Haiti, que precisa de auxílio médico. Os métodos de abordagem são variados: ajuda humanitária, treinamento de oficiais nativos e sustentação a operações de contra-insurgência.

O governo colombiano recebe apoio do estadunidense no combate ao narcotráfico.

A Quarta Frota reivindica que saia urgentemente um vencedor do embate entre o “bolivarianismo” e o “panamericanismo”. Ideais voltados à nossa natureza se chocam com a labareda do vizinho que trocou o porrete pelo poder da palavra e, quando necessário, das armas.

Governos progressistas e de orientação mais autônoma na América Latina resistem à Pangérica. A região abaixo do rio Grande volta a compor a mesa de debates da política externa do Norte devido à ascensão mais independente.

A reativação da Quarta Frota, que já esteve em exercício num momento de tensão mundial e resistência ao comunismo, comprova que a Pangérica está disposta a sustentar outra briga e movimentar a sua indústria bélica. O preço das armas é maior que o de vidas para as sentinelas da guerra. Vozes afirmam que a descoberta de petróleo na camada pré-sal do Brasil estimulam o apetite da Quarta Frota.

Ainda que se concentre em Brasil, Cuba, Venezuela, Equador e Bolívia, o rechaço aos ditames de Washington é cada vez maior. Projetos alternativos de desenvolvimento desde foros da Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA), Unição das Nações Sul-Americanas (UNASUL) e Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) desviam a América Latina do campo de influência de potências mundiais a ponto de que a estratégia tem que ser relançada ou repensada pelos “exterminadores do futuro”.

A criação da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos é mais um passo.

É lamentável que a reativação da Quarta Frota não tenha provocado qualquer reação fora da academia e alguns grupos institucionais e de opinião no Brasil. O avanço da democracia venezuelana e a estratégia de dissuasão do governo iraniano, em contrapartida, são temas covardemente tergiversados pelas agências gigolôs de notícias a serviço do mal maior.

Já se ouve o rugido da Quarta Frota.

Bruno Peron Loureiro é analista de América Latina e Relações Internacionais.

Gente de OpiniãoSábado, 5 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

 Hospital Municipal: quando teremos?

Hospital Municipal: quando teremos?

Faz tempo que essa promessa de novos hospitais públicos para Porto Velho está na fila de espera. Na condição de um dependente do Sus, desde que isso

Mais deputados para quê?

Mais deputados para quê?

Recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou o número de vagas no parlamento, passando de 513 para 531. Num país efetivamente sério mais representan

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Votação do IOF expôs fragilidade da base do governo Lula no Congresso

Quarta-feira (25), o Congresso impôs mais uma derrota ao governo do presidente Lula derrubando o Decreto que aumentava o IOF. O governo perdeu mais

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

Roubalheira no INSS -apenas mais um escândalo

O esquema que desviou bilhões de reais de contas de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) foi apenas mais um

Gente de Opinião Sábado, 5 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)