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Crônica

Xadrez


Xadrez - Gente de Opinião

        Vermelho é a puta que te pariu, eu sou azul, marinho, claro, escuro, médio, azul. Vermelho é o pai da rosa, não, do rosa! Vermelho é carmim, bordeaux, vermelho é sangue, grená, comunista! Vermelho e preto, misturados, vira roxo, mata minorias, se se une ao preto, meeengôoo, vivacor, viva a cor, viva o sabor de perder o campeonato, viva a dor de vencer. Liverpool! Em dia de jogo, xadrez é bicolor!

Viva você. Você é preto, preto não é cor, é conjunto, é minoria. Não sou preto, sou pardo, pardo não é cor, sou marrom, marrom dá azar, sou cinza, moreno, moreno não é cor. O que seria da cor se todos gostassem do visual incolor? Como com os olhos a fruta fresca amarela. Morango é stalinista. Eu acredito no branco, o branco acredita em mim, as crenças compartilhadas tem mais chances, num mundo desigual.

Amarelo é chinês, sou japonês, amarelo é sem tinta, fraco, sezão, amarelão, febril, Sucam, sou verde malárico, mas não sou casado, amarelo ouro quer se casar, verde não, floresta é solteira, amasiada com o vento e o clima, verde amarelo de meu Brasil varonil, camisa preta é fascista. Toda cor tem um pouco de preto, foi na África que tudo começou. Amarelo chinês amarela o conservadorismo direitista, esverdeado. Mao é mau, Tsé não é, Tung será.

Branco não tem cor, branquelo, pálido, sem cor, sem sangue, sem sentimento, sem parceiro, não o reconheço, sou preto USA, véi. De que vale ser preto sem branco, preto no branco, branco no preto. Xadrez! El Chapo joga xadrez no xadrez, cheque mate tiossantista. Branco manda, preto obedece ou não. O caos não sobrevive sozinho.

Xadrez é quadrado, preto e branco e vice-versa, no xadrez tem mais preto porque é África. Se fosse na China teria mais amarelo, na Noruega, mais branco, xadrez é jogo de cor, jogo de poder, as brancas sempre começam, a rainha mata o rei, o peão dá cheque mate, peão anda em bando, pra frente, não retrocede, bispo,  na diagonal, manda tanto quanto um cavalo em ele. A inércia da torre vai longe, enxerga os horizontes. No xadrez das cores o patrão branco leva vantagem. Mate é chá, verde e preto, quem tem medo de vírus não compactua a bomba alheia. Quem solta bomba vai jogar xadrez na prisão, quiçá apareça um mate pra matar a saudade do lado de fora. Preto por dentro é igual, vermelho. A igualdade é má, todos nascemos maus, permanecemos maus e ao morrermos somos promovidos: - ele era tão bom!

Negro não importa na justiça mundial, black lives matter, talvez na Somália. Justiça é branquela, diz que não tem cor, mas avermelha, azula, amarela, empretece, esverdeia a capa dos códigos. Briguei enciumado ao te vê vestindo xadrez, fui parar no xilindró. O sol é quadrado no chão da cela metonímica do xadrez.

Xadrez em cores não discrimina, decora. Vários quadrados coloridos, postos no horizonte, expõem a existência. O tabuleiro da vida é polissêmico, lúdico, colorido e sujo, o jogo é jogado, a escolha é escolhida, a vida é vivida, na ordem do caos o ponto negro interfere no todo branco, sem vice-versa. Lutamos pela coerência que produz a paz, na incerteza.

O xadrez nunca será colorido com vidas humanas amontoadas numa cela. O humano não tem cor, tem sentimentos, mas originariamente é mau, precisa ser domado. Então, poderá aceitar o terrível fardo preconceituoso do mundo e encontrar a cor da alegria, a cor do jogo. Sendo assim, eu jogo, querendo menos, mas esperando mais. 

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