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Artigo: Se a moda pegar


 
Paulinho Rodrigues (*)

A XXVIII mostra de Quadrilhas (Juninas) e Bois-Bumbás do Arraial Flor do Maracujá edição 2009, foi coroada de pleno sucesso. O mundo viu e ouviu nossas mais sagradas manifestações do imaginário demo psicológico, no mais alto padrão, verdadeiro orgulho da nossa gente, que persistente, teimosa e abnegada, não mede esforços em explodir toda criatividade e emoção, para extravasar o que há de mais belo na quadra junina de Porto Velho, demonstrando sobremaneira (sem xenofobia), que os filhos de Rondônia, foram talhados no murmulhar e na força das cachoeiras do Madeira. O espetáculo plástico foi o melhor que os Grupos (Associações Folclóricas), já produziram. Nota Dez, e todo o nosso carinho e respeito. O lado negro da luz, ficou por conta da infração ao regulamento, e a não aplicação da medida normativa punitiva; deu azo a várias distorções, com interpretação dúbia, gerando preocupações para o equilíbrio futuro, no que tange ao que nos resta de tradição. Não somos contra o processo evolutivo, afinal, a demologia é dinâmica. Não podemos, é tentar copiar sem critério, gerando distorções. Nós mesmos, há mais de dez anos, fomos criticados ao insertarmos no nosso espetáculo “Tambores do Tracoá” e nas toadas, instrumentos de harmonia e de ritmos. Todavia, tal “inovação”, trouxe benefícios e todos os grupos, inclusive aqueles que criticavam, atualmente, usam do mesmo expediente. Nesse caso, não houve distorção ou prejuízo. Não houve exclusão de elementos ou personagens. As toadas no contexto do espetáculo, ganharam plasticidade e audição, agregando qualidade poética, performance rítmica, poética, melódica e harmônica, distribuindo renda com a contratação de músicos etc. Houve um período recente, em que os Amos em pleno Flor do Maracujá, entoavam na íntegra (letra e música), as toadas de Parintins, hoje fato raro, pois já observamos os cantadores entoando composições próprias. Além da importação de vocábulos exclusivos de lá, no processo evolutivo, “migraram” para o nosso curral (hoje também chamado de Arena), as personagens Sinhazinha da Fazenda, Rainha da Batucada, Cunhã Poranga, Rainha do Folclore, Pajé, Apresentador, Marujada de Guerra, Tripa (ao invés de Miolo) e Levantador (Amo). No contra fluxo do “banzeiro cultural”, simplesmente, sem nenhuma explicação plausível, o TUXAUA (Morubixaba e Diretor político da Tribo, e, na brincadeira de Boi-Bumbá, o Diretor da Barreira de Índios), foi e x c l u í d o. “Ocupam seu lugar”, a Cunhã Poranga e o Pajé, este, Curandeiro, que na Ilha, ressuscita o Boi. Aqui, no auto folclórico, e, seguindo a esteira sábia do brilhante e inesquecível Câmara Cascudo, tenho que registrar que o responsável pela ressurreição do Boi, é o Dr. Da Vida. No contexto do Auto Boi-Bumbá, o Dr. Da Vida, auxiliado pelos Mascarados (mascarado é aquele que usa a máscara para disfarçar-se), é o responsável pela ressurreição do Bumbá. Prá não dizer que não lembrei de “Zé de Nana”, fico a imaginar, que se os Mascarados do “Gigante Sagrado” do Bairro Areal, tivessem se apresentado no curral do Arraial Flor do Maracujá, desnudos de seus disfarces faciais (Máscaras), Da. Branca Brandão, sofreria uma “síncope cardíaca”. Todavia, forte como é, agüentaria o tranco. Nem todos os Presidentes de grupos folclóricos, poderiam suportar sem seqüelas, uma falha tosca como esta. Erro c r a s s o. O imponderável inexplicável, ficou por conta da justificativa oriunda da magnificente professora, de que “... o Regulamento não diz que o Mascarado tem que usar máscara...”. À respeitável professora, registro todo o reconhecimento e elegância face sua abnegação pela nossa cultura, mas, Mascarado sem máscara... Não é possível, é o fim da pico-de-jaca.... Mesmo usando do mais simples ao mais complexo raciocínio cognitivo, silogístico e lógico, à luz da razão, não é possível compreender tal disparate, que ao final penalizou o “Gigante Sagrado”. 

Ao Bumbá campeão/09 do Maracujá, pela ausência dos Mascarados, nenhuma penalidade; Ao Boi do Areal, avaliação rigorosa e castigo regulamentar (pela falta de um chapéu do personagem Rapaz), com a supressão de preciosos pontos, que ao final, pela omissão e incongruência dos Jurados (que acreditamos ser involuntária), rendeu ao Boi da Zona Sul, uma vitória recebida por seus brincantes sem festa e sem brilho... Pareciam não estar convencidos da vitória. Em tese, nos parece, faltou aos jurados, o necessário discernimento e competência para julgar. O Bumbá declarado campeão, dirigido pelo incansável professor Aluízio Guedes, a quem rendo homenagens, não tem absoluta culpa nos distorcidos critérios de julgamento, praticados pela Comissão Julgadora. A omissão, cria  p r e c e d e n t e s  e gera arrimo para futuros esquecimentos, colidindo com a orientação de “... como julgar a brincadeira de boi...”, critérios estes, constantes da cartilha distribuída pela Comissão Organizadora aos Julgadores. Os elementos comparativos, foram ignorados e no futuro, seguindo a justificativa da ilustre mestra, o Boi, poderá até se apresentar sem barra; o Dr. Cachaça sem sua garrafa de pinga; a Sinhazinha de vestido tubinho, sem o leque ou a sombrinha; o Padre sem batina, livro e cruz; a Rainha sem o estandarte; o Amo sem chapéu e manto; Barreira de Índios sem penacho, e, Bicho Folharal (que é só nosso), se apresentar com o corpo coberto de rendas e pedra aljofre, ao invés de folhas, se a obrigatoriedade da presença dos elementos comparativos não estiver expressamente digitado no Regulamento, como tentou justificar a nobre docente. 

É imperioso e inescusável registrar, que o enredo da brincadeira de Boi-Bumbá, contém a trilogia da existência e da fé humana: o nascimento, vida e ressurreição. Daí a inexplicável paixão e envolvimento de pessoas com o folk-lore, que encerra no seu bojo o estudo em busca do conhecimento, do conjunto de tradições, crenças, lendas, cantigas, casos e costumes de um povo ou região. A “brincadeira é séria” e cheia de nuanças e delicados detalhes, que esquecidos, podem apenas estilizar e recriar, aniquilando de vez nossas raízes. Com força moral austera, Da. Branca jamais aceitaria um prêmio conquistado sem a completa exposição dos elementos comparativos (item 3.1., constante do Regulamento), o que de certo, tiraria o brilho completo da vitória, e, por iniciativa própria, acreditamos, devolveria o prêmio se conquistado de maneira capenga. Se quisermos continuar usando a dição FOLCLORE, é preciso pesquisar e adquirir conhecimento, dando importância e fazendo cumprir as regras e critérios, entabulados no Regulamento que orienta o julgamento dos Grupos na nossa maior vitrine, o Arraial Flor do Maracujá, valorizando a cultura local, porque se a moda pega, seremos levados ao total aniquilamento do que nos resta de mais sagrado; o Tuxaua (Diretor da Barreira de Índios), é um exemplo recente de exclusão de personagem. 

Sobre a plasticidade e o espetáculo do Maracujá/09, nenhum reparo. Aplausos para todas as comunidades e grupos produtores de cultura (Quadrilhas Juninas e Bois-Bumbás). O nosso fantástico imaginário popular, rico em manifestações não pode ser tratado como “coisa” efêmera. Precisa ser preservado, nem que para isso, tenha que se julgar o tradicional, o estilizado e o recriado. 

Sem ufanismo ou xenofobia, se a moda pega, certamente perderemos a pluralidade e a busca pela nossa identidade cultural, dando lugar nas nossas rechans, somente a outras manifestações e centros de tradições.

(*) O Autor (Amo do Tracoá), é Produtor Cultural, Diretor de Produção, Compositor, Multi instrumentista, Líder da Banda Waku’mã, Pesquisador do Folclore e detentor dos Troféus “Amo Galêgo” e “Cabo Fumaça” do Arraial Flor do Maracujá”. 
 

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