Porto Velho (RO) quarta-feira, 9 de julho de 2025
opsfasdfas
×
Gente de Opinião

Meio Ambiente

O que podemos aprender com o caso Farra do Boi


 

Por Ricardo Voltolini, da Revista Idéia Socioambiental

O recente episódio de suspensão, por parte das três grandes redes de supermercados, da compra de carne de gado criado em áreas de desmatamento na Amazônia, reforça uma verdade antiga que qualquer mãe mais atenta conhece e pratica em seu dia-a-dia: no esforço de educar seus filhos, aplicando-lhes quando necessário castigos edificantes, o mais eficaz para a mudança de comportamento desejada é privá-los de algo que lhes seja muito importante, cobrando-os em seguida uma prova de que entenderam o recado e não cometerão o erro de novo. 

Clique e assista no Opinião TV vídeo sobre a investigação do MPF
O que podemos aprender com o caso Farra do Boi  - Gente de Opinião


No caso dos frigoríficos denunciados pelo Ministério Público Federal do Pará e pelo Greenpeace, o cancelamento dos pedidos de compra de carne representou um castigo duro, pontual, mas muito corretivo na medida em que atingiu exatamente o que é mais caro aos pecuaristas e empresários do setor, isto é, as suas receitas imediatas. Ao exigirem, com firmeza, a anexação às notas fiscais de documentos comprovando a origem e trânsito dos animais, Carrefour, Pão de Açúcar e Wal-Mart deram uma demonstração clara de compromisso com a conservação da Amazônia. Mais do que isso, mostraram a seus clientes e à sociedade, que as empresas podem fazer mais pela disseminação de práticas sustentáveis se, em vez de apenas olharem para dentro, estenderem suas preocupações socioambientais ao longo de toda a cadeia produtiva, identificando, alertando e educando fornecedores que extraem e produzem de forma incompatível com os melhores padrões de respeito às comunidades e ao meio ambiente.

Como era de se esperar, vendo seus interesses ameaçados, os frigoríficos reagiram indignados, alegaram um complô de ONGs e Ministério Público e dispararam, como mote de defesa, o fato de que não integram nenhuma lista de irregularidades nem do Ministério do Trabalho nem do Ibama. Em vão. A pressão dos compradores funcionou. Sem eco para seus argumentos, a Associação da Indústria Exportadora de Carne Bovina se viu obrigada a assumir o compromisso de rejeitar bois criados em áreas de desmatamento ilegal. Grandes frigoríficos como JBS, Marfrig e Bertin assinaram documento com o Wal-Mart em que se comprometem a apresentar, num prazo de 30 dias, o nome da consultoria que realizará auditoria independente garantindo a origem responsável dos produtos. Automaticamente, essas empresas fornecedoras terão no máximo 90 dias para encaminhar aos compradores os primeiros laudos. Vitória para o time dos conservadores da Amazônia. 

Clique e assista no Opinião TV  o alerta aos pecuaristas com  Léo Ladeia
O que podemos aprender com o caso Farra do Boi  - Gente de Opinião
Desse caso educativo, é possível extrair duas lições. A primeira é que pressão funciona sim, e muito bem, quando organizada, objetiva, firme e dirigida em torno de uma causa de evidente interesse da sociedade e do planeta. Aqui, por força do uso do termo nos bastidores da Câmara dos Deputados e do Senado, aprendemos a achar que lobby constitui uma ferramenta espúria. Não necessariamente ela é. O bom ou mau sé é o que a define. Na Europa, lobbies “do bem” orquestrados por grupos de pressão não têm dado vida fácil para empresas que prejudicam os interesses da sociedade. Logo, consistem em importante e eficaz ferramenta de controle social sobre os impactos ruins eventualmente provocados pelos negócios na vida dos indivíduos. Formados por organizações dos três setores, os grupos de pressão representam os interesses de consumidores cada vez mais exigentes e sociedades cada vez mais críticas quanto à atuação de empresas.

A segunda lição importante é que as empresas podem – e devem -- integrar esses grupos de pressão, usando, a seu favor, o mais poderoso instrumento de que dispõem: a livre escolha de critérios para comprar insumos, produtos e serviços. Historicamente, preço, qualidade e capacidade de entrega sempre foram os elementos nos quais as empresas se apoiaram para selecionar fornecedores. Ao adotarem critérios socioambientais específicos, como fizeram Wal-Mart, Pão de Açúcar e Carrefour, os compradores –e toda empresa é, em alguma medida -- podem gerar um círculo virtuoso de mudança rumo à sustentabilidade. Mais eficaz do que tentar convencer os fornecedores de que precisam ser sustentáveis, apenas com argumentos éticos, é pressioná-los a mudar utilizando as ferramentas econômicas. Os consumidores brasileiros estão crescentemente mais sensíveis para comprar de empresas cujos interesses se afinem com os da sociedade e do planeta. Quem apostar no contrário, vai enfrentar ventos fortes e turbulências nos próximos anos.

* Ricardo Voltolini é publisher da revista Ideia Socioambiental e diretor da consultoria Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade. ricardo@ideiasustentável.com.br.  http://www.ideaisustentavel.com.br  

Crédito da imagem: Rodrigo Baleia/ Greenpeace
Fonte: Envolverde/Revista Idéia Socioambiental

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 9 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

ESTIAGEM 2025: governo de RO abre inscrição para contratação de brigadistas

ESTIAGEM 2025: governo de RO abre inscrição para contratação de brigadistas

O governo de Rondônia abriu nesta segunda-feira (7), processo seletivo de contratação de brigadistas que irão reforçar a atuação do Corpo de Bombeir

Transição sustentável e os compromissos das empresas no enfrentamento às urgências climáticas são tema da semana do clima na Amazônia

Transição sustentável e os compromissos das empresas no enfrentamento às urgências climáticas são tema da semana do clima na Amazônia

De 14 a 18 de julho, Belém será o centro das discussões sobre o clima na Amazônia com a realização da I Semana do Clima na Amazônia. Este evento est

MPRO lança campanha de prevenção às queimadas em Rondônia

MPRO lança campanha de prevenção às queimadas em Rondônia

O Ministério Público de Rondônia (MPRO) lançou nesta terça-feira (1/7) uma campanha estadual de prevenção às queimadas. A iniciativa é do Grupo de A

Direito à saúde e ao meio ambiente leva MPRO a cobrar ações contra queimadas em Rondônia

Direito à saúde e ao meio ambiente leva MPRO a cobrar ações contra queimadas em Rondônia

O Ministério Público de Rondônia, por meio do Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente, Habitação, Urbanismo, Patrimônio Histórico, Cultural e Art

Gente de Opinião Quarta-feira, 9 de julho de 2025 | Porto Velho (RO)