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Meio Ambiente

DANIEL PANOBIANCO: Estiagem amazônica


A previsão climática do SIPAM enfocava ausência de estiagem marcante em Rondônia este ano. A imagem de agora, de rios secos e um número assustador de queimadas por todo o Estado dita que nem sempre uma previsão climática de fato se confirma, ainda mais quando julgam tamanha confiança em seus prognósticos.
Daniel Panobianco -
A realidade do clima rondoniense é preocupante a cada dia e contradiz qualquer prognóstico climático feito por centro de pesquisa local. No dia 18 de junho, o Centro Técnico Operacional (CTO) do SIPAM (Sistema de Proteção da Amazônia) de Porto Velho, reuniu certa quantidade de pessoas para ditar a população, o que os pesquisadores da instituição esperavam para o período de seca na Amazônia em 2007. De praxe, logo foi descartada a possibilidade de uma estiagem mais agravante na Amazônia, semelhante com a de 2005, da qual levou a região amazônica para capas de jornais do mundo todo ditando as influencias de El Niño na maior floresta do planeta Terra. Acontece que no evento de El Niño em 2005, a maior parte da Amazônia afetada pela seca pertenceu aos Estados do Amazonas e Pará, com a secura completa de grandes rios e o isolamento total de comunidades que margeiam as áreas alagadiças. Em Rondônia, a estiagem também foi sentida, mas sem danos marcantes como nos demais Estados.
Ainda no inicio do mês de maio, a baixa espontânea no nível das águas dos rios Madeira, Guaporé e Machado já dava uma síntese do que poderia de fato vir a ocorrer nos meses seguintes, considerados os mais cruciais no assunto estiagem em solo rondoniense. Diversas foram às notas publicadas na imprensa com imagens, dados de gráficos e mapas dos institutos de âmbito nacional mostrando que haveria sim certa preocupação, caso uma mudança radical na atmosfera não ocorresse. Pois bem, essa mudança, como já esperada, não ocorreu e a seca ganhou imagens impressionantes. O que a reunião do SIPAM em Porto Velho houvera descartado até então, já não tinha mais valia em diversas localidades do Estado, principalmente na região central, que desde o mês de janeiro só registra anomalias negativas de precipitação.
No inicio desta semana veio o susto, principalmente para quem acompanha o nível dos rios no Estado. O nível do rio Machado, em Ji-Paraná, que sempre oscila nesse período do ano entre 6 e 7 metros, na tarde desta segunda-feira marcou apenas 2,85 metros, a menor cota desde que as medições começaram a ser feitas pela equipe do Corpo de Bombeiros local. A dificuldade antes enfrentada por diversos pescadores em descer o rio à procura de sustento, agora se limita a uma pequena parcela, não mais distante que 2 km do centro da cidade. O agrupamento do Corpo de Bombeiros de Ji-Paraná está aconselhando que as pessoas não utilizem barcos e lanchas no Machado, pois a quantidade de pedras a mostra jamais foi vista antes. O rio mingua a um estreito canal d’ água em seu centro, visão esta provocada pela mais longa estiagem já registrada na região desde 1989. A última chuva significativa com acumulo de mais de 60 milímetros que caiu na região de Ji-Paraná foi no dia 23 de abril, logo no primeiro fenômeno da friagem de 2007. De la para cá, nada de chuva de grandes proporções. Antigamente, mesmo em período de estiagem amazônica, alguma pancada de chuva era registrada entre os meses de julho e agosto. Na atual realidade, nenhuma nuvem, quiçá de chuva se forma no céu de Rondônia.
Outro ponto que sofre com a seca intensa é a região do baixo Madeira em Porto Velho. A navegação de grande porte que faz o trajeto Porto Velho - Manaus está comprometida. Grandes bancos de areia se formaram ao longo do rio dificultando a navegação e trazendo sérios riscos de acidentes. O Madeira é conhecido por suas águas barrentas e o rio com as maiores corredeiras do mundo. Na época do inverno amazônico, a velocidade das águas chega a ser superior a 30 km/h arrastando troncos de árvores e qualquer outra embarcação de pequeno porte. Milhares de acidentes completam a história do Madeira em Rondônia. Na situação atual, o nível das águas marca apenas 4,65 metros, quando o normal seria de 8 metros.
A situação não é diferente na fronteira com a Bolívia. O nível dos rios Guaporé e Mamoré é alarmante. Estamos diante de um verdadeiro caos para a navegação e sobrevivência da população ribeirinha. A média do Mamoré, que nesse período varia entre 5 e 6,50 metros, hoje só marca 2,75 metros na região de Guajará-Mirim. A quantidade de pedras impede o tráfego de qualquer espécie de embarcação, seja ela de pequeno, médio ou grande porte. Em todas, as situações de risco de acidentes são elevadas.
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Para quem vê essa imagem de primeira passagem logo pensa em uma grande metrópole, mas não é. A intensa bruma da fumaça das queimadas esconde o sol e causa muito desconforto todos os dias em Rondônia. Na foto acima está a cidade de Porto Velho no último domingo, 19. (Foto: Eliane Viana/Noticia na Hora)
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Ar totalmente poluído na capital de Rondônia. Efeito das queimadas incontroláveis e imprevistas pelos centros de pesquisas locais. (Foto: Eliane Viana/Noticia na Hora)
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Essa é a imagem do perigo para a nagevação em Rondônia nessa época do ano. A intensa bruma formada a partir dos inúmeros focos de queimadas fecha o céu em todo o Estado. No rio Madeira em Porto Velho, a navegação fica totalmente comprometida, devido a total falta de visibilidade horizontal que todos os dias fica abaixo de 1000 metros nas primeiras horas do dia. (Foto: Eliane Viana/Noticia na Hora)
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Fogo por todos os cantos em Rondônia. A imagem acima mostra uma queimada com alta propagação de CO (Monóxido de Carbono) na atmosfera em Ariquemes, centro-norte do Estado. (Foto: Ariquemes On-line)
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A primeira imagem do rio Machado em Ji-Paraná é do dia 19 de maio desse ano. Como maio ainda é considerado um mês com volumes significativos de precipitação em Rondônia, a rápida redução no volume das águas do mesmo rio mostrava quão intensa seria a estiagem nos meses seguintes. Desde o ínicio alertava-se para uma forte estiagem em Rondônia, mas como a previsão do SIPAM só tinha por base dados computadorizados e não os da realidade nítida e real, ninguém considerou tal probabilidade alarmante de seca intensa no sul da Amazõnia. (Foto: Efraim Caetano)
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O mesmo local da primeira imagem registrada no dia 19 de maio agora é mostrada no dia 22 de julho. Note a drástica redução do volume das águas em uma região, considerada como uma das mais profundas do rio Machado em Ji-Paraná. (Foto: Efraim Caetano)
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A mesma imagem do rio Machado, com a ilha ao fundo é do dia 16 de agosto. Essa foto mostra a diferença com as outras duas imagens acima na mesma região. A seca espontânea é a mais intensa dos últimos anos na região central de Rondônia. (Foto: Efraim Caetano)
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Ponte sobre o rio Machado em Ji-Paraná. O menor nível alcançado dos últimos 10 anos. Na imagem acima, a água desceu a tal ponto, que as pilastras que sustentam a estrutura aparecem nitidamente. (Foto: Efraim Caetano)
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Por outro ângulo de visualização, as pilastras a mostra deixam claro como a secura do rio está intensa este ano. (Foto: Efraim Caetano)
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Uma imagem assustadora jamais vista nessa magnitude na região central de Rondônia. Para quem conhece o rio Machado há anos, poucas foram as vezes em que essa imagem tão marcante foi observada. O tráfego de barcos de Ji-Paraná até Machadinho d' Oeste está muito prejudicado devido a grande quantidade de pedras e bancos de areia formados com a longa estiagem que já dura 5 meses. (Foto: Efraim Caetano)
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Com base em todas as imagens reais que agora vemos fica uma pergunta: Por que há tanta falta de interesse e menosprezo dos centros de pesquisas locais para com a população amazônica? Falam tanto de seus estudos, seus serviços prestados a comunidade em geral, se ao final o que vemos é puro desleixo, pessoas sofrendo com as questões climáticas, vivendo em meio à miséria, a fome. Se simples medidas preventivas fossem tomadas antes de o fato realmente acontecer, será que hoje, na atual realidade em que se encontram as milhares de comunidades ribeirinhas de Rondônia, elas estariam passando por tamanha necessidade?
O governo federal enche a boca para ditar que os serviços de incentivo a pesquisa cientifica no Brasil anda de vento e polpa. São operações e mais operações das autoridades competentes dentro da floresta para coibir o desmatamento ilegal, o regime de escravidão e o tráfego internacional de drogas. Há quantos anos o governo diz a mesma ladainha e nada muda? Tantas siglas criadas para cuidar da região mais rica do planeta, mas que no final a junção das mesmas em nada tem efeito positivo para nós, população amazônica, que não precisa de dados computadorizados para tomar as devidas precauções quando uma catástrofe se anuncia. Que não esperamos o mandado final das autoridades de Brasília, que controlam pelo cabresto tais instituições de pesquisas na região Amazônica.
O exemplo mais simples, notório e verdadeiro está na ineficiência de controle do SIPAM e outra sigla conjugada, o SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia), que foram incapazes de detectar dentro do espaço aéreo brasileiro o transporte de cocaína trazida da Colômbia para o Brasil, passando pela área de monitoramento dessas instituições. O governo federal e seus ministros fantoches adoram aparecer na imprensa brasileira tentando “tapar o sol com a peneira” mostrando ações glorificadas de combate ao desmatamento, ao trabalho escravo e as pesquisas cientificas na Amazônia. Será que o restante da população brasileira, não a residente neste lugar, mas aquela que em tudo o que vê, ouve e lê acredita, será que o morador la do Rio Grande do Sul realmente acredita na eficiência do trabalho dos nossos governantes nesse local?
A realidade está ai a mostra para quem ainda tiver dúvidas ou simplesmente não acreditar que em pleno agosto de 2007 vivemos o caos do clima no sul da Amazônia. Rios secos, gente passando fome, pessoas escravizadas dentro das matas e fogo, muito fogo por todos os cantos. Vale a pena para quem ainda duvida destas cenas que convivemos no cotidiano, a comparação com dados numéricos, imagens de satélite ou simplesmente ler, ver e ouvir a horrenda preocupação dos nossos governantes, para com as pessoas dessa região. Ações que poderiam sim ter seu efeito benéfico, caso medidas inteligentes fossem tomadas e investimentos adequados fossem feitos. Mas como tudo no Brasil “se dá um jeito de resolver”, nada que um rico merchandising na imprensa possa reverter o inteligente pensamento da população local. A censura na pesquisa cientifica em Rondônia e no restante da Amazônia, é vexatória.
Dados: CPTEC/INPE – Amazônia.org – Corpo de Bombeiros – Delegacia Fluvial de Rondônia – Capitania dos Portos de Porto Velho – EMBRAPA – SEDAM
Fonte: De olho no tempo – Rondônia –
wwwdeolhonotempo.blogspot.com

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