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Gente de Opinião

Yêdda Pinheiro Borzacov

Cartão Postal


 

* Yêdda Pinheiro Borzacov

Por estes dias recebi um belo cartão postal que me foi enviado por uma pessoa da família, muito querida, que mora em Guajará-Mirim. Nele se estampa um enorme ipê amarelo, inteiramente florido, sob um céu limpidamente azul. Está plantado em frente à estação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, uma construção antiga, amarelada, com janelas amplas e uma varanda na parte térrea. Esta faz parte da História. As cores são fortes, quase naturais e eu tive a impressão de que olhava o original, não a cópia.

Peguei com carinho aquele cartão, li, muito comovida, a mensagem carinhosa e amiga que a pessoa escreveu e já ia guardá-lo, quando observei um detalhe curioso: sem nenhuma premeditada pretensão, mas com a inegável força de tudo aquilo que é autêntico, o cartão tem, apenas, as cores de nossa bandeira! Ali está no visual que me encantou, o branco, o azul, o verde e o amarelo! Nenhuma outra cor, apenas estas! Há muito tempo não via um retrato real, vivo e “autobiográfico”, se assim posso dizer, desta terra brasileira, tão amazônida, tão cabocla. Nele, de forma silenciosa, mas extremamente bonita, Guajará-Mirim – Rondônia chama a nossa atenção para aquilo que ela realmente é: um lugar de gente boa, amiga, com uma história comovente e, ao mesmo tempo pitoresca, e uma natureza cuidadosamente criada!

Isto, junto, é o Estado de Rondônia!

Quem teria tido a feliz ideia de um cartão assim? Quem teria visto Rondônia com os olhos que ela merece? Quem teria feito para Rondônia, uma apresentação de tal modo verdadeira?

Olhei atrás do cartão. Estava escrito embaixo:

“Prelazia de Guajará-Mirim”.

Parabéns, Prelazia! Parabéns, D. Geraldo Verdier, bispo emérito, parabéns mesmo!

Para mim em particular e de forma bem pessoal, o cartão tem um valor inestimável por razões bastante justas:

1.    A pessoa que me enviou é muito querida, se expressa de modo agradável e me honrou muito com suas palavras amigas.

2.    Eu sou apaixonada por flores e isto foi um regalo para os meus olhos e um presente para o meu coração.

3.    Vi o Estado de Rondônia como sempre quis ver e encontrei o tema para esta crônica.

Os ipês são meus velhos conhecidos, desde criança quando viajava de litorina na Madeira-Mamoré, meus olhos ficavam extasiados ao contemplá-los, os amarelos pintavam o verde da mata, e era fácil identificá-los de longe. Os roxos preferiam o frio da várzea e as margens dos rios. Lembro-me de uma histórica foto de nossa família debaixo de um ipê roxo, onde, em contraste com o tamanho da árvore, mais parecíamos pingos humanos!

Certa vez, quando a Madeira-Mamoré ainda funcionava, viajava, como sempre, de litorina, numa estrada com floresta dos dois lados, escura e impenetrável. De repente avistei, não muito longe dali, um flamboaiã vermelho, de flores graúdas, cor de sangue, algo tão maravilhoso que eu pensei estar sonhando! Mas... lá estava ele! Conheço bem os flamboaiãs e não me enganava! Existia mesmo, soberano, único, naquele imenso verde! Que visão fantástica! Ele podia ser visto pela altura da árvore que se sobressaía, mas não atingido, porque o acesso era impraticável naquela floresta cerrada!

Nunca me esqueci daquele momento! Perto dos ipês amarelos, brancos e roxos, o vermelho do flamboaiã se destacava. Lembrei-me então, que o ipê amarelo gosta de céu azul, muito sol, dias longos e cuja floração começa em fins de julho; o ipê branco, apreciador do calor, mas gosta também de chuva forte de vez em quando. Setembro, outubro é seu tempo de floração. E o ipê roxo que gosta de clima mais ameno.

Os três são de grande beleza, sendo que o amarelo e o roxo variam um pouco na coloração, mas o branco é branco mesmo. Alguém escreveu uma elegia aos ipês, classificando-os como uma “sinfonia humana” na seguinte ordem:

Ipê roxo: a infância.

Ipê amarelo: a juventude.

Ipê branco: a velhice.

O único que não tem variação é o branco. Realmente, não há como mudar ou esconder a velhice.

O ipê é a flor símbolo do Brasil.

Que outros cartões postais como este apareçam, que outras pessoas que os enviem e outras os recebam. Que desta maneira bonita, boa e verdadeira, se conheça a essência de uma Rondônia Cabocla!

* Yêdda Pinheiro Borzacov, da Academia de Letras de Rondônia, do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia, vice-presidente do Memorial Jorge Teixeira e colaboradora do site Gente de Opinião.

Cartão Postal - Gente de Opinião

Ipê amarelo em Guajará-Mirim. Foto: Google Imagem

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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