Segunda-feira, 20 de março de 2017 - 21h04
‘SEU’ CALIXTO – UM MODESTO TESTEMUNHO
Hugo Evangelista da Silva*
O“bar do CALIXTO” é resultado da determinação conjunta de seus proprietários, o Sr. Francisco Joaquim CALIXTO e sua esposa, a d. ROSA, que tendo comprado o terreno situado à esquina da Avenida Brasília com a Rua Jacy-Paraná – no ano de 1970 – conseguiram, com muito esforço, edificar o prédio onde funciona, hoje, o comércio que recebe o nome de seu proprietário.
Nascido na cidade de IGARAPÉ AÇÚ, no Estado do PARÁ, a 05.08.1934, “Seu” CALIXTO foi, contudo, criado na cidade potiguar de SÃO PEDRO – situada às margens do rio POTENGI – desde os dois anos de idade, para onde fora levado por seus pais, que, àquele instante, retornavam às suas origens e à sua cidade, depois de algumas experiências um tanto frustradas em terras paraenses.
Decidiu-se ele mesmo, tão logo alcançada sua maioridade, retornar às terras amazônicas, rumando em direção a PORTO VELHO aonde chegaria no dia 01.05.1954, no vigor de seus 19 anos de idade, a bordo do vapor SAPUCAIA. Ocupou-se, já de chegada, no serviço braçal vindo a trabalhar na construção do prédio da Usina de Luz da cidade, e, depois, na Usina de Borracha. Engajar-se-ia, tempos depois, nos serviços do extrativismo regional – como seringueiro – iniciando sua lide pelos seringais do rio Jacy-Paraná transferindo-se, mais tarde, para o rio Jamary, onde trabalhou no seringal de propriedade da família BENEVIDES – no período de 1956 a 1960 – quando,retornando a Capital, resolveu trabalhar como “marreteiro”, praticando a compra e venda de produtos de primeira necessidade – o arroz, o feijão, a farinha – para, pouco tempo depois, conhecer sua esposa, a d. ROSA, com quem se casou em 1962.
Otrabalho de “marreteiro”, a que se ocupou “Seu” CALIXTO logo às primeiras horas de seu retorno a Porto Velho – 1960 – deu-lhe a experiência necessária para perceber as reais possibilidades de melhores ganhos em sua atividade. Num de seus momentos de reflexão vislumbrou que, em razão da escassez da carne de gado, a venda de galinhas poderia render-lhes uns bons “trocados”. Foi então que, aproveitando-se de uma rara oportunidade, iniciou-se na venda de “frangos” quando passou a comprar as aves na cidade de Rondonópolis/MT para revendê-las por aqui, o que lhe proporcionou fabulosos lucros. Os ganhos auferidos foram utilizados por “Seu” CALIXTO e d. ROSA, após anos de muita economia, na compra de um terreno e, depois, na construção de uma modesta casa – que chamaram “casa de farinha” – aqui na Rua Jacy Paraná c/a Avenida Brasília, onde estabeleceu seu negócio e passou a residir a partir do ano de 1972.
No ano seguinte – 1973 – deu início à construção de um prédio comercial – concluído em 1975 – onde instalou sua “Taberna” – a CASA SÃO FRANCISCO – passando a explorá-la em conjunto com a venda das aves, vindo a ser, em pouco tempo, um dos maiores fornecedores de frangos da cidade, até quando se instalaram por aqui – representantes – as grandes empresas produtoras do sul do país: a Perdigão e a Sadia. Naqueles distantes anos “Seu” CALIXTO viu prosperar, também, a sua mercearia que passou a ser uma das mais importantes do bairro, atendendo a uma significativa parcela dos moradores locais, com vendas a vista e a prazo, funcionando até os anos finais da década de ’90, quando o comércio varejista local passou ao domínio dos grandes supermercados, e “seu” CALIXTO, já sexagenário, decidiu transferir o seu “negócio” ao filho caçula – o VAL – que optou por transformá-lo em bar, quando o espaço, então, passou a ser popularmente conhecido como o “bar do CALIXTO”.
Oespaço ocupado, hoje, pelo “bar do CALIXTO” já era bastante frequentado ao tempo em que ali ainda funcionava a Casa São Francisco. As razões que teriam contribuído para a convergência dos tantos moradores, em dias de finais de semana e feriados, parece-me ter sido – além de uma conjugação de tantas outras boas qualidades – a percepção empresarial do “seu” CALIXTO que, aproveitando-se do generoso espaço que ladeia a Rua Jacy Paraná, arborizou, em primeiro momento, a frente de seu comércio plantando algumas árvores frondosas e, depois, fazendo construir uma espaçosa calçada para o fim de melhor acomodar os seus tantos fregueses. Assim, tornadas aprazíveis as condições do ambiente, via-se achegarem em dias de descanso ou de ociosidade as “figuras” proeminentes do bairro para darem curso às acaloradas discussões.
Aminha frequência ao “bar do CALIXTO” iniciou-se ainda em tempos da Casa São Francisco – 1989 – por conta da construção do imóvel residencial que ocupei por muito tempo, edificado no terreno que comprei ao seu antigo proprietário – o velho Chico Simão – aqui na Rua Jacy Paraná. Nas visitas de verificação que fazia regularmente à obra adotei o hábito de convidar os operários ali ocupados a tomar um refrigerante, o que nos era servido ao balcão da mercearia do “seu” CALIXTO. Logo após passar a residir com minha família no imóvel recém-construído – tomado pela simpatia de seus proprietários – incorporei-me aos frequentadores do recinto para as conversas estéreis que ali tinham lugar e para ouvir as histórias nada críveis contadas pelos habitués do recinto. Foi assim que se iniciou a amizade entre mim e a família CALIXTO, o que nos autoriza um relacionamento por demais amistoso que cultivamos até os dias atuais.
O “bar do CALIXTO” ganharia projeção na mídia local, em tempos mais recentes, quando, um grupo de rapazes do bairro - à frente o Eudson, o Toninho Tavernard e o Eli Carlos – resolveram que era chegado o momento de se criar um bloco carnavalesco que acomodasse nossos foliões e convidados, escolhendo como ponto de referência e local de concentração, a já disputada calçada do “bar do CALIXTO”, que foi prontamente disponibilizada aos ensaios dos foliões. O grupo esbarrou logo às primeiras reuniões, entretanto, com uma difícil decisão: Qual o nome a ser dado ao “bloco”? Depois de alguns “considerando” prevaleceu o bom senso, que contou com a anuência do homenageado, restando resolvido o assunto. E, assim, nasceu o “Bloco CALIXTO & Cia.”, que se presta, também, a uma justa homenagem ao pioneiro que, alheio às tantas adversidades, edificou o alicerce da alegria em nosso reduto, transformando-o, ademais, numa verdadeira referência cultural de nossa cidade.
“Seu” CALIXTO nos deixou hoje, para a tristeza de sua família, dos que o conheceram, dos seus muitos amigos! Vá com Deus, meu mestre!!!
*Advogado, escritor e memorialista, conta histórias que viu ou ouviu sobre nosso estado, nossa cidade e do bairro em que nasceu e reside: o Santa Bárbara. e-mail: [email protected]
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