Porto Velho (RO) domingo, 19 de maio de 2024
opsfasdfas
×
Gente de Opinião

Dom Moacyr

Reino de justiça e paz!



             
     Encerrando o Ano Litúrgico com a Solenidade de Cristo, Rei do Universo, “alfa e ômega, princípio, fim” (Ap 22,13) e realização de toda humanidade, elevamos a Deus, neste Dia Nacional dos Leigos, ação de graças pela vocação e missão dos cristãos leigos, homens e mulheres de fé “que formam a imensa maioria do Povo de Deus e são a esperança da Igreja”.
 
     Como sujeitos eclesiais, participam ativamente da vida da Igreja, sendo testemunhas fiéis de Cristo Rei, cumprindo a missão no Mundo, como construtores do Reino (mensagem CNLB). Estão presentes e atuantes em nossas comunidades, na defesa e promoção da vida, através das pastorais, serviços, associações, movimentos, organizações. Anunciam o evangelho e vivem sua vocação missionária tornando-se fermento na massa e somando “com todos os cidadãos de boa vontade, na construção da cidadania para todos” (CNBB 107, 58).
 
     Cristo deixou claro que seu reinado é diferente dos reinados da terra, por isso cada cristão, “nesta novaetapa evangelizadora” (EG 17) vai percebendo “qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos são convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (EG 20).
 
     Celebrar a festa de Cristo Rei é revisitar a vida de Jesus, pois esta solenidade resume o mistério de Cristo, “primogênito dos mortos e dominador de todos os poderosos da terra”, ampliando o nosso olhar para o pleno cumprimento do Reino de Deus, “quando Deus for tudo em todos” (1Cor 15,28).
 
      Hoje, de todos os lugares do mundo, ecoa a nossa oração: Venha a nós o vosso reino de justiça, Senhor! A busca da verdadeira justiça e a coerência do amor levam inúmeros cristãos ao martírio, à morte semelhante à de Cristo. Na celebração de Cristo Rei tornamos presente, de algum modo, o sofrimento e a esperança de tantos povos e a memória de tantos irmãos mártires. Possa cada um de nós, nas horas mais difíceis da caminhada, dizer com Santo Agostinho: “Nós somos Cristo”.
 
     Paulo Apostolo convida-nos a fortalecer nossa fé na ressurreição (1Cor 15,20-26.28). Cristo Ressuscitado é a certeza de que o reinado de Deus alcança a humanidade inteira. Nascemos para a esperança, para a fé da herança incorruptível na ressurreição (Oração do dia). Como os primeiros cristãos que testemunhavam a fé do batismo recebido, devemos ser persistentes na oração, fieis à palavra e aos “ensinamentos dos apóstolos”, testemunhando a comunhão fraterna e a partilha solidária.
O profeta Ezequiel fala do reinado de Deus (Ez 34,11-12.15-17). É o reinado do Rei-Pastor, aquele que cuida de suas ovelhas, aquele que vê a dor do povo exilado e age em seu favor: cuida, recolhe, dá repouso, busca e reconduz quem está perdido. A soberania de Deus está no amor, seu pastoreio é para a felicidade de suas ovelhas. O Senhor é o meu pastor! Ele me guia por bons caminhos (Sl 22).
 
     O Evangelho de Mateus nos ajuda a entender o julgamento final(Mt 25,31-46). Jesus, rei do universo, age com justiça. Identifica-se com as pessoas excluídas. O amor concreto aos que sofrem é o caminho garantido de encontro com Deus e de salvação eterna. Somos chamados “a responder a Deus que nos ama e salva, reconhecendo-O nos outros e saindo de nós mesmos para procurar o bem de todos” (EG 39). Nesse Reino, a vida de todos é um bem valioso, principalmente a vida dos mais pobres, a quem são resguardadas a dignidade e a justiça.
 
     Ao reafirmar que “nenhum país prospera com corrupção”, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sua Nota “Brasil pós-eleições: compromissos e desafios”, divulgada no dia 20 de novembro, insiste na importância da participação da Igreja na Política como auxílio na construção de “uma sociedade justa e fraterna”.
 
Neste sentido, a nota também destaca a urgência da reforma política, como arma contra a corrupção, e o empenho de cada cristão na coleta de assinaturas para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular proposto pela Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas. À reforma política, entretanto, é necessário unir outras reformas igualmente urgentes como a tributária e a agrária. O Brasil não pode mais conviver com tanta omissão em relação a estas e outras matérias que lhe são vitais.
 
     A Campanha para a Evangelização, que estamos iniciando hoje e tem como lema “Cristo é nossa paz” (Ef 2,14), chega num momento oportuno, marcado por crises que exercem grande influência na vida de todos e contribuem para a ressentida ausência de paz difundida pela sociedade brasileira. O Papa Francisco nos diz que Cristo é a nossa paz, porque venceu o mundo e os conflitos pacificando-os pelo sangue da sua cruz (Cl 1,20).
 
     Precisamos enfrentar as crises e os conflitos com a força e a novidade do Evangelho. No contexto econômico, o ser humano é visto a partir do consumo e não na sua totalidade (EG 55). Este sistema de produção gera desigualdades, porta de entrada de inúmeros males sociais que atentam contra a dignidade humana. Este desrespeito traz consigo violência, sofrimento, dor e morte.
 
     A crise da família encontra suas raízes no individualismo, a outra face do pluralismo cultural globalizado (DAp 479). O problema se agrava ao considerarmos que as famílias não contam com políticas públicas adequadas e respeitadoras dos valores que devem estruturá-la (EG 66).
 
     Outra realidade geradora de conflitos e violência decorre da situação dos jovens em nossa sociedade. Além de sofrerem diretamente com a situação familiar, também sofrem com a pobreza, o despreparo para o mercado de trabalho, a ameaça das drogas e o extermínio que os atinge.
 
     A crise na democracia representativa dificulta a efetivação dos direitos e de convivência pacífica na nossa sociedade. A dimensão religiosa já convive com ataques à sua liberdade, aos cristãos em particular (EG 61); e surge uma espiritualidade que privilegia momentos religiosos, descompromissada com o outro, com a justiça social ou com a evangelização (EG 78).
 
     Estas crises expressam as ambiguidades e conflitos de nosso tempo e interferem no alcance da paz. Para Pe. Manfredo de Oliveira, o fundamento normativo deste mundo de paz é a dignidade de toda realidade e de modo supremo a dignidade do ser humano enquanto ser pessoal, inteligente e livre e enquanto tal portador de direitos inalienáveis decorrentes como exigências da constituição do seu ser. Não é uma massa arrastada por forças dominantes que pode ser o artífice deste mundo novo, mas uma nação toda construída pelos habitantes de um povo em paz, justiça e fraternidade agindo como cidadãos responsáveis pela configuração de sua vida coletiva.
 
     Nesta nossa reflexão, as palavras do papa Francisco são iluminadoras: “A política, tão desacreditada, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum” (EG 205). Ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos. Uma fé autêntica comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela (EG 183).
 
     Assim, a fé passa a ter valor existencial, com incidência na vida pessoal, comunitária e social. Todos devem procurar o Reino de Deus em primeiro lugar (Mt 6,33; EG 180), ser profetas da esperança cristã e apóstolos “d'Aquele que é, que era e que vem, o Onipotente” (Ap 1,4).
 
     A vida e a morte de Jesus elucidam o sentido da vida e a tornam fecunda para si e para outras pessoas, a exemplo de como foi a vida de Jesus para o mundo. Jesus salvou a todos por meio do seu Mistério Pascal, dom gratuito do Deus que salva (DAp 143).
 
     Advento está chegando; tempo forte carregado de sentido, que nos faz ter acesso àquilo que é mais humano em nós. Hora de alargar o coração e “lançar-se para frente”, como o apóstolo Paulo. Entramos na “intimidade da Igreja com Jesus” que “é uma intimidade itinerante”; fiéis “ao modelo do Mestre” somos chamados a “anunciar o Evangelho”. Com a “comunidade missionária”, devemos “encurtar as distâncias, assumir a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo, pois a alegria do Evangelho é para todos, não podemos excluir ninguém” (EG 23-25).
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 19 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Hoje reafirmamos a nossa fé na ressurreição de Cristo; somos uma Igreja Pascal. Na oração do Credo, proclamamos a ressurreição dos mortos e a vida ete

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

  A Igreja, convocada a fortalecer o povo de Deus na atual conjuntura, é chamada a estar ao lado daqueles “que perderam a esperança e a confiança no B

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

  Diante do aumento da violência agrária que atinge trabalhadores rurais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, defensores de di

Gente de Opinião Domingo, 19 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)