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Dom Moacyr

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi



Hoje reafirmamos a nossa fé na ressurreição de Cristo; somos uma Igreja Pascal. Na oração do Credo, proclamamos a ressurreição dos mortos e a vida eterna. As leituras bíblicas nos fazem compreender que a Páscoa é um novo dia para nossas famílias, nossas comunidades que seguem em frente, sinal da presença do Ressuscitado, através dos seus discípulos, os cristãos de todos os tempos.

Eis a nossa esperança: Jesus Cristo venceu a morte e vive para sempre. Precisamos superar a visão negativa da morte apenas como termo da peregrinação terrestre da pessoa humana, para abrir-se à realidade de quem caminha para a comunhão plena com o Deus da vida, que nos quer fazer para sempre felizes (L.M.Almeida).

A promessa da felicidade eterna deve ajudar-nos a assumir com ardor o compromisso cotidiano da fraternidade e a superar, com a graça divina, a violência e as injustiças.

A vitória de Cristo ressuscitado continua atuando na história e vencendo o mal com o bem. A celebração da Páscoa nos encoraja a testemunhar os valores do Reino: a confiança na misericórdia divina, o amor gratuito a todos, a luta pelos direitos humanos, o serviço aos necessitados e o perdão das ofensas. Somos artífices de uma nova era de compreensão, perdão, justiça e concórdia universal. Este é o sinal e anúncio da Páscoa definitiva.

Tudo isto nos ensinam as mulheres discípulas de Jesus. Elas estiveram de vigia naquela noite, juntamente com a Mãe. E Ela, a Virgem Mãe, ajudou-as a não perderem a fé nem a esperança. Deste modo, não ficaram prisioneiras do medo e da angústia, mas às primeiras luzes da aurora saíram, levando na mão os seus perfumes e com o coração perfumado de amor. Saíram e encontraram o sepulcro aberto. E entraram. Vigiaram, saíram e entraram no Mistério. Aprendamos com elas a vigiar com Deus e com Maria, nossa Mãe, para entrar no Mistério que nos faz passar da morte à vida (papa Francisco).

Na Sagrada Semana, caminhamos pela “estrada da humilhação de Jesus”, rumo à Páscoa, na certeza de que “a sua luz ilumina os momentos obscuros da nossa existência” (papa Francisco) e que estamos manifestando na nossa vida o que celebramos e o que recebemos mediante a fé (SC 10).

As cinco semanas da Quaresma prepararam os nossos corações pela oração, penitência e caridade. O Tríduo Pascal da Paixão-Morte, Sepultura e Ressurreição do Senhor fortaleceu ainda mais a nossa caminhada com Jesus Cristo em direção a Jerusalém, pois quando entramos na Semana Santa com a celebração do Domingo de Ramos, encontramos nesta jornada pessoas que também tomaram a decisão de acompanhá-lo, sabendo que a meta é a oferta que Ele faz de si mesmo na cruz, expressando sua disposição de amar até o fim.

Neste Ano do Laicato, nós Povo de Deus, formado pelos seguidores de Jesus, mulheres e homens renascidos em Cristo, filhos e filhas de Deus, vivenciamos como discípulos e aprendizes, durante o período quaresmal, a Campanha da Fraternidade com o tema: Fraternidade e superação da violência e o lema: “Vós todos sois irmãos” (Mt 23,8).

A Igreja, cada vez mais solidária e integrada na história do povo brasileiro e atenta aos seus clamores e lutas, diversidade e tradição, coloca-se neste ano a serviço para “Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”.

Constatamos que a ética que norteava as relações sociais está esquecida e a corrupção, morte e agressividade presentes nos gestos e nas palavras aumentam a crença em nossa incapacidade de vivermos como irmãos. Vivemos um período de desigualdades, repressão e exploração, na cidade e no campo.

Na Sexta-feira Santa, celebrando a Morte de Cristo mediante a Celebração da Palavra de Deus, preces, Adoração da Cruz, Comunhão, fomos chamados “a refazer nossos passos” e movê-los em direção às periferias, aos excluídos, abrindo os braços para promover a paz e procurando entender onde Deus nos espera” (Frei Secondin).

Ao reviver o processo que os homens movem contra Deus e a execução compartilhada deste ato supremo de injustiça que irá se reverter numa aliança de amor, participamos das dores e angústias dores assumidas por Jesus, dos perseguidos da história e de todos os que sofrem continuando esta Via-Sacra na vida de todos os dias. Nele se manifestam as dimensões da perversidade que trazemos sempre disfarçada, bem como “a largura, a altura e a profundidade do amor” de um Deus que, até este extremo, quis ser o Deus-conosco (M.Domergue). A Cruz não está imóvel no meio das turbulências do mundo (R.Cantalamessa), pois Cristo não veio para explicar as coisas, mas para mudar as pessoas.

A Vigília Pascal constitui o núcleo central de toda a Semana Santa. Na Liturgia da Vigília temos a Bênção do Fogo e do Círio Pascal, que simbolizam o Cristo Ressuscitado; a Liturgia da Palavra, com cinco leituras, que resumem a História da Salvação; a Liturgia Batismal: na Igreja Primitiva, o Batismo dos Catecúmenos Adultos se dava na Vigília Pascal, depois de longa preparação; a Liturgia Eucarística.

No Domingo da Páscoa, os cristãos são chamados a uma vida nova, que vence a morte, as dúvidas, os medos e os vazios da existência. A proclamação da fé cristã indica o resultado de viver como Jesus: alcançar a plenitude da vida e ser sinal de esperança para o mundo.

A ressurreição, como experiência, supõe o amor, a comunidade e o conhecimento das Escrituras. Estamos todos como o discípulo Pedro: em processo de busca e encontro do Ressuscitado. Somos todos como Madalena e o discípulo amado: cremos à medida que amamos e conduzimos outros a essa mesma experiência (VP/Pe. Danilo C. S. Lima).

Permaneçamos com os olhos fixos no Cristo Ressuscitado, que caminha com seu Povo, que não é conivente nem está a serviço de um sistema político e econômico que oprime os pobres.

Tornemos presente a Páscoa de Jesus, na certeza de que Ele está vivo e “quer ressurgir em tantos rostos que sepultaram a esperança, sepultaram os sonhos, sepultaram a dignidade”.

Feliz Páscoa a todos!

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