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Dom Moacyr

Paulo Apóstolo: conversão e comunidades


 
Estamos a caminho do maior encontro nacional das Comunidades Eclesiais de Base. Trata-se do 12º. Intereclesial das CEBs, a realizar-se em Porto Velho, de 21 a 25 de julho de 2009. Lembramos hoje o maior missionário de comunidades eclesiais urbanas. Aquele que nasceu na cidade de Tarso (At 21,39) da Cilícia (atual Território da Turquia e da Síria), numa família judaica e com cidadania romana. Que marcou, de forma decisiva, a história do Cristianismo, o Apóstolo que anunciou o Evangelho em todo o mundo antigo, sem nunca vacilar diante das dificuldades e torturas, da prisão ou a morte.
  
Paulo foi um rabino convertido na célebre "Visão de Damasco" (At 9,1-19;At 22,4-21;At 26,9-18). De vasta cultura (estudou também na Escola de Gamaliel em Jerusalém), escreveu treze Cartas do Novo Testamento a diferentes comunidades, ao longo de quase cinqüenta anos: Romanos, Gálatas, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios, Filipenses e Filemon; 1 e 2 Timóteo, Tito, Efésios, Colossenses.
  
O Ano Paulino que termina no dia 28 de junho de 2009 tem sido uma oportunidade para redescobrirmos Paulo Apóstolo, suas atividades e viagens; uma ocasião de releitura e estudo de suas epístolas; de reviver os primeiros tempos da Igreja; aprofundarmos seu rico ensinamento e meditarmos sua vigorosa espiritualidade de fé, esperança e caridade; revitalizar a nossa fé e atuação na Igreja à luz dos ensinamentos de S.Paulo; orar pela unidade de todos os cristãos em uma Igreja que seja verdadeiro Corpo Místico de Cristo.
  
Para Tiago Alberione o Apóstolo Paulo foi alguém que conseguiu viver a mensagem de Jesus Cristo na integralidade. Conforme o Fundador da Família Paulina, todos os amigos de São Paulo devem tê-lo por modelo e conhecer seu espírito. “Quanto mais lermos e aprofundarmos suas Cartas e sua vida, diz Alberione, tanto mais amaremos e nos adentraremos no verdadeiro caminho da santidade e no verdadeiro espírito do apostolado e da missão”.
 
Paulo é um judeu da Diáspora (judeus que por motivos como guerra, perseguição, necessidade financeira, se viram obrigados a deixar a Palestina e se estabeleceram em outras regiões, guardando as tradições judaicas) da cidade de Tarso (At 9,11;22,3) que, devido ao contato com o mundo helênico, adotou para si este nome que corresponde ao de Saulo no mundo dos hebreus. Não temos a data precisa do seu nascimento; no entanto, quando escreve a Filêmon (v.9), na segunda metade dos anos 50, diz-se velho. Pode-se estimar que tenha nascido entre os anos 5 e 15 d.C.
  
Quanto à sua família, sabemos que Paulo é hebreu, filho de hebreus, da tribo de Benjamim, e é um fariseu (Fl 3,5;Rm 11,1;At 23,6) que se distingue por um zeloso apego às tradições religiosas e éticas do judaísmo. Ele próprio atesta a sua fidelidade ao judaísmo (Gl 1,14;Fl 3,6). É preciso afirmar, no entanto, que, no tempo de Paulo, os fariseus não eram tidos como inimigos de Jesus ou perseguidores da Igreja como nos apresentam os evangelhos, mas, sim, eram admirados por todos por serem irrepreensíveis na observância das leis. Foi esta determinação diante das leis que levou Paulo a perseguir a Igreja de Jesus Cristo, pois, na sua visão, os cristãos eram infiéis a Deus. Embora não possamos justificar a prática de Paulo em perseguir as comunidades, no entanto, o seu zelo ajuda-nos a compreender o porquê dessa atitude. Não se trata de ver em Paulo uma pessoa má, e, sim, alguém convicto de que Deus necessitava ser defendido de qualquer maneira daqueles que tentassem confundir as pessoas ou profanar o nome de Deus. Segundo o padre José P.Teixeira de Jesus, coordenador diocesano de pastoral de Santo André, em sua palestra “São Paulo Apóstolo, discípulo missionário”, a experiência de Damasco foi decisiva em determinar a direção do pensamento de Paulo (At 9,1-19;22,6-16;26,12-18). A estrada de Damasco sugere o deserto, e, neste sentido, Paulo acabou realizando a mesma experiência que Moisés, Elias e Jesus: diante do deserto fazer a sua opção fundamental em favor de Deus e conseqüentemente da vida.
  
Certamente Paulo é ainda hoje o maior exemplo de missionário urbano. Animador e organizador das comunidades, ele procurava manter o vínculo através das cartas que escrevia. O Apóstolo não se furta em continuar caminhando com as comunidades em busca da fidelidade. Sofria com as Igrejas, alegrava-se com elas, apresentando-se como um verdadeiro pastor que tratava as Igrejas com amor e dedicação (1ªCo 4,14-15;2ªCo 2,4;11,2. 28-29;12.15;1ªTs. 2,7-8.11-12). A sua fidelidade a Cristo e o seu compromisso com as comunidades permitem-nos tê-lo como modelo de cristão e de discípulo missionário de Jesus Cristo.
   
Todas as comunidades fundadas por São Paulo aconteceram sempre no meio de contrastes e de dificuldades. Pe. Paolo Cugini escreve que o Apóstolo encontra a oposição externa ao povo judaico que não aceita a sua traição; e, ao mesmo tempo ele encontra a oposição interna da comunidade cristã que não aceita a sua pregação, pois a considera não autentica. Este sofrimento que Paulo vai enfrentar é colocado no começo da sua vocação (At 9,15-16).
    
Logo após sua conversão Paulo começa pregar a Palavra em Damasco e é perseguido (At 9,23-25). Sua vocação é ser apóstolo, mas é um apostolado pago a um preço caríssimo. Também a comunidade cristã, no começo, não confia muito nele. Em sua primeira viagem missionária narrada nos capítulos 13 e 14 dos Atos, ele funda, junto com Barnabé, as primeiras comunidades e em todas as cidades visitadas, ambos encontraram perseguições. “É preciso passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus” (At 14,22).
  
Paulo é atento e tem no coração cada pessoa da comunidade (1ª Ts 2, 1-12), transmitindo para cada uma a mesma vida de Deus manifestada uma vez por todas em Cristo.
  
Nas ruas de Damasco Jesus correu atrás de Paulo (Fl 3, 10-14).Daquele dia em diante foi Paulo que correu atrás de Jesus Cristo.
Em Mileto, Paulo faz um discurso de adeus aos chefes da Igreja de Éfeso (At 20,17-38). Estamos perto do fim de sua vida, na véspera do seu martírio. Ele manda chamar aqueles que estão guiando a comunidade. Isso quer dizer que estamos no momento da passagem entre a primeira e a segunda geração, ou seja, entre a geração que teve uma experiência ocular visível do Senhor e outra que não teve este tipo de experiência. Neste momento, os anciãos (presbíteros e coordenadores das comunidades) são entregues à Palavra. “Nós vos confiamos a Deus e à palavra de sua graça” (At 20,32).
  
Somos pastores de uma comunidade, mas não temos em nossas mãos toda a gestão da vida desta comunidade; podemos realizar alguma coisa, mas é infinitamente maior a tarefa de conduzir toda a comunidade. Por isso, depois de ter feito tudo o possível, é justo entregar esta comunidade nas mãos de Deus Pai. A mesma idéia se encontra na oração sacerdotal de Jesus (P.Cugini)

Com a mesma expressão de São Paulo em seu discurso, os Padres Sinodais confiaram os fiéis das comunidades espalhadas sobre a face da terra à Palavra divina que também é juízo, mas, sobretudo graça, que é cortante como uma espada, mas doce como um favo de mel. Ela é potente e gloriosa e nos guia na estrada da história com a mão de Jesus que vós como nós “amais com amor incorruptível” (Ef 6,24. Mensagem Final do Sínodo).
  
Tea Frigério, Missionária Xaveriana e assessora do Centro Bíblico do Pará, no Texto-Base do 12º. Intereclesial, ao apresentar uma leitura amazônica da Bíblia afirma que o intereclesial das CEBs de 2009, preparado e realizado no coração da Amazônia, é um momento histórico, estrela que nos guia, nos provoca a nos colocarmos a caminho como se colocaram a caminho os sábios que viram no céu a estrela, perceberam o novo despontando no antigo (Mt 2,2). Então silenciamos, aguçamos a vista, colocamos em alerta nossos ouvidos, abrimos nossas mentes, nosso coração para a Palavra de Deus que somos convidados a ouvir e a escrever a partir da Amazônia.

Fonte: PASTORAL DA COMUNICAÇÃO

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