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Dom Moacyr

Confissão e Solidariedade: fontes de paz


 

Neste tempo quaresmal percorremos com Cristo o itinerário da provação e da obediência filial ao Pai; a oração nos impulsiona a prática concreta de vida, ao testemunho e a contemplação do rosto das pessoas sofridas, vítimas da exclusão de nosso tempo e a evitar tudo o que é prejudicial à vida pessoal e à do próximo.

Este período mais intenso de espiritualidade quaresmal e de maior intimidade com Deus nos ajudam no processo de mudança interior e na vivência do jejum, da oração e da caridade e a nos preparemos para uma renovada Páscoa, libertando-nos das amarras interiores para impelir-nos à misericórdia e à reconciliação.

A obra da reconciliação realizada por Jesus tem como centro o mistério da cruz. O que realiza a reconciliação não é a cruz como mera expressão do sofrimento, da dor e da morte, mas como expressão maior do amor vivido, como expressão da obediência de Jesus. São Paulo nos ensina: “Se pela desobediência de um só homem o mal entrou no mundo, tanto mais pela obediência de um só homem, Jesus Cristo, a salvação chegou até nós” (Rm 5, 18-19).(TB 216)

Para que a Páscoa seja para todos os cristãos a festa da Vida, da alegria e do perdão, em todas as Paróquias, nesta semana, os sacerdotes atenderão as Confissões, a partir de terça-feira; iniciando sempre às 19h, em algumas, às 18 ou 19,30.

Quem acredita no amor de Deus percebe que o pecado é amor isolado sobre si mesmo, ingratidão de quem responde ao amor com a indiferença e a rejeição. Esta rejeição tem conseqüências não só em quem o vive, mas também em toda a sociedade, até produzir condicionamentos e entrelaçamentos de egoísmos e de violências que se constituem em autênticas “estruturas de pecado”. Justamente por isto não se deve duvidar em sublinhar quão grande é a tragédia do pecado e como a perda de sentido do pecado - muito diferente dessa enfermidade da alma que chamados “sentimento de culpa” - debilita o coração diante do espetáculo do mal e das seduções de Satanás, o adversário que tenta nos separar de Deus.

Viver retamente, por amor e com amor, vale verdadeiramente a pena. Gostaria de repetir com Dom Bruno Forte que a razão profunda que me leva a pensar assim é a experiência da misericórdia de Deus que faço em mim mesmo e que vejo resplandecer em tantas pessoas humildes: é uma experiência que vivi muitas vezes, tanto dando o perdão como ministro da Igreja, como o recebendo. Há anos que me confesso com regularidade, várias vezes ao mês e com alegria de fazê-lo. A alegria nasce do sentir-me amado de modo novo por Deus, cada vez que seu perdão me alcança através do sacerdote que me dá em seu nome. É a alegria que vi sempre no rosto de quem vinha confessar-se: não o fútil sentido de alívio de quem se esvaziou (a confissão não é um desabafo psicológico nem um encontro consolador, ou não o é principalmente), mas a paz de sentir-se bem “dentro de si mesmo”, tocados no coração por um amor que cura, que vem de cima e nos transforma. Pedir com convicção o perdão, recebê-lo com gratidão e dá-lo com generosidade é fonte de uma paz impagável: por isso, é justo e é bonito confessar-se.

Lemos em S. Marcos 2 , 15-17 que Jesus estava sentado à mesa com os publicanos e pecadores, comendo e bebendo: esta atitude de Jesus é uma parábola viva e comovente, diz o exegeta Joaquim Jeremias, em um dos seus livros. Jesus quer que esses homens sintam que não são um caso perdido. Que são amados por Deus. Percebendo que era censurado pelos fariseus Jesus responde: não são os que tem saúde que precisam de medico, mas sim os doentes. Não vim chamar os justos, mas os pecadores. É o nosso caso. Precisamos reconhecer que somos pecadores. Só assim, temos a possibilidade de ser chamados, convertidos, partindo da nossa realidade concreta. Não existem situações imutáveis.

O que é o pecado? É uma situação de divisão interna, na qual descubro ser solidário com todos os homens. Pecado é o progresso em mim de uma mentalidade que me leva a arvorar-me em centro de tudo e só perceber as coisas enquanto se relacionam comigo. É o que me isola do amor, portanto da vida. Como a árvore cai do lado para onde pende, o meu coração, encontra o que deseja: desejo a mim ou a Cristo (Laplace). Acho esta descrição muito concreta. Vou ficando velho e percebo, que se eu não me cuidar, vivo como se o centro de tudo fosse eu. Acho que sei tudo. Só me interesso por aquilo que me toca.

Leiamos o capitulo 15, de S. Lucas. É o coração do evangelho. Deus se preocupa com o perdido. Deus vai em busca do perdido. Deus arrisca seu Filho pelo perdido, “mandarei meu filho amado”; é difamado pela causa dos perdidos, “é comilão e beberrão”; vai atrás da única ovelha que se perde, noventa e novo estão garantidas, mas ele se preocupa com uma só. “E há mais festa no céu por um pecador que se converte do que por noventa e nove justos”. Em João 6,39, Deus não quer que ninguém se perca: “esta é a vontade daquele que me enviou, que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu para que tenham a vida eterna”.

As práticas quaresmais devem nos preparar para o grande mistério da nossa salvação não somente como uma espera para celebrar a liturgia pascal com belos cânticos e riquíssimos ritos, próprios da celebração, mas como um contínuo configura-se a Cristo, de modo que possamos celebrar verdadeiramente a Páscoa.

Neste caminho quaresmal é Maria quem nos guia: “quando Jesus se dirigiu com decisão para Jerusalém para sofrer a paixão lhe seguiu com fé total”. É Maria que primeiro recebe o “vinho novo” preparado pelo Filho para as núpcias messiânicas (Mc 2, 22). É ela a primeira a receber aos pés da cruz essa graça, derramada pelo coração transpassado do Filho.

Percorrendo o caminho do Filho, Maria, aos pés da cruz, figura a Igreja, esposa fiel que ao contrário de Eva assume seu próprio destino recebendo o vinho novo, o sangue da “Nova e Eterna Aliança” (Hb 13, 20) e com isso gera os filho na fé, não mais para a mortalidade, mas para a imortalidade, para a santidade: meta de todo cristão que busca ser autêntico.

No próximo domingo, 05 de abril, iniciaremos a Semana Santa com a Benção dos Ramos e com a Coleta da Solidariedade.

A Campanha da Fraternidade se expressa concretamente pela oferta de doações em dinheiro na coleta da solidariedade. É um gesto concreto de fraternidade, partilha e solidariedade, feito em âmbito nacional, em todas as comunidades cristãs, paróquias e dioceses. A Coleta da Solidariedade é parte integrante da Campanha da Fraternidade.

Todas as pessoas das comunidades eclesiais são convidadas a organizar o gesto concreto de solidariedade durante o tempo forte da Campanha, que começou na quarta-feira de cinzas, 25 de fevereiro concluindo, até o Domingo de Ramos, que antecede à Páscoa.

A construção da paz e da sociedade segura somente será possível quando as pessoas viverem o mandamento do amor segundo o critério proposto por Jesus, que dá à palavra amor o seu mais profundo significado: o amor transformado em ação, em gesto concreto, esvaziamento de si, entrega, reconciliação, serviço, oblação, gratuidade.(TB 221)Tudo isso tem o agir de Jesus como modelo e paradigma, do qual o mistério pascal é a maior expressão.(TB 221)

Fonte: Pascom

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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