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Dom Moacyr

Combater a pobreza, construir a paz!


 
Este é o tema do 42º.Dia Mundial da Paz. Estamos encerrando 2008 e o Ano Novo está chegando cheio de desafios. A economia global aponta para uma crise acompanhada de violência e muito desemprego. O Brasil, apesar dos avanços na economia e desenvolvimento, continua sendo um dos países onde as desigualdades sociais continuam aumentando.

Com o tema Combater a pobreza, construir a Paz, o Papa Bento XVI quer sublinhar a necessidade de uma resposta urgente da família humana à grave questão da pobreza, entendida como problema material, moral e espiritual. Em sua mensagem no mês de junho à FAO o Papa denunciou o escândalo da pobreza no mundo: “Como se pode permanecer insensível aos apelos daqueles que, nos vários continentes, não conseguem alimentar-se suficientemente para viver? Pobreza e subalimentação não são uma mera fatalidade, provocada por situações ambientais adversas ou por desastrosas calamidades naturais… As considerações de índole técnica ou econômica não devem prevalecer sobre os deveres de justiça em relação a quantos sofrem de fome”.

Para o tema escolhido, o Vaticano explicou que “o escândalo da pobreza manifesta a insuficiência dos atuais sistemas de convivência humana na promoção da realização do bem comum. Isto torna necessária uma reflexão sobre as raízes profundas da pobreza material, e, portanto, também sobre a miséria espiritual que torna o homem indiferente aos sofrimentos do próximo”.

Segundo a Santa Sé, “a resposta deve procurar antes de tudo na conversão do coração do homem ao Deus da caridade, para conquistar assim a pobreza de espírito segundo a mensagem de salvação anunciada por Jesus no Sermão da Montanha:” Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus“.

Em sua mensagem o Papa destaca que a pobreza está entre os fatores que agravam os conflitos, inclusive os conflitos armados, que por sua vez, alimentam trágicas situações de pobreza. A globalização deve nos levar a olhar os pobres bem cientes da perspectiva que todos somos participantes de um único projeto divino: chamados a constituir uma única família, na qual todos, indivíduos, povos e nações, regulem o seu comportamento segundo os princípios de fraternidade e responsabilidade. Não restam dúvidas de que toda a forma de pobreza imposta tem, na sua raiz, a falta de respeito pela dignidade transcendente da pessoa humana. Quando o homem não é visto na integridade da sua vocação e não se respeitam as exigências duma verdadeira “ecologia humana”, desencadeiam-se também as dinâmicas perversas da pobreza, como é evidente em alguns âmbitos sobre os quais a Igreja nos convida a refletir nesse primeiro dia de 2009.

Na luta contra a pobreza material, aparece antes de tudo, a pobreza relacionada ao desenvolvimento demográfico. E como conseqüência, as campanhas de redução da natalidade e o extermínio de milhões de nascituros que, em nome da luta contra a pobreza, constituem na eliminação dos mais pobres dentre os seres humanos.

Em segundo lugar, as pandemias, como a malária, a tuberculose e a Aids, dentre outras, cuja erradicação depende de paises que condicionam a ajuda econômica à atuação de políticas contrárias à vida. E o terceiro âmbito na luta contra a pobreza material diz respeito à pobreza das crianças. Quando a pobreza atinge uma família, as crianças são as suas vítimas mais vulneráveis: atualmente quase metade dos que vivem em pobreza absoluta é constituída por crianças.

Do ponto de vista moral, o quarto ponto trata da relação existente entre desarmamento e progresso. Gera preocupação o atual nível global de recursos materiais e humanos empregados para as despesas militares e para os armamentos que são desviados dos projetos de desenvolvimento dos povos, especialmente dos mais pobres e necessitados de ajuda, contrariando a própria Carta das Nações Unidas.

O quinto âmbito é a crise alimentar que ameaça a satisfação das necessidades básicas, caracterizada pela dificuldade de acesso aos alimentos, pela evolução tecnológica, cujos benefícios se concentram na faixa superior da distribuição do rendimento, e por outro, os preços dos produtos industriais, que crescem muito mais rapidamente do que os preços dos produtos agrícolas e das matérias primas na posse dos países mais pobres.

Bento XVI afirma que para a solidariedade global é preciso um código ético comum, cujas normas estejam radicadas na lei natural inscrita pelo Criador na consciência de todo o ser humano (Rm 2, 14-15). A marginalização dos pobres da terra só pode encontrar válidos instrumentos de resgate na globalização, se cada homem se sentir pessoalmente atingido pelas injustiças existentes no mundo e pelas violações dos direitos humanos ligadas com elas.

A Igreja, “sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano”, continuará a dar a sua contribuição para que sejam superadas as injustiças e incompreensões e se chegue a construir um mundo mais pacífico e solidário. E aqui, o Papa faz um apelo para que todos os países tenham as mesmas possibilidades de acesso ao mercado mundial, evitando exclusões e marginalizações.

Em tempos de crise, o mercado financeiro deixa de apoiar a criação de novas oportunidades de produção e de trabalho a longo prazo e de sustentar no futuro a possibilidade de investimentos e desenvolvimento. A luta contra a pobreza requer uma cooperação nos planos econômico e jurídico que permita à comunidade internacional e especialmente aos países pobres atuarem soluções coordenadas para enfrentar os referidos problemas através da realização de um quadro jurídico eficaz para a economia. Além disso, requer estímulos para se criarem instituições eficientes e participativas, bem como apoios para lutar contra a criminalidade e promover uma cultura da legalidade. Colocar os pobres em primeiro lugar implica, finalmente, que se reserve espaço adequado para uma correta lógica econômica por parte dos agentes do mercado internacional, uma correta lógica política por parte dos agentes institucionais e uma correta lógica participativa capaz de valorizar a sociedade civil local e internacional.

O Papa conclui sua mensagem convidando-nos a alargar o coração às necessidades dos pobres e a fazer tudo o que for concretamente possível para ir em seu socorro. Afirma que a luta contra a pobreza precisa de homens e mulheres que vivam profundamente a fraternidade e sejam capazes de acompanhar pessoas, famílias e comunidades por percursos de autêntico progresso humano. Por si só, a globalização não consegue construir a paz; ela evidencia a urgência de ser orientada para um objetivo de profunda solidariedade que aponte para o bem de cada um e de todos e como uma ocasião propícia para realizar algo de importante na luta contra a pobreza e colocar à disposição da justiça e da paz recursos até agora impensáveis. Nesse sentido, são princípios da Doutrina social que tendem a esclarecer os vínculos entre pobreza e globalização e a orientar a ação para a construção da paz, o “amor preferencial pelos pobres” à luz do primado da caridade testemunhado por toda a tradição cristã a partir dos primórdios da Igreja (At 4, 32-37; 1 Cor 16, 1; 2 Cor 8-9; Gal 2, 10).

Nesta semana, comemorando a Sagrada Família, Jesus, Maria e José, peçamos para todos os lares a paz e que as famílias alcancem em 2009, maior compreensão e sinceridade no amor, na vida conjugal e familiar.

Lembremos que o empenho coletivo pela paz é indispensável, mas não bastam as forças humanas. Temos que recorrer a Deus, pois só Ele nos ajudará a vencer o ódio, a inveja, os ressentimentos e a abrir o coração ao perdão, à concórdia e ao esforço de “combater a pobreza é construir a paz”.
 
Fonte: PASTORAL DA COMUNICAÇÃO

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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