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Dom Moacyr

CEBs: Ouçamos o grito que vem da Amazônia!



Nossas comunidades, aqui na Amazônia, nasceram, na sua grande maioria, nas matas, perto de rios ou lagos. E, as mais recentes, nas linhas, ramais, travessões com seus problemas de desmatamento, projetos alternativos, grilagem despudorada, falta ou conivência das autoridades, reservas indígenas etc. Quase tudo ligado à ecologia física e humana, na expressão de João Paulo II. Nossas comunidades, comunidades essencialmente de fé, de Igreja, foram levadas e até incentivadas e enfrentar todos estes desafios, a partir da fé e com armas da fé: evangelho, oração, união e também, é claro, organização popular, sindical e, mais tarde, política, Tiveram que aprender, na prática, a “ser espertas como serpentes e simples como pombinhas” (Mt 10, 16) ...e, mesmo assim, quantas vidas foram ceifadas (DA 178), verdadeiros mártires. Não sei se vocês sabem, mas o Chico Mendes foi membro das primeiras CEBs de Xapuri e Ivair Higino, irmão do Pe. Geraldo Siqueira de Almeida (pároco da Paróquia Nossa Senhora do Rosário), era animador de dois grupos de evangelização, e foi morto cantando : “Põe a semente na terra...”. “O gemido das criaturas”, a que alude o Apóstolo Paulo (Rom 8, 22), hoje parece verificar-se numa perspectiva invertida, porque se trata, não já duma tensão escatológica na expectativa da revelação dos filhos de Deus (Rom.8, 19), mas dum espasmo de morte que tende a agarrar o próprio homem para o destruir”(PG 70).

Apresento agora algumas pistas que me orientaram no meu (nosso) trabalho pastoral (37 anos de Bispo), principalmente em relação às CEBs, mesmo urbanas. Talvez possam servir para outros:

Diocese: “É a porção do povo de Deus confiada a um Bispo para que a pastoreie em colaboração com os presbíteros. Assim, esta porção, aderindo ao seu pastor e por ele congregada no Espírito Santo, mediante o Evangelho e a Eucaristia, constitui uma igreja particular. Nela verdadeiramente reside e opera a Una, Santa, Católica e Apostólica Igreja” (CD 11).
  
Paróquia: “Comunidade confiada a um pastor local, que a governe, fazendo as vezes do Bispo” (SC 42).
  
Comunidade Eclesial de Base: Elas se inspiram na experiência das comunidades dos Atos (2,42ss. e 4,32ss) Medellín reconheceu nelas a célula inicial de estruturação eclesial e foco de fé e evangelização (DA 178): “A comunidade cristã de base é, assim, o primeiro e fundamental núcleo eclesial, que deve, em seu próprio nível, responsabilizar-se pela riqueza e expansão de fé, como também do culto que é sua expressão. Ela é, pois célula inicial da estrutura da eclesial e foco de evangelização e, atualmente, fator primordial da promoção humana e do desenvolvimento” (Medellín 15 III.1). “É de base, por ser constituída de poucos membros, em forma permanente e à guisa de célula da grande comunidade” (Puebla 241; 643 e 648).

Aspectos estruturais das CEBs: FÉ: Valorização da Palavra de Deus e amor apaixonado pelo revelador desta Palavra, Jesus (DA 146). Importância da leitura do Evangelho, da participação na Eucaristia, da oração pessoal, do amor ao pobre, etc.(DA 243-257). SACRAMENTOS: Além dos sacramentos, oração litúrgica e não litúrgica, oração familiar, pessoal e silenciosa. COMUNHÃO: União, partilha, serviço, valorização dos leigos e seus conselhos, abertura e valorização dos pobres, uma busca contínua de trabalho em conjunto. MISSÃO: Anúncio e abertura para o mundo, como no campo da justiça, da política, da cultura e, especialmente para nós, a ecologia física e ecologia humana(PG 70).

Novo modo de ser Igreja: esse foi aplicado, num primeiro momento, às CEBs, mas hoje é e deve ser patrimônio de todas as expressões autênticas de Igreja. Alguns traços desse “novo modo” são os seguintes:

1. Que na comunidade o pobre se sinta em casa e seja valorizado nos ministérios.

2. Lembrar, como disse Bento XVI, que “a vida cristã não se expressa somente nas virtudes pessoais, mas também nas virtudes sociais e políticas” (DA:Discurso de abertura da V Conferência em Aparecida,3).
3. Dar grande importância às Celebrações Dominicais da Palavra (DA 253; Diretrizes 72). E seu valor é tornar presente o Mistério Pascal, centro da nossa fé.

4. A opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica, naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza (2ªCor 8-9), como ensinou Bento XVI em seu Discurso Inaugural da Conferência de Aparecida (nº 3).

5. Promover os Círculos Bíblicos e seu método: “olho na Palavra, olho na vida”. “Temos de voltar a aprender que a Bíblia diz alguma coisa a cada um e que é oferecida precisamente aos simples. Nesse caso, dou razão a um movimento que surgiu no seio da Teologia da Libertação, que fala da interpretação popular. De acordo com essa interpretação, o povo é o verdadeiro proprietário da Bíblia e, por isso, o seu verdadeiro intérprete. A teologia...não pode obscurecer a suprema simplicidade da fé que nos põe simplesmente diante de um Deus que se tornou próximo de mim ao fazer-se Homem”(Cardeal Ratzinger, in 12º Enc.Nacional dos Presbíteros).

6. Dar valor à piedade popular (DA 258). Recomendo a leitura do Documento de Santarém e do Documento nº 25 da CNBB: “Comunidades Eclesiais de Base no Brasil”.

7. Lembrar da proposta: “a Paróquia, comunidade de comunidades” conform documento de Aparecida, nos. 170 a 180.
  
8. Hoje, de maneira especial, pede-se ao Bispo testemunho evangélico pessoal, maior aproximação dos sacerdotes e do povo. Sem nenhuma dúvida, atualmente há mais simplicidade e pobreza na forma de vida dos bispos (Puebla, 116).

É bom também lembrar que as pastorais estão a serviço de todas as comunidades sob a coordenação do Pároco e seus conselhos... A Paróquia é o conjunto das comunidades e não só a Matriz. O Padre e seus conselhos coordenam todas as comunidades e sempre sob sua orientação, acompanham como pastores e principais responsáveis da Paróquia todos os movimentos aprovados e aceitos pela diocese. Os movimentos são ou podem ser uma graça especial para a Paróquia, com membros vivos, verdadeiro fermento evangélico para a comunidade, porém sem ser substitutos das Comunidades e impedir sua organização. Também o Encontro de Casais com Cristo, ótimo para suscitar e formar verdadeiros cristãos, que pode atuar diretamente nas atividades da paróquia e no vasto mundo da cultura, da política, do trabalho como testemunhas de vida cristã no meio do mundo. Deve-se reconhecer que também as associações religiosas leigas têm o seu lugar na Paróquia. Quanto aos religiosos e religiosas, além de seu lugar bem definido na Igreja, é bom acentuar a importância das “Comunidades Inseridas”. Só Deus sabe o bem que fazem nas CEBs!

Alguns indicadores para distinguir a Comunidade Eclesial de Base de outras comunidades como conventos, “comunidades de vida” de movimentos como Shalon e outros, e as capelas tradicionais:

1) Celebração Semanal da Palavra aberta a todos quando não há padres.

2) Celebração da Eucaristia, dentro de um ritmo certo e segundo as possibilidades da Diocese.  Alguns falam até de, pelo menos, uma vez por ano. Acho pouco demais.

3) Ter um círculo bíblico, grupo de reflexão ou equivalente.

4) Ter uma equipe de animação e/ou uma pessoa responsável.

Fonte: PASTORAL DA COMUNICAÇÃO

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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